CANÇÕES, PARÓDIAS E VIRUNDUNS

Canções
A música tinha um papel relevante nas atividades recreativas da Turma de Médicos de 71 da UFC. Tanto em nossos passeios, piqueniques e tertúlias, quanto na grande excursão que fizemos pelo Brasil, Uruguai e Argentina, no verão de 1970.
Tínhamos, por assim dizer, a nossa trilha musical, da qual constavam canções da Época de Ouro da música brasileira (Noel, Pixinguinha, Ary), sambas-canções (Ataulfo, Lupiscínio, Dolores, Maysa) e boleros (Evaldo e Jair), guarânias (Vieira, Taiguara), ritmos nordestinos (Gonzaga, Jackson), marchinhas de carnaval (Lamartine, Braguinha), bossa nova (Tom, Vinicius, João, Menescal e Bôscoli, Toquinho, Lyra e os irmãos Valle), músicas da jovem guarda (Roberto e Erasmo), do rock patropi (Seixas, Rita), músicas de festivais (Chico, Edu, Vandré, Milton), da tropicália (Gil, Caetano, Gal e Betânia), do Pessoal do Ceará (Fagner, Ednardo e Belchior), e da emergente MPB.
Que alternávamos com os hits que chegavam do exterior: músicas inglesas (Beatles, Rolling Stones), estadunidenses (Sinatra, Ray, Elvis, Dilan), latino-americanas (Trini Lopez, Bienvenido, Mercedes), francesas (Aznavour, Piaf), portuguesas (Amália) e italianas (Pavone, Endrigo, di Capri, Ornella). 
Sim, contávamos também com as apresentações do colega ítalo-brasileiro, Roberto Misici, um profundo conhecedor  de óperas e que fazia incursões no bel canto com sua maviosa voz de barítono.
E... na hora que nos víamos no ônibus fretado, de volta para casa? Certamente, estaríamos todos entoando a clássica "Está chegando a hora". Uma adaptação para o samba da valsa "Cielito Lindo", de A.Sedos e F. Tudela.

Quem parte leva saudades de alguém
Que fica chorando de dor
Por isso eu não quero lembrar
Quando partiu meu grande amor.
Ai, ai, ai ai, ai ai ai
Está chegando a hora
O dia já vem raiando, meu bem
Eu tenho que ir embora.


"Cielito Lindo", para quem não sabe, é mexicana. E o tema da letra original é bem diferente.
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Paródias
Entre os recursos da intertextualidade estão as paródias. Nestas, há sempre uma melodia feita anteriormente, cuja letra é modificada a fim de produzir humor, uma vez que o objetivo da paródia é divertir.
Lei 9610 de 19/02/1998 - Art. 47. São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras reproduções da obra originária nem lhe implicarem descrédito.
Assim é que circulavam entre nós as recriações com efeito humorístico de algumas canções. Dentre as mais lembráveis, as paródias de "Máscara Negra" (de Zé Kéti e Pereira Matos, gravada pelo próprio Zé Kéti e depois por Dalva de Oliveira), sem título certo ao ser recriada, e de "O Trovador" (de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, sucesso na voz de Altemar Dutra), que foi convertida para "O Trocador".

Quantos tiras!
Oh, quantos gorilas!
Mais de mil milicos em ação!
Estudante está apanhando pelas ruas da cidade
Gritando por liberdade.

[...]
Vou gritar, agora!
Não me leve a mal
Fora o Marechal!(bis)


O Marechal era Castello Branco.

Sonhei que um dia eu era um trocador
Dos velhos bondes que não voltam mais.
Passava assim a toda hora:
– Olha a ficha, senhor.
– Olha a ficha senhora.
Tinha uma mocinha que sentava atrás,
Não pagava porque a brecha era demais.

Nos anos 1960, também surgiu a paródia de um samba de Ataulfo Alves. Assim que circulou um boato (falso como quase todos) da prática de necrofilia por uma conhecida pessoa da sociedade cearense. Nos versos seguintes, reconhece-se facilmente onde foram buscar (ô raça) a fonte inspiradora:

Quando morrer
Me enterrem nu'a cova bem funda
Que é pro (a gente fazia um "L")
Não mexer na minha bunda.

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Virunduns
Além dessas, havia a "Lorota Boa" (de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira), que alguém puxava o verso para a turma toda arrematar: "Que mentira / Que lorota boa / Que mentira / Que lorota boa"; as fesceninas: "Abra os olhos e sinta / um metro e trinta"; e os virunduns: "Telma, eu não sou gay" (uma pseudotradução de "Tell me once again") e o"Tá com pulga na cueca / já vi, vou catar", inspirado no "Pata Pata" de Miriam Makeba.
E, não sendo paródia nem virundum, mas apenas uma canção de domínio público, a "Maria Chiquinha": "Que 'ocê foi fazer no mato, Maria Chiquinha?"

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