Sobre a família Gurgel Carlos, os bairros de Otávio Bonfim e Cocó, em Fortaleza, as cidades de Acarape, Redenção e Senador Pompeu, no Estado do Ceará, a Faculdade de Medicina (UFC), minhas caminhadas e viagens, assuntos culturais e artísticos notadamente locais, memórias e fatos pitorescos.
Instalada desde 1966 no pequeno jardim da agência do Banco do Brasil, localizada na Praça do Carmo, Centro de Fortaleza, a escultura "Mulher Rendeira", obra do artista pernambucano Corbiniano Lins (1924-2018), foi reduzida a pedaços. Em 29 de maio de 2020, operários de uma empresa de engenharia contratada pelo Banco para uma reforma, desmembraram-na a golpes de marretas.
O fato foi inicialmente denunciado por Davi Lopes, leitor do Diário do Nordeste. Ao tomar conhecimento do caso, o educador de arte José Viana deslocou-se até o local onde os destroços da escultura se encontravam e impediu que virassem entulho.
José Hortencio fez um voto de louvor no Jornal GGN a este "cidadão fortalezense José Viana da Silva Neto, que, por esforço próprio, impediu fosse a estátua MULHER RENDEIRA perdida para sempre".
Com isso, a estátua feita de alumínio cozido foi enviada a Recife para restauração por Chico Lins, filho do escultor pernambucano. E, cerca de ano depois do episódio de destruição da escultura "Mulher Rendeira", a cidade de Fortaleza recebeu de volta o seu símbolo cultural restaurado.
Foto: PGCS, 25/08/2021
http://twitter.com/EntreMentes/status/1268030693310902272
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/verso/quase-um-ano-apos-ser-destruida-escultura-da-mulher-rendeira-retorna-a-fortaleza-restaurada-1.3085306
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2013/05/a-renda-de-bilros.html
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2020/04/mulher-rendeira.html
Allan Sales
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2011/11/celebrando.html
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2014/03/allan-sales-talento-e-criatividade.html
Marcava o início e o término das sessões do Cine Familiar, em Otávio Bonfim, a versão instrumental de "Smoke gets on your eyes", um fox standard da canção popular norte-americana. Acho que a única vez em que tal não aconteceu, foi quando Frei Hildebrando Kruthaup (foto) requisitou o cinema para dar uma demonstração para o bairro, mas não para o mundo, de suas finas habilidades na técnica da hipnose.
Inicialmente, Hildebrando comandou uma preliminar de hipnose coletiva. Não era ainda o filme principal do Guardião do Convento. Naquele momento, o hipnotizador cuidava de fazer a triagem que selecionava as pessoas mais sugestionáveis para a demonstração que viria.
Bem, nada que pudesse ajudá-lo aconteceu comigo.
Vi subirem ao palco algumas pessoas, em cujas mãos Hildebrando espetou longas agulhas sem que essas pessoas referissem qualquer dor.
Um brouhaha percorreu o recinto.
Naquela noite, aprendi que a hipnose, ao contrário do que o menino suspeitava, não devia constar do Index Librorum Prohibitorum. E pude sem remorsos, uns dez anos depois na Guanabara, frequentar um curso e comprar um robusto livro sobre hipnose médica e odontológica.
Nas noites em que não ocorria desvio de função, o cinema mantinha a programação normal. Aventuras do Tarzan, comédias protagonizadas por Zé Trindade, "Marcelino Pão e Vinho" e , na Sexta-feira Santa, a "Paixão de Cristo" passando de hora em hora.
Filmes que atentassem contra os princípios da tradicional família cristã não tinham vez no Familiar. Apenas os que respeitassem a moral e os bons costumes e, assim mesmo, depois de subtraídos das cenas picantes pela tesoura de quem o projetava, o Vavá. Além disso, caso o bom Vavá se mostrasse tolerante nos cortes, ainda podia entrar em ação a censura presencial de algum franciscano frade. Com este pondo a mão à frente do projetor pelo tempo que fosse necessário.
Mas um dia...
Que dia, meus leitores! A censura do Cine Familiar deixou passar um filme que o menino quase não acreditou. Com Cleópatra sendo entregue nua ao imperador romano embrulhada num tapete (o Sedex da época). Mas acho que isso só aconteceu por que era na cena final.
Algumas palavras sobre a canção temática do Familiar a que nos reportamos no início desta crônica:
"Smoke gets on your eyes", assinada por Jerome Kern e Otto Harbach. No Brasil, a letra recebeu uma versão de Nazareno de Brito, cantada por Tito Madi e que foi lançada pela "Continental" em junho de 1959.Há ainda outras letras brazucas de "Fumaça nos olhos", assinadas por Nélson Motta e Jayro Aguiar.
É com muito pesar que comunico o falecimento de José Freire Castelo, professor aposentado da Universidade Estadual do Ceará. Ele faleceu aos 81 anos, de causas naturais, na noite de quarta-feira, 4, em Fortaleza.
Era filho do governador cearense Plácido Aderaldo Castelo com Joana Freire (Netinha) e casado com Margarida Maria Fernandes Macedo.
Conheci-o na década de 1980, e dele recordarei a lhaneza, o respeito, a lealdade e o companheirismo, entre os muitos predicados. José Castelo estava sempre disposto a compartilhar com os amigos os saberes que acumulara em sua extraordinária experiência de vida.
Foi velado na quinta-feira, 5, no Jardim Metropolitano, com missa de corpo presente às 16 horas. Seu sepulmento ocorreu logo após a celebração desta missa no cemitério do Eusébio.
Meus pêsames a seus familiares. Saibamos todos que a saudade eterniza a presença daquele que nos deixa.
Saiu a primeira edição da Revista Sarau, do editor Nonato Nogueira, grande cearense e Mestre em História e Culturas (UECE). É uma revista de música, poesia, contos, crônicas e artes visuais de publicação trimestral e distribuição gratuita (on-line).
"Era uma vez um homem e o seu tempo". Assim anunciava, numa de suas composições, Antônio Carlos Belchior que, ao mesmo tempo, vociferava: “Nordeste é uma ficção! Nordeste nunca houve!” Certo é que o bardo sobralense, com sua arte, com suas letras, tornou-se uma voz de seu tempo, de seu povo e não só do nordeste, mas uma voz nacional, enfim.
A arte, sabe-se, acompanha a humanidade desde as mais remotas eras. Ela é a voz e o registro de um tempo, de um povo, de uma civilização. A arte é também libertária. Desse modo, o homem, a quem ela humaniza e harmoniza, também a persegue em tempos de tirania. Nesse sentido, vivemos tempos difíceis, em que o obscurantismo emerge e o autoritarismo avança e ameaça manifestações literárias e artísticas em geral. Ao mesmo tempo, porém, vemos aqueles outrora relegados ao apagamento ressurgirem e retomarem espaços. É o caso de Maria Firmina dos Reis e do crescente surto de valorização da nordestinidade sob as mais diversificadas formas.
É nesse contexto que surge a Revista Sarau, cujo intuito é a partir das diferentes vozes de seus colaboradores, através de suas contribuições com artes visuais, contos, crônicas e poemas, constituir um espaço para a difusão e valorização da arte e da literatura produzidas na região Nordeste. Nesta primeira edição, homenageamos o já mencionado Belchior, que foi poeta, músico, artista plástico, intelectual e um dos maiores compositores que nosso país produziu.
Caro(a) leitor(a), desejamos-lhe uma boa leitura e que, ao final desta, você possa dizer-se como o fez nosso homenageado:
"Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos!
Não sou das nações dos condenados!
Não sou do sertão dos ofendidos!
Você sabe bem: Conheço o meu lugar!"
* Neste número Fernando Gurgel colabora com o texto "Autoridades" (p.46)