UMA PROVA ORAL DO BOÊMIO PAULA NEI

Falando sobre boemia, não se pode deixar de falar sobre Paula Nei, que foi seguramente maior boêmio que o Brasil conheceu, até os dias de hoje.
Nasceu em 1858 em Aracati, Ceará. Fez os estudos primários e secundário nos Educandários de Fortaleza e Recife, onde já começara a ficar conhecido como "blaguer" incomparável e orador primoroso.
Em 1876 embarcou para o Rio, para a Corte Imperial, trazendo pouco dinheiro, mas uma tremenda inteligência. Tinha 18 anos. Em 1877 requereu e obteve matrícula na Faculdade de Medicina.
Nos dois primeiros anos de Faculdade, ainda levava a sério os estudos, porém como a mesada enviada por seu pai era escassa, resolveu também dedicar-se ao jornalismo, para ganhar algum dinheiro extra que o ajudasse a manter-se. Conseguiu um lugar de repórter na GAZETA DE NOTÍCIAS, onde também trabalhava como redator José do Patrocínio, que mais tarde ficou conhecido como "O tigre da abolição".
Aqui começa praticamente a vida boemia de Paula Nei. Começou a frequentar as rodas boemias da época que se reuniam nos cafés e bares localizados na Rua do Ouvidor, como a "Pascoal,", "Castelões", "Deroche", isto de dia e à noite na "Maison Moderna" e "Coblentz", e mais tarde na Confeitaria Colombo, na Rua Gonçalves Dias.
Agora vejamos quem eram seus companheiros de boêmia do dia a dia e noite a noite! Olavo Bilac, o principe dos poetas brasileiros, Coelho Neto, Guimarães Passos, Artur da Azevedo, Aluizio de Azevedo, Luiz Murad, todos grandes escritores e teatrólogos, e ainda o fabuloso trocadilhista Emílio de Menezes e outros.
Com essa vida boêmia que levava, começou a relaxar nos estudos de medicina. Ia às aulas uma vez por semana e olhe lá. Na época de provas contava com sua inteligência fora do comum para safar-se. Vejam agora, para vocês terem ideia do que acabo de escrever, uma das grandes pilhérias de Paula Nei.
Visconde de Saboia (WIKI)
Época de provas. Como sempre a sala cheia, e as galerias também, pois quando Paula Nei ia fazer provas ninguém queria perder o espetáculo pois sabia-se que ia sair alguma "blague".
O professor, o Visconde de Saboia (cearense de Sobral), chamou Paula Nei, e mandou que ele retirasse o ponto, a fim de que ele dissertasse sobre a matéria. Paula Nei, levantou-se foi na banca examinadora e retirou o ponto. Abriu-o e viu logo que estava fraquíssimo naquela matéria. Verbo fácil, invejável dicção, começou: — "Nos mares procelosos da ciência humana, às vezes as mais lúcidas inteligências se debatem e vão ao fundo..."
Aí, o Visconde de Saboia, interrompeu-o e perguntou-lhe: — "Sr. Paula Nei, já que o Sr. quer fazer dissertação literária extra-ponto, diga-me uma coisa, e faça-me o favor de dizer o que seria da ignorância se a inteligência naufraga?"
Rápido como um relâmpago, Pauta Nei, fulminou o professor com essa resposta à queima-roupa:
—"ESSA BOIA, senhor Visconde!"
O professor, Visconde de Saboia, deu-lhe um tremendo ZERO, e mandou-o retirar-se da sala, enquanto explodia pela sala uma tremenda gargalhada de todos os presentes.
Fonte: “Estória de Boemios e Outras Estórias” - 1978
Autor: Helio de Oliveira Santos

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