VOOS AMAZÔNICOS 1974-75

Em 1974, fui transferido do Hospital Central do Exército, na Guanabara, para Benjamin Constant-AM.
Para me apresentar no local de destino, tinha direito a 30 dias de trânsito. Destes, três dias foram utilizados em minha viagem por terra a Fortaleza, com dormidas em Teófilo Otoni-MG e Feira de Santana-BA. O resto do período passei em Fortaleza, antes de embarcar num voo comercial para Manaus.
Em Fortaleza meu pai me comprou o fusca, que tinha seis meses de uso, pois eu não teria como usá-lo em Benjamin Constant.
Embora houvesse voos regulares da Cruzeiro entre Manaus e o aeroporto de Tabatinga, em Benjamin Constant, eu teria de aguardar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para concluir meu percurso. Mas estes voos não tinham hora nem dia certos. Deixei então o número do telefone do hotel em que eu estava hospedado, no centro de Manaus, para que me avisassem quando estivesse confirmado o próximo voo.
Lembrem-se de que não existia o telefone celular para facilitar as coisas. E o Whatsapp, parodiando o Gonzagão, "lá nem sabia se é home ou se é muié".
Passei uns oito dias flanando em Manaus à espera do tal comunicado. Deu para conhecer o centro de Manaus, alguns bairros (como Adrianópolis, Cachoeirinha e Compensa), as instalações do Comando Militar da Amazônia (CMA), na Ponta Negra, o balneário do Tarumã e fazer o obrigatório passeio do "Encontro das Águas". 
Sim, aproveitei para providenciar o passaporte.
Finalmente, confirmou-se um voo que sairia de madrugada para Tabatinga (Benjamin Constant). Avisado à noite, corri até a lavanderia em que eu havia deixado uma parte das minhas roupas, mas não houve como reavê-las. Com as que me restaram, embarquei.
No período em que eu estive na tríplice fronteira (Brasil, Colômbia e Peru) fiz voos a serviço entre Benjamin Constant e Manaus, entre Benjamin Constant e Estirão do Equador, um pelotão do Exército onde prestei serviços médicos durante 2 semanas. Além disso, por determinação do comando, fui buscar no pelotão de Ipiranga um sargento que estava a apresentar uma emergência abdominal (provável peritonite). Mas, para esta missão, arranjaram-me um pequeno hidroavião pilotado por um missionário estrangeiro que residia em Benjamin Constant.
Os aviões operados pela FAB na Amazônia eram o CA-10 Catalina (foto), o C-47 Douglas e o C-115 Buffalo. Voavam em baixa velocidade, não eram pressurizados e havia os que tinham os bancos voltados para o corredor do avião. Sentia-me seguro ao voar no hidroavião Catalina, pois rios é o que não faltam na Amazônia para o caso de um pouso de emergência.
Entre Manaus e Tabatinga, como já disse, havia voos regulares da Cruzeiro. Utilizei-me deles para ir e voltar de Manaus a serviço, com passagens de cortesia que me foram dadas pelo Tenente-Coronel José Ferreira da Silva, o cearense que à época comandava o 1.º Batalhão Especial de Fronteira (hoje 8.º Batalhão de Infantaria de Selva).
Essa utilização de aeronaves civis para deslocamentos a serviço me fez perder os vinte por cento de horas de voo que seriam acresecentados ao soldo no ano seguinte (1975), por não ter alcançado o número suficiente de horas voo em aviões da FAB para fazer jus à gratificação.
Também pelas asas da Cruzeiro fui passar uma parte de minhas férias em Fortaleza. Mas não recordo por quais companhias voei na outra parte das férias em que, durante 15 dias, fiz  o périplo Tabatinga - Bogotá - Quito - Lima - Iquitos - Tabatinga.
• Leitura recomendada
Rio Javari: O Rio Martirizante na Bacia Amazônica (Google Books)
Catalina, Museu Aeroespacial (crédito da foto)
Buffalo, Museu Aeroespacial
• Notas relacionadas
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2011/07/pium-e-carapana.html
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http://gurgel-carlos.blogspot.com/2013/08/recebendo-carga.html
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http://gurgel-carlos.blogspot.com/2017/05/passeio-em-manaus-33.html

Um comentário:

  1. Bom dia, Dr Paulo.
    Estava lendo sobre a sua história e vi que o senhor trabalhou na minha cidade natal Benjamim Constant. Eu nasci no ano que o senhor esteve por lá em 75. Achei o máximo em saber disso, por isso lhe mandei mensagem. Deve ter conhecido meu pai ele era funcionário da funai (funcionário público). Dr Ferreirinha que era da Funai e também médico. Nossa a sua história deve ser muito bonita igual a do meu pai. Meu par era do Piauí, veio para Brasília e de onde foi para o Amazonas, com 22 anos. Muito legal tudo. Feliz 2024
    Erika Luzeiro
    Enviada do meu iPhone.
    ==============================================
    Olá, Erika Luzeiro.
    Feliz 2024. Obrigado por sua mensagem.
    Conheci em Benjamin Constant o Sr. Valdir, funcionário da Funai, o qual me levou para conhecer e passar um fim de semana na vizinha Atalaia do Norte.
    Não sei se você chegou a ler todos os textos que escrevi sobre essa região amazônica. Por isso, envio-lhe os respectivos links.
    https://gurgel-carlos.blogspot.com/2019/08/voos-amazonicos-1974-75.html
    https://gurgel-carlos.blogspot.com/2019/09/benjamin-constant-tabatinga-e-leticia.html
    https://gurgel-carlos.blogspot.com/2019/10/a-perola-do-javari.html
    https://gurgel-carlos.blogspot.com/2013/08/benjamin-constant-e-tabatinga-breve.html
    https://gurgel-carlos.blogspot.com/2020/07/pulmocilin.html
    https://gurgel-carlos.blogspot.com/2019/11/a-islandia-sulamericana.html
    https://gurgel-carlos.blogspot.com/2011/07/pium-e-carapana.html
    https://gurgel-carlos.blogspot.com/2014/09/indios-no-exercito-brasileiro.html
    https://gurgel-carlos.blogspot.com/2012/02/o-pai-do-vento.html

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