A CIDADANIA AFETIVA DO PARQUE ARAXÁ

Diogo Fontenelle
À beira dos dez anos, vivo no bairro Meireles à Beira Mar. Mas de fato, eu sobrevivo no bairro Parque Araxá a sonhar fardado do Ginásio Agapito dos Santos e do Colégio Julia Jorge a reluzirem o meu olhar-menino aprendiz de pequeno poeta.
Obviamente sou grato aos quase dez anos de Meireles-Beira Mar, seria injusto e antipoético não me comover todos os dias com o azul-sereno do céu do Meireles a beijar o azul-revolto do mar. Contudo, é o Parque Araxá que doura de poesia maior o meu caminho-caminhar.
O Parque Araxá tinha três outros nomes a escolher feito mudança de estação, ou seja: Octávio Bonfim, São Gerardo e Parquelândia que foi o batismo mais recente dos quatro nomes. Eu escolhi como nome o Parque Araxá por me lembrar os casarios ajardinados com biqueira em forma de jacaré a jorrar chuva tão desejada. Realmente, o Parque Araxá era mesmo assim com casarios ajardinados e poços da melhor água de Fortaleza, todos queriam beber água do Parque Araxá. Lá, só faltava a Dona Beja, a Feiticeira do Araxá das Minas Gerais.
Assim, rolaram as águas do Meu Parque Araxá entre as divisas das avenidas Bezerra de Menezes e Jovita Feitosa. Foram tantos carnavais, festas juninas, desfiles de Sete de Setembro e Quermesses das Igrejas Senhora das dores e São Gerardo. Tudo era folia familiar, tudo era alegria em sinfonia!
Com a avassaladora partida da minha mãezinha Carmelita Fontenelle para o Azul Mais Alto tão longe de mim, eu voltei de vez para o Parque Araxá adoçado por lembrares azuis vividos e revividos em sonhares. Uma vez, a médica perguntou a mãezinha já meio desmemoriada: Onde a senhora mora? E a mãezinha olhando para o mar do Meireles disse: Mas a senhora não vê da janela que eu moro no Parque Araxá? A médica sorriu encantada, mãezinha via com o coração o Parque Araxá amado e não o Meireles.
Com licença do Meireles, é com a minha cidadania afetiva Parque Araxaense a transbordar que eu digo o mesmo da janela no Meireles-Beira Mar: Eu moro no Parque Araxá que não saiu de mim a empinar arraias de sonho no meu olhar de sempre-menino aprendiz de poeta.

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