O MANIFESTO DO GRUPO SIRIARÁ DE LITERATURA

O Grupo Siriará de Literatura, que eclodiu no final da década de 1970, além de um manifesto e de uma revista que morreu com o primeiro número, não deixou uma contribuição significativa, enquanto movimento de renovação estética e literária. "Foi uma atitude", segundo o crítico literário Dimas Macedo, "com a disposição de aglutinar uma proposta concreta de ação ou coisa que o valha. Mas é indiscutível, também, que provém do Siriará alguns dos melhores escritores cearenses da década de 1980, com raízes num período bem anterior, que remonta à criação da revista "O Saco", uma das mais originais publicações brasileiras".
Manifesto
Em 14 de julho de 1979, o Grupo lançava o seu manifesto. Aqui o transcrevo na íntegra:
1) Contra a ritualística de um passado que formal e conteudisticamente não mais representa a realidade nordestina do momento. Viva Graciliano, José Américo, Zé Lins do Rego, O Quinze de Rachel, João Cabral, Grupo Clã... Viva. Como lição, roteiro, experiência. Superação, não supressão. A seca e o sonho continuam. A favor de um texto terra (conteúdo); de um texto mestiço (forma); de um texto Siriará (intenção e linguagem).
2) Contra o colonialismo interno do sul e a condenação regionalista da literatura nordestina. A favor de uma literatura sem vassalagem, nordestinagem, inferioridade. Pensar e sentir o Nordeste e ter o direito de perguntar pelo Brasil. E não somente o Nordeste, território à parte.
3) Contra modelos e formas de pensar e escrever importados – impostados, impostos – pastagem alienante da culturália tupiniquim mal pensante. A favor de uma literatura brasileira brasílica. Autóctone. Sem totens nem tabus. Sem “fervor reverencial” à cultura da solene mamãe Europa e adjacências e/ou do executivo caubói do Arizona. O universo situado a partir de um discurso e uma linguagem crítica que reflitam a nossa própria situação/condição histórica. Pensar e sentir o Brasil no mundo. E o mundo no Brasil. A favor de uma escritura nordestina/brasileira, brasileira/planetária. Força centrípeta e centrífuga da linguagem. Da literatura. Da História. Da sabedoria cosmo-nativa.
4) Contra toda forma de opressão, de repressão política e/ou cultural. Fora, fuuu – a máscara policialesca da moral e dos bons costumes (literários). Fora a censura planaltina. Fora, fuuu – todas as patrulhas. E todos os pulhas ideológicos e literários. Queremos a verdade e a sinceridade. Ainda que tarde. Pra tudo rimar com Liberdade. A favor de uma literatura de combate, de questionamento, de indagação. De si mesma. Do indivíduo. Da sociedade. Do Brasil D. R. isto é, Depois de Rosa. Aqui e sempre. AVE, PALAVRA.”
Assinaram este manifesto os seguintes escritores: Adriano Spínola, Airton Monte, Antonio Rodrigues de Sousa, Batista de Lima, Carlos Emílio Correa Lima, Eugênio Leandro, Fernanda Teixeira Gurgel do Amaral, Floriano Martins, Geraldo Markan Ferreira, Jackson Sampaio, Joyce Cavalcante, Lydia Teles, Márcio Catunda, Maryse Sales Silveira, Marly Vasconcelos, Natalício Barroso Filho, Nilto Maciel, Nirton Venâncio, Oswald Barroso, Paulo Barbosa, Paulo Véras, Rogaciano Leite Filho, Rosemberg Cariry e Sílvio Barreira.
Referências
A revista O Saco e o Grupo Siriará por Nilto Maciel, Literatura sem fronteiras
O Grupo Siriará de Literatura por Batista de Lima, Cronópios
O Manifesto Siriará por Batista de Lima, Caderno 3 - Diário do Nordeste
Literatura e escritores cearenses por Dimas Macedo, bric-à-brac
Literatura cearense - Memória viva, Caderno 3 - Diário do Nordeste (26/04/2008)

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