QUIMOEIROS

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Antigamente, quando Fortaleza não possuía esgotos, era comum em muitas residências, recolher os resíduos fecais em barris de madeira, conhecidos por quimoas (foto), para depois despejá-los no mar.
A tarefa era feita pelos quimoeiros, que levavam na cabeça a fétida carga e era certo que, ao transitarem com ela, todos fugiam deles. E o serviço só era suportado pelo carregador porque ele ia parando nas bodegas para tomar alguns tragos.
Acidentes, por vezes, aconteciam durante o carreto. Itamar Espíndola relata dois desses desastres:
Um dos quimoeiros mais conhecidos era "Pisa-macio". Um dia, foi infeliz com o carreto. Quando passava pelo prédio da Santa Casa de Misericórdia, a tampa do fundo da quimoa, estando muito velha, deslocou-se do lugar. A cabeça de "Pisa-macio" e o pescoço ficaram cobertos pela barrica. Foi aquele desastre. Uma freira assistiu ao evento. levou o quimoeiro para dentro do hospital e mandou dar-lhe banho. Mas, três dias depois, a vítima faleceu.
Outro fato desagradável, neste mesmo campo, ocorreu com o jornalista Vicente Roque, pai do Rui Simões. Vicente foi visitar um casal amigo. Na ocasião, um quimoeiro ia saindo da casa visitada. De repente, escorregou. Lá se foi o material anti-higiênico pelo chão, atingindo a roupa do jornalista. Foi aquele corre-corre, tendo o visitante necessitado de banhar-se na casa alheia.
De onde quer que viessem, passavam defronte à Santa Casa, desciam o calçamento do velho gasômetro, rumo à praia, onde a fedorenta carga era jogada ao mar. Depois de lavado o barril, o quimoeiro voltava pela antiga Rua Formosa, atual Rua Barão do Rio Branco.
Projetado por João Felipe, em 1911, o primeiro sistema de esgoto de Fortaleza começou a funcionar a partir de 1927 e cobria apenas o pequeno centro da cidade.
Leitura recomendada
Fortaleza Descalça (1980), Otacílio de Azevedo
AS ARTIMANHAS DO CORPO; O COTIDIANO DOS TRABALHADORES DAS RUAS DA CIDADE DE FORTALEZA (1880–1910), por Daniel Camurça Correia. Revista Ágora
Vinhetas, coluna de Itamar Espíndola. Caderno "Fame", Jornal "O Povo" (sem data identificada)
Origem de uma expressão: sem dizer água vai
Esta locução é antiga e sua explicação é conhecida. Ela provém dos tempos em que não havia esgotos nas cidades. Os moradores lançavam normalmente a água usada pelas janelas, usando sempre o indispensável grito de alerta aos transeuntes:
Água vai!...
É compreensível a intolerância que se tinha às pessoas que costumavam lançar seus dejetos à rua sem o costumeiro grito. Com a implantação do sistema de esgotos nas cidades, o velho costume desapareceu, a expressão ainda guardou o seu significado por algum tempo até finalmente cair em desuso.

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