O CASTIGO DO COLAR DE CACOS

A poetisa Cora Coralina nasceu em 20 de agosto de 1889, na casa por ela chamada carinhosamente de Casa Velha da Ponte, na antiga capital do Estado de Goiás, hoje cidade de Goiás. Ali viveu por vinte e dois anos, quando em 11 de dezembro 1911, parte "em busca de seu destino", ao lado do seu companheiro de "vida toda", Cantidio Tolentino Figueiredo Bretas, e vive no interior de São Paulo e na própria capital por quarenta e cinco anos. Viúva e já "vestida de cabelos brancos" (Coralina, 1994) contando com 67 anos, retorna à terra natal, obedecendo ao chamado de suas raízes, de sua ancestralidade. Dá-se o seu reencontro com a casa natal em l956.
Em 2014, tendo como objeto de pesquisa uma estatueta conhecida como "menina do caco" (foto), que está no Cemitério da Cidade de Goiás, Samuel Campos Vaz desenvolveu sua dissertação de mestrado A "MENINA DO CACO": IMAGEM, IMAGINÁRIO E RELIGIOSIDADE NO CEMITÉRIO SÃO MIGUEL DA CIDADE DE GOIÁS - GO. Protegida por grades, a estatueta corresponde a uma figura de criança, de cabeça baixa (como se estivesse chorando), enquanto segura na mão esquerda um objeto quebrado. Ela representa uma menina que, por deixar cair uma xícara de porcelana, foi submetida a um castigo, reconhecido como exemplar, para que outras crianças não cometessem o mesmo erro de quebrar uma louça.
Esta narrativa popular se encontra com os contos e uma nota de Cora Coralina, que estão no livro "Poemas dos becos de Goiás e estórias mais", de 1988. Em sua obra, a autora apresenta uma série de razões para o valor que era dado à porcelana. "O castigo do colar de cacos pode ser tomado como referência: foi um costume criado para diminuir, inibir, coibir, ameaçar e prevenir os incidentes com as louças." (Coralina, 1988, p. 86)
 Em "Nota: De como acabou, em Goiás, o castigo dos cacos quebrados no pescoço", Cora Coralina conta a estória da menina Jesuína, filha de escrava forra e órfã, criada pela madrinha de mesmo nome, senhora "apatacada, dona de Teres-Haveres". A menina Jesuina, um dia, por azar, quebra a tampa de uma terrina, e recebe como castigo, um colar de cacos quebrados no pescoço. Numa noite, uma das pontas do caco corta-lhe uma veia do pescoço, ficando ela a noite inteira a esvair-se em sangue e quando a madrinha acorda, encontra-a morta.
Com o sacrifício da menina Jesuína, acaba-se em Goiás o castigo do colar de cacos no pescoço.
Webgrafia
http://toleranciaecontentamento.blogspot.com/2012/07/nota-de-como-acabou-em-goias-o-castigo.html
http://www.uesc.br/seminariomulher/anais/PDF/MARLENE%20GOMES%20DE%20VELLASCO.pdf
http://tede2.pucgoias.edu.br:8080/bitstream/tede/884/1/SAMUEL%20CAMPOS%20VAZ.pdf
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2019/06/mochileiro-do-cerrado-1.html
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2019/06/mochileiro-do-cerrado-2.html

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