A MARCA DA MATRIARCA


Apresento minha mãe, preparando-se para completar 100 anos em setembro.
Nelson Cunha
When September comes. Mas já vou a partir de agora parabenizando a matriarca.
Paulo Gurgel
Obrigado, Paulo. 
Cem anos de vida é uma marca quase inalcançável. A Ceifadora de Vidas está em todas esquinas com sua foice levando embora os distraídos. Ela (dona Lindaura), com seus olhos bem abertos, tem escapado graças a um maravilhoso equipamento genético, que a protege a despeito de não fazer regimes, comer todos os doces e massas que se apresentam e odiar exercícios fisicos.
Nelson Cunha
Em 7 de junho, o filho de Dona Lindaura me enviou esta "pré-saudosa" mensagem.
Paulo Gurgel

O Candelabro

Ontem liguei para minha mãe. Queria ouvir a sua voz.
Mas não era ela.
A demência tem ganhado terreno.
A voz ainda era firme, amorosa. O mesmo sorriso. Mas não era ela.

Somos um candelabro de luzinhas — milhares delas, coloridas.
Umas vívidas, outras desbotadas.
A cada dia, uma ou duas se apagam.
Há dias que resistem. Dão esperança.

— Lembra daquele dia em que a Laika mordeu o carteiro? — perguntei.
Mordeu lá. Bem naquele lugar onde se pendura a masculinidade.
Ela não lembrava.

Sua despedida começou aos 98.
Em setembro, fará 100. Mas não será ela.

Vive ainda iluminada nos filhos, nos netos, nos amigos — enquanto as luzinhas destes brilharem.
Mas luzinhas não brilham para sempre.
Outros candelabros virão com aquele brilho da nascença, e o mundo permanecerá iluminado.

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