Uma das obsessões da construção civil tem sido o barateamento das unidades habitacionais que constrói. Evidentemente, isso tem limites. Um apartamento cuja sala é ém "I" - e não em "L", como inicialmente se previa - acaba afastando os prováveis compradores. Um acabamento anunciado como de primeira e que não o é, idem. Experiências revolucionárias com a utilização de novos materiais como fazer as paredes de papier mâché (papel amassado), então nem fala. Antes de tudo, o adquirente de um imóvel é um sujeito conservador.
E a política de minimização de custos das construtoras acaba sobrando para uma dependência: o quarto da empregada, o qual tem sempre dimensões liliputianas por maiores que sejam as do apartamento. Descrevendo um deles, Rubem Braga disse: "Um quartinho tão minúsculo onde uma pessoa não pode respirar com muita força que esgota completamente o ar." Embora tal nível de consciência não o impedisse de transformar o quarto de empregada no despejo do apartamento. Na oportunidade em que Braga recebeu uns fardos pouco desejáveis e que "não podiam ficar na saleta do cronista".
Ao comprador de um apartamento Millôr Fernandes dá a seguinte orientação no item armários embutidos: "Conte o número e o tamanho dos armários embutidos. Mas conte com cuidado porque, muitas vezes, você pensa que está diante de um armário embutido e está diante do quarto de empregada." Ora, imaginam os senhores construtores que a empregada doméstica, feito aspargo em lata, dorme em pé? E que, nas paredes do quarto, assim que ela se instalar, não vai também afixar uns pôsteres de Michael Jackson, Xuxa Meneghel e Paulo Ricardo? O tipo do detalhe que deixa o compartimento ainda mais exíguo.
E o quarto em questão continua num processo de encolhimento que faz lembrar a anã branca (a qual, por uma associação de ideias, faz lembrar Adelaide, a anã paraguaia).
O assunto quarto de empregada eu falo com conhecimento de causa. Em 1972, eu morei num quarto-e-sala do edifício Corumbá, em Copacabana. Republicanamente, com colegas médicos recém-formados, e todos "duros". O quarto-e-sala ficava ali no Posto 2, próximo ao afamado Beco da Fome (do qual eu não pretendo fazer aqui nenhum comercial). Um dia, porém, quando a vida em república já cansava, recebi o convite para ir morar num local mais família. O convite veio de minha irmã Marta e de seu marido João Cunha(do), que estavam fixando residência na Glória.
Então, ai de ti Copacabana! Peguei meus teréns e fui morar na rua Benjamin Constant, onde cheguei a vez primeira com o coração todo ofegante (devido à ladeira, meu irmão).
No pequeno apartamento da Glória, coube-me o quarto da empregada. Tão pequeno, ele, que uma vez aberta a cama de campanha não sobrava espaço para alojar outro pertence. Quando, por exemplo, queria pensar, eu precisava pegar o elevador de serviço (tinha a permissão), atravessar o saguão do prédio, e descer a rua no rumo das obras do metrô do Rio. A razão inclusive por que me tornaria um peripatético.
Uma gozada coincidência. Um dia, por razões de serviço, eu fui transferido da rua Benjamim Constant para a cidade de... Benjamim Constant, no Amazonas. Ora, vá gostar de positivismo assim... E, devido a essa repetição de nomes, o Exército quase não me deu a ajuda de custo para a tal transferência.
Nem por isso, naquele quarto, eu passava maus quartos de hora. Minto, eles aconteciam. Apenas quando a cama de campanha estava armada e não era hora de dormir. Mas eu era feliz e... sabia. Só não sabia era... como tinha conseguido sair do quarto o valente pedreiro que o construiu? o eletricista? o pintor, hein, hein, hein?
É difícil mesmo caber, em um quartinho tão pequeno, cama, guarda roupa, televisão, etc, mais empregada e patrão quando este resolve inspecionar as dependências. Aí, para caber, têm que tirar a roupa, né? hehehehe
ResponderExcluirEu não aceitava essas inspeções patronais em meu cômodo. Deixei isso bem claro, antes de ir morar com minha irmã Marta e o seu esposo João Cunha(do).
ResponderExcluir