SÉRGIO GOMES E A MODERNIDADE DOS ANOS PASSADOS

Estreou no dia 24 deste mês (outubro de 2015), com reprise no dia 25, o documentário "Máquina de um Tempo", da TV Assembleia Ceará, entrevistando pessoas que utilizaram ou que ainda utilizam máquinas de escrever.
Elas contam as memórias e as histórias vividas com este importante instrumento de escrita.
São entrevistados o médico pneumologista Sergio Gomes de Matos, o cronista esportivo Silvio Carlos, a jornalista Márcia Gurgel (irmã deste blogueiro), o colunista social Lúcio Brasileiro e o radialista e escritor Narcélio Limaverde, entre outros.

Transcrição do depoimento que Sérgio Gomes de Matos gravou neste vídeo (acima) roteirizado por Ângela Gurgel e Marcelo Alves, e produzido por Ana Célia de Oliveira para o Núcleo de Documentário da TV Assembleia do Ceará, em 2015.
1:05 O uso da máquina (de escrever) tem algo aí de um fetiche que me ficou desde muito tempo.
6:44 Pra mim, isso aqui (aponta para a máquina) é de uma utilidade extrema. Porque eu escrevo muito, escrevo algumas coisas aí, alguns artigos etc. O meu trabalho no hospital é calcado nas observações, nas evoluções e nas prescrições que eu faço.
7:03 (perguntando) Isso vem ocorrendo há quantos dias, Iracema? (ela responde) Pois é, você fuma? (ela responde) Não tem esse pecado, né? (ela responde) Tá certo.
7:20 (dirigindo-se ao repórter) A minha letra não é das mais legíveis, não é absolutamente incompreensível. Mas isso me deixou com uma inclinação maior para deixar, digamos, as receitas, as prescrições que faço para os doentes internados bem claras, bem legíveis para a enfermeira e o paciente. No caso de um paciente de consultório, para que ele não se confunda e tenha uma noção exata daquilo que está sendo prescrito. Isso passa a ser também um dos motivos (de usar a máquina de escrever). O Woody Allen, cineasta famoso, é adepto da máquina de escrever. Imagine dois outros atores famosos, o Tom Hanks, reconhecido em todo o mundo, e o Jerry Lewis (já falecido), incondicionalmente afeitos à magia do teclado.
13:21 A meu ver, é uma tecnologia que ficou... pelo menos pra mim. Ela atende as minhas necessidades.
19:45 Eu sinto uma empatia muito grande por esta modernidade dos anos passados. Ela me serve a contento.
20:09 A máquina de escrever em breve vai desaparecer.
21:54 (Sérgio termina de datilografar a receita)
O documentário me fez lembrar de uma velha máquina de escrever que, com suas teclas, marcou o ritmo de uma canção. Trata-se da máquina de escrever em que foi batucada "Meu Caro Barão", uma das músicas de "Os Saltimbancos Trapalhões", filme de J. B. Tanko (1981).
Chico Buarque (o autor das letras e do roteiro do filme) e os Trapalhões (Didi, Dedé, Mussum e Zacarias) cantam, em off, essa divertida canção cujas palavras proparoxítonas tiveram a sílaba tônica alterada.

ENCONTRO COM JOÃO BOSCO

No sábado passado, apanhei João Bosco Serra e Gurgel no Hotel Mercure para irmos ao Carneiro do Ordones, no Parque Araxá.
Nesse restaurante estivemos a conversar por algumas horas.
João Bosco é jornalista e escritor, sendo autor de 150 biografias de cearenses "de todos os andares". Além de ser um exímio contador dos acontecidos em Acopiara, cidade em que foram fincadas suas raízes.
Ele costuma me enviar exemplares dos livros que escreve e já tem transcrito algumas postagens minhas no jornal "Ceará em Brasília", do qual é um dos editores. Recentemente, subsidiei-o com informações para um artigo de reminiscências sobre o Usina Ceará.
Também é um girólogo porreta, e seu alentado "Dicionário de Gíria" já se encontra na 9.ª edição.
Uma de suas preocupações: ver publicada a obra que José Jarbas Studart Gurgel deixou inacabada, porém em fase final. Para tanto, rastreou o genealogista uns quatrocentos anos da família Gurgel no Brasil.
No final do encontro, convidou-me para visitá-lo em Niterói, onde reside quando não está em Brasília.
[ele e eu]

ÍNDIOS TABAJARAS

Há 10 anos no blog EM:
Muçaperê (Tianguá - CE) e Erundi (1918, Crato - CE) eram índios da tribo Tabajara. Em 1933, esses dois irmãos cearenses migraram a pé para o Rio de Janeiro. E, numa caminhada que durou três anos, a dupla entrou em contato com violeiros e cantadores das regiões pelas quais passaram. No Rio de Janeiro, onde a seguir fixaram residência, eles se registraram com os nomes de Antenor e Natalício, respectivamente. Mantiveram, porém, o nome de "Índios Tabajaras" para suas apresentações e gravações de discos.
O repertório da dupla ia do gênero popular (apresentado em trajes indígenas) ao erudito (apresentado de smokings). Os "Índios Tabajaras" residiram por alguns anos nos Estados Unidos, onde alcançaram grande sucesso, e fizeram excursões musicais em diversos países da América Latina, da Europa e Japão.
Ouvidos pelo violonista espanhol Andrés Segovia (1893 - 1987), receberam do pai do violão erudito moderno o seguinte elogio:
"Os Índios Tabajaras tocam vertiginosamente com dedos ligeiros e obedientes."
Vídeo: os irmãos "Índios Tabajaras" em "Hora Staccato", do violinista romeno Grigoras Dinicu
O assunto entrou na pauta de EntreMentes assim que recebi um CD com 24 músicas gravadas pelos "Irmãos Tabajaras". Enviou-me o CD o colega Nelson José, um mineiro que é filho de pai cearense. E, ao publicar esta nota, eu rendo minha homenagem a seu pai (que nasceu na mesma região do índio Muçaperê), o Sr. Cunha, o inesquecível pai do colega Nelson.

POEMAS EM PRELÚDIO

No dia 12 de maio, no ensejo da comemoração do Dia das Mães pela família Gurgel Carlos, foi apresentado aos integrantes de nossa família o livro POEMAS EM PRELÚDIO, uma obra póstuma do engenheiro químico e advogado João Evangelista Cunha Pires (1947-2015).
Este livro, que foi organizado pelo Promotor de Justiça do MPCE Leonardo Gurgel Carlos Pires (filho de João Evangelista e Marta Gurgel) e por Leonardo Gurgel Carlos Pires Filho, com a revisão editorial de Marcelo Gurgel Carlos da Silva, que também fez a apresentação oral, contou com a colaboração de Maria do Carmo Cunha Pires Okada, Paulo Gurgel Carlos da Silva (texto A NOITE DO CHÁ), Marcelo Gurgel Carlos da Silva e Raphael Pires de Souza.
POEMAS EM PRELÚDIO. ISBN: 978-85-420-1378-8
Marcelo, Leonardo (org.) e eu (Paulo)
A matriarca Elda Gurgel cercada do carinho de netos e bisnetos.

SOBRE A ENTREVISTA DE EDMAR GURGEL COELHO

Edmar Gurgel Coelho foi jogador do time de aspirantes do Usina Ceará, chegando a atuar algumas vezes no quadro principal da equipe do Usina Ceará, durante os anos de 1955 a 1959, além de ter trabalhado na fábrica Siqueira Gurgel, de início como contínuo e chegando até a função de chefe do almoxarifado.
Em 24 de outubro de 2015, ele foi entrevistado em sua residência por Pedro Paulo da Silva Martins. Trechos de sua entrevista (com os comentários do entrevistador) fazem parte da dissertação MÁQUINAS PARADAS E PÉS À OBRA: FUTEBOL E LAZER FABRIL EM FORTALEZA (1949-1965) que Pedro Paulo da Silva Martins escreveu para o Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em História.

1 - Em entrevista, o senhor Edmar Gurgel Coelho, ex-funcionário da Siqueira Gurgel e ex-jogador do Usina Ceará entre os anos de 1955 e 1959, nos conta sobre o zagueiro e tecelão Viana de Melo.
Eu até citei pra você o caso do Viana que era um center-half. O Viana era um sujeito forte. Ele passava o dia todinho fazendo rede. Aquele onde ele fica em cima de duas tábuas, perna direita, perna esquerda, (fazendo pá, pá), e a mão aqui puxando a corda do lado direito e do lado esquerdo. Cadenciando pra fazer a rede (COELHO, Fortaleza, 24 out. 2015). 
A partir do depoimento do senhor Edmar Gurgel, podemos perceber que os atributos físicos de um operário-jogador contribuem para atender as necessidades específicas indispensáveis para o bom desempenho nos gramados e no chão da fábrica. O trabalho numa máquina de fiar não exige muito da habilidade técnica do trabalhador e limita suas possibilidades criativas, assim como a posição ocupada pelo “zagueiro proletário” no clube, uma vez que movimentos repetitivos e ordenados dão a tônica de seu ofício na fábrica ou no campo de futebol. p.30

2 - Ao ser questionado sobre as diferenças existentes entre o clube da Siqueira Gurgel e as equipes mais tradicionais da capital, Fortaleza, Ferroviário e Ceará, o ex-jogador, trabalhador da fábrica e morador do bairro Otávio Bonfim, Edmar Gurgel, nos fala:
Porque quando o Usina começou, vindo da segunda divisão, era tido como um time de subúrbio de Otávio Bonfim, um time fabril e que foi galgando o seu espaço. É tanto que no final os jogos do Usina já passaram a ser considerados clássicos. “Hoje Usina contra Fortaleza, Ceará contra Usina, contra Ferrim”. Já no final! (COELHO, Fortaleza, 24 out. 2015) 
Ao acompanhar a trajetória de uma equipe gestada entre operários para disputar partidas amistosas e campeonatos interfábricas e que passa a participar do principal campeonato da Federação Cearense de Desportos, senhor Edmar – mesmo que não tenha participado efetivamente dessa transformação, pois o profissionalismo não permitiu – mostra orgulho em contar e ter participado da história do clube fabril e de bairro que conseguiu fazer frente aos grandes clubes de futebol do Estado. Para ele, tal reconhecimento se materializava nas páginas esportivas dos jornais ao anunciarem os jogos do Usina como clássicos. p.51

3 - Por mais que o clube do Usina Ceará estivesse enquadrado entre os suburbanos, havia uma seleção entre aqueles que almejavam integrar seus quadros. Sobre a dinâmica deste equipamento, senhor Edmar Gurgel, ex-trabalhador da fábrica, nos responde:
(...) os operários, devido as suas condições financeiras, pouco frequentava. Só os empregados mais graduados, de escritório, os de venda, os chefes de seções. Os que frequentavam eram os que tinham melhores condições financeiras. O operário em si, era pouco. Quem mais frequentava era o pessoal do bairro. Congregava muito assim, o pessoal da Paróquia da Nossa Senhora das Dores, todo aquele pessoal da vizinhança frequentava lá (COELHO, Fortaleza, 24 out. 2015).
Percebemos na fala de senhor Edmar que o clube social era um espaço de distinção naquele microcosmo. Os operários, por não poderem contribuir com as taxas associativas mensais, não participavam dos eventos realizados nas dependências do clube. Apenas os funcionários que tinham um melhor cargo – consequentemente, um melhor salário – na fábrica, como os que trabalhavam no escritório, os vendedores e os chefes de seção, tinham as condições materiais necessárias de integrar esse espaço privado de lazer. p.57-58

4 - Ao ser questionado sobre os componentes da torcida do Usina Ceará, EdmarGurgel nos conta que:
Era o pessoal do Otávio Bonfim e aquelas adjacências, pegando o mercado São Sebastião, Vila Gurgel, São Gerardo. Era um pessoal que gostava muito do Usina. (COELHO, Fortaleza, 24 out. 2015). p.61
5 - Algumas dessas equipes eram organizadas pelos párocos da Igreja do bairro – Nossa Senhora das Dores – e eram ordenadas por faixa etária. Sobre os times de futebol dobairro Otávio Bonfim, Edmar Gurgel nos conta que:
E a própria Igreja, que congregava aqueles jovens com o esporte. Eles faziam, muito assim, essa irmandade funcionar bem. É tanto que veja aí: Otávio Bonfim, no tempo do frei Teodoro, desde eu menino velho, criancinha, já tinha um timezinho do São Tarcísio, quando aumentava a idade passava para o time Montese, quando já ficava adulto era o Montreal. E essa turma já jogava também no Usina, havia um intercâmbio (COELHO, Fortaleza, 24 out. 2015).
6 - Ao cruzarmos o depoimento de Edmar Gurgel com os escritos memorialísticos de Vicente Moraes, percebemos que jogadores que se destacavam nas equipes do bairro ganhavam espaço na equipe profissional da região. Assim como no caso de Bronzeado. Engraxate do bairro Otávio Bonfim, Bronzeado passa a integrar a equipe do Usina Ceará no ano de 1952, após se destacar na equipe do Estrelinha. É importante frisar que nem só o “clube fabril” se valia dessa relação estabelecida com os times do bairro. Os jovens jogadores também usufruíam da oportunidade de ter um clube federado à FCD nas proximidades para tentar a profissionalização, seja pelo Usina, seja por outro clube. O próprio Bronzeado, após atuar pelo “clube proletário”, consegue a profissionalização pelo Fortaleza. p.85

7 - No que concerne aos operários-jogadores do Usina Ceará, também existia, para alguns, o desejo de ascensão social por meio do futebol profissional. Entretanto, de acordo com o senhor Edmar Gurgel Coelho, poucos eram os que tinham sonho de investir no profissionalismo.
Olha, é claro que muitos atletas do Usina aspiravam ir para um time de mais nome. Nós tínhamos um, que eu não vou citar o nome, que quando ele saiu do Usina Ceará, como profissional já, ele foi contratado pelo Ceará. Ele disse que era um grande passo que ele tava dando pra ir jogar no Vasco. Que era o sonho dele ir jogar no Vasco. Então, aspirava a isso. (...) A pessoa se tornar um grande atleta aqui era muito difícil. Não podia ter esse sonho, não. Sabia que depois de poucos anos eleestaria não mais rendendo como jogador e desempregado. Isso acontecia muito. Era sempre uma preocupação. (COELHO, Fortaleza, 24 out. 2015).
O sonho de viver exclusivamente do futebol existia para alguns jogadores. Mas, nas palavras de Edmar Gurgel, essa ascensão não viria num time da cidade de Fortaleza e sim nos grandes centros à época – Rio de Janeiro e São Paulo – onde se encontravam os clubes com maiores recursos. p.88-89

8 - Os profissionais que ingressavam no “clube proletário” traçavam estratégias em campos bem diferentes das propostas pelo técnico da equipe, para se sobressaírem frente aos indivíduos que integravam há mais tempo os quadros do Usina. Senhor Edmar Gurgel Coelho, que fora atleta aspirante do “clube proletário” e contínuo da Siqueira Gurgel, nos relata como era essa relação entre essas categorias.
Olha, é claro que eu sentia que as pessoas como profissionais, não podiam, assim, se achar bem entre um elemento simplesmente amador. Como no meu caso, um amador. E pessoalmente quando se joga com uma certa determinação, eles se sentem assim: “o cara é amador, não tá ganhando e tá correndo mais do que eu? Como é que fica”? Aí, fica sendo uma situação meio constrangedora e eu sentia isso. Até boicote, a gente sofria. Por exemplo, você se deslocar pra receber a bola livre eles não davam. Mas na hora que você tava arrodeado de adversários ele te entregava, “toma, te vira”. E ainda saia de perto pra não receber. É isso acontecia. (COELHO,Fortaleza, 24 out. 2015).
Com a intenção de completar dois times para realizar treinamentos coletivos,muitas vezes eram convocados jogadores amadores da equipe aspirante para completar os quadros. Segundo senhor Edmar Gurgel, “eles” – os profissionais – boicotavam os amadores, que jogavam com determinação mesmo sem nada receber, para evitar concorrência, uma vez que estes viam nessas oportunidades a chance de mostrar serviço e quem sabe conseguir uma vaga no quadro principal, que era almejada por muitos. Portanto, o boicote em campo ao qual se refere o senhor Edmar pode ser encarado como uma forma que os profissionais encontravam de se perpetuarem no elenco em detrimento das outras categorias, inclusive os operários-jogadores. p.109-110

Martins, Pedro Paulo da Silva. MÁQUINAS PARADAS E PÉS À OBRA: FUTEBOL E LAZER FABRIL EM FORTALEZA (1949-1965) / Pedro Paulo da Silva Martins. – 2017. 159 f. : il. color.

VINTE ANOS DO CENTRO DRAGÃO DO MAR

O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC), equipamento da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), completou vinte anos de história no dia 28 de abril.
Inaugurado oficialmente em 1999 pelo Governo do Estado do Ceará, o CDMAC tem uma trajetória de luta crescente que o alçou ao posto de um dos principais agentes articuladores do campo cultural e artístico cearenses, tendo conquistado relevância e reconhecimento nacional pelos esforços inéditos em difusão, criação e formação em arte, com o objetivo de promover o acesso democrático aos direitos culturais.
Sob o tema "Dragão da Liberdade – 20 anos de arte e conhecimento", o Centro Dragão do Mar deu início, no dia 27 abril de 2019 às 20 horas, a uma série de ações que celebram essa trajetória com o show "Esquina do Brasil", do compositor Fausto Nilo, em que este homenageia a Praia de Iracema e seu parceiro Evaldo Gouveia.
Fausto Nilo – que, além de compositor (de "Dorothy Lamour", "Meninas do Brasil", e "Pedras que Cantam", entre muitas outras canções), é arquiteto – desenhou, junto com o também arquiteto Delberg Ponce de Leon, as linhas arrojadas e hoje tão famosas do Centro Dragão do Mar.
(vista externa parcial do CDMAC)
Quem foi DRAGÃO DO MAR (Chico da Matilde)