José Luciano Sidney Marques (*)
Cerimonialista: Senhoras e senhores, boa noite. É com muita satisfação que, neste momento, damos início à solenidade de lançamento do livro "Humor na caserna", de autoria do coronel José Luciano Sidney Marques.Humorista: Desafasta todo mundo. Para tudo. Pessoal, boa noite! Não me convidaram para esta festa. Como eu ia passando nas proximidades, ao tomar conhecimento pelo "zap-zap" de que aqui seria lançado um livro de fofocas, resolvi entrar.
Cerimonialista: Eu não estou entendendo nada.
Humorista: E não é para entender mesmo.
Cerimonialista: Convidamos o autor do livro para ocupar seu lugar no palco.
Humorista: Um momento! Já que o livro é de autoria de um militar, não é assim que se fala. O correto é dizer: o autor, dois passos em frente, marche!
Cerimonialista: A senhora não acha que está passando dos limites? Será que ainda não percebeu que está abusando da minha boa vontade!
Humorista: De maneira nenhuma. Meu Deus! O autor é o doutor Luciano, meu conterrâneo lá de Quixeramobim. Que prazer! Doutor Luciano, como é o nome do livro que o senhor está lançando?
Dr. Luciano: "Humor na caserna".
Humorista: Ah! Humor na caverna. que título esquisito! Naquele tempo das cavernas, na idade da pedra, no tempo do Brucutu não havia humor, havia muito era porrada.
Dr. Luciano: Eu não falei humor na caverna, falei "Humor na caserna".
Humorista: O senhor está insinuando que eu não sei o que é caserna? Errou. Aliás, eu adoro dar umas voltinhas na caserna em dia de solenidade. É tanto homem parrudo! Aproveitando o ensejo, fale um pouco sobre este livro.
Dr. Luciano: Eu comecei a idealizar esse livro, após passar para a reserva remunerada do Exército Brasileiro, em 2003. Aqui estão retratados cem causos engraçados ocorridos no ambiente austero dos quartéis, ao longo de 31 anos de carreira militar.
Humorista: Quer dizer que tem muita mentira espalhada nas folhas desse livro!
Dr. Luciano: Alto lá! São fatos verdadeiros. Da maioria deles fui protagonista; de outros, coadjuvante ou mero espectador.
Humorista: A propósito, doutor Luciano, hoje em dia é muito fácil fazer um livro. O governo dá tanto incentivo à cultura que qualquer zé-ninguém lança um livro com a maior facilidade. São muitas as leis de incentivo ao autor, senão vejamos algumas: lei do menor esforço, lei de Gerson, lei da gravidade, lei de Chico de Brito, lei Juruna e lei seca. É mole ou quer mais?!
Cerimonialista: O escritor Saraiva Junior suba ao palco, por favor.
Humorista: Venha cá, Saraiva Junior! Deixa de timidez! Bota aqui o seu pezinho bem juntinho com o meu! Eu sei que você vive gabando de ter escrito um livro sobre o Mozart, inesquecível jogador do Ceará. Saiba que seu livro contém 282 páginas de pura enrolação, pesquisa de jornal e nada mais. resumindo: um livro feito nas coxas. Eu sim posso bater nos peitos já que escrevi uma obra de 900 páginas intitulada "Zé Beréu, uma trajetória quieta no futebol", que carrego aqui comigo. Nela, está narrada a trajetória de Zé Beréu, o maior craque de todos os tempos de Quixeramobim e adjacências. Durante 10 anos percorri as brenhas de Quixeramobim, Quixadá, Itatira, Madalena, Ibicuitinga e Banabuiú, coletando dados históricos sobre esse grande jogador. Atenção, galera! Olhando bem para os dois livros, são parecidos ou não? Pessoal, isso aqui é plágio ou não é? Qual é o original? O de 282 páginas ou o de 900 páginas? Tem vergonha não, homem!
Cerimonialista: Tentando dar continuidade ao evento, vamos agora...
Humorista: Eu ainda não terminei de vender meu peixe. Mudando um pouco de assunto, vocês viram a decisão do supremo sobre biografias não autorizadas? Uma boa. Adooorei! Agora vou me dedicar a escrever biografias de gente famosa. Vou arrasar. Se cuida, Fausto Nilo! Aquele seu antigo affair com a Dorothy Lamour, guardado a sete chaves, será contado tintim por tintim.
Cerimonialista: O senhor já acabou de vender seu peixe para que eu dê prosseguimento ao evento?
Humorista: Ainda não. Vou aproveitar para falar sobre um assunto que não tem nada a ver com livros, mas é bastante relevante. Vocês sabem qual foi o maior legado da Copa do Mundo aqui no Brasil? Um doce pra quem acertar.Foram os estádios? Foram as avenidas? Foram os viadutos? Foi o metrô? Foi o VLT? Nada disso. Foi o Zika vírus, gente, que ficou por aqui de lembrança e está barbarizando a saúde pública brasileira.
Cerimonialista: Queremos destacar a presença das seguintes personalidades...
Humorista: Deixe de ser pretensioso e me dê a lista dos convidados, por favor. Gente, que tragédia, não foi convidada nenhuma autoridade local ou nacional. Temos de convir que, no momento, não há clima. Com o desdobramento da Lava-Jato, o negócio está mais para urubu do que para beija-flor e ninguém quer se expor aqui publicamente. Vamos às personalidades internacionais. Deixe eu ver aqui... ah! O Barack Obama, pessoal, lamentavelmente não vem. Enviou mensagem justificando sua ausência pelo pavor de ser acometido por mazelas como dengue, Zika ou Chikungunya. Vejamos agora... O Papa Francisco. Também não vem. Justificou que ainda está devendo a primeira viagem à Argentina. Aqui para nós, eu acho que está esperando que termine o mandato da Cristina Kirchner para visitar seu país natal. Aquele líder doidinho da Coréia do Norte, o Kim Jong-un, também não vem porque foi vetado pelo governo brasileiro. Imaginem que ele queria trazer uma bomba de nêutrons a bordo do seu avião. Quem mais? O Vladimir Putin. Este também não vem. Ele ficou "putim" porque o Barack Obama foi convidado.
Cerimonialista: Ufa! Neste momento convidamos o dr. Paulo Gurgel para fazer o lançamento do livro "Humor na caserna".
Humorista: Calma! Deixa comigo! Gente, neste momento, vou convidar o doutor Paulo Gurgel para fazer o lançamento do livro Humor na caver..., digo, na caserna. Doutor Paulo, antes de passar a palavra para vossa excelência, gostaria de dizer, e isto aqui é cultura geral, que, nestes tempos de crise, já estão utilizando papel higiênico reciclado para imprimir livros. Além de ser uma medida política e ecologicamente correta, os livros já saem com o inconfundível perfume de gardênia.
Cerimonialista: Está encerrada esta tumultuada cerimônia. Pedimos desculpa a todos pelos constrangimentos aqui verificados. Convidamos os presentes para o coquetel que será servido dentro de alguns minutos.
Humorista: Atenção! Ainda não acabou. Após comandar esta solenidade com muita classe, aproveito a oportunidade para dizer que o meu livro se encontra à venda na bodega do Bigode, no Tancredo Neves; no botequim da Josefina Grossa, na favela do Pantanal; na mercearia do Rolando Catarrinho, no Bom Jardim, lá no território da paz; no mercadinho do Penisvaldo, no Pirambu, e na bodega do Zebedeu, lá na Loquinha do Amor, em Quixeramobim. Bye! Bye! Gente.
(*) Sidney Marques nasceu em Quixeramobim-CE, no ano de 1951. Formou-se em medicina pela UFC, em 1977. Ingressou na carreira militar em 1988, passando para a reserva remunerada do Exército Brasileiro em 2003, no posto de coronel. É membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, regional do Ceará, e da Academia Cearense de Médicos Escritores. O texto acima publicado faz parte de seu último livro, "Humor em prosa e verso" (p.92-96), lançado em 26 de maio de 2017. LINK