O MURO DAS FORNICAÇÕES

Eita muro famoso de Otávio Bonfim!
Vamos dar as suas coordenadas: fica no penúltimo quarteirão da rua Domingos Olímpio. Alto e impávido, o muro é uma testemunha auricular de muitas histórias do bairro.
No lado oposto, aqui se considerando o sentido crescente da numeração da rua, ficavam a casa da família do Sr. Jaime Cavalcante, o portão de entrada de uma oficina de conserto de caldeiras, as casas das famílias do Sr. Oscar e da Vovó Almerinda, o ponto de venda de utensílios de barro e de fogos de artifício do Dão, a casa da família do Sr. Pedro "Oião" e a bodega do genro deste, o"Seu" Edmundo. Destes imóveis, a casa do Sr. Jaime e a bodega do "Seu" Edmundo" tinham suas frentes para as ruas Justiniano de Serpa e Dom Jerônimo, respectivamente.
Eu podia ter simplificado a descrição de sua localização, apenas dizendo que é o muro dos fundos do Convento dos Frades Franciscanos. Mas, puxa, foi uma boa oportunidade para me lembrar de algumas pessoas do bairro, à época de minha juventude.
São muitas lembranças...
O Sr. Jaime, que comprou um dos primeiros televisores do bairro, e de quem fui um bem-comportado "televizinho". De seus filhos, fui amigo principalmente do Jairo Cavalcante, que fazia Direito, lia Pitigrilli e sabia de cor o repertório do Augusto Calheiros. Fizemos serestas. Hoje, ele é dono de uma grande imobiliária em Fortaleza.
A oficina metalúrgica, como eu disse, era representada pelo portão de entrada. Jamais devassei o seu interior e vinha de lá muito barulho.
A casa do Seu Oscar e Dona Edina e a da Vovó Almerinda, eram geminadas e de propriedade do meu tio-avô José Gurgel, um dos donos da Siqueira Gurgel. E Detinha, Tarcísio, Zé Antônio e Helena eram os filhos do citado casal.
Na casa de número 2.209, moravam Vovó Almerinda e Tia Elza. Criavam um vira-latas de cor branca que atendia pelo nome "Black" e que não manjava de ironias. No quintal, que era muito maior do que a casa, havia cajazeira, pitombeira, goiabeira, ateira... Ao anoitecer, a gente assistia à fuga subida das galinhas. Por uma escada tosca, elas alcançavam os galhos mais altos de uma das árvores do quintal, onde se empoleiravam para dormir. Uma árvore que secou de tanto receber os dejetos noturnos das galinhas.
Ah, o minúsculo ponto comercial do magérrimo Dão. Uma vez abriu, digo, fechou só para ocultar o primeiro pileque de um grupo de adolescentes. Sei disso porque eu estava lá. À voz miúda, Dão era acusado de enviar cartões "bostais" para o quintal da Vovó.
Quanto ao Pedro "Oião", não era nenhum Adônis. E sua família havia pedido aos franciscanos frades para cortar as cenas em que aparecesse algum ogro na tela do Cine Familiar.
Na mercearia do "Seu" Edmundo o freguês tanto podia jogar no bicho quanto "matar o bicho".
Agora, falar, falar no duro sobre as fornicações que aconteciam no muro acabou ficando para outra oportunidade.

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