Na década de 1960,
Vilamar Damasceno e
Lúcia Arruda apresentavam-se frequentemente nos programas da TV Ceará. Ambos tocavam violão e cantavam, porém com estilos diferentes.
Vilamar costumava cantar boleros, alguns deles autorais, e era um malabarista do violão. Sua voz fazia lembrar a de Altemar Dutra, um cantor que se destacava nas paradas de sucesso.
Lúcia cantava de uma forma intimista, como a cantora Nara Leão, utilizando-se principalmente dos acordes dissonantes para se acompanhar ao violão. Sua interpretação de "A morte de um deus de sal", de Menescal e Bôscoli, era simplesmente antológica.
Vilamar também empregava os acordes dissonantes em suas harmonias. Foi o desejo de aprendê-los que um dia motivou o violonista
Claudio Castro a ir visitá-lo. Naquele tempo, embora a bossa nova estivesse no auge, não era fácil obter as cifras que indicavam o correto acompanhamento das músicas do gênero. (A Vigu, revista "Violão e Guitarra", só apareceria nas bancas de jornais e revistas a partir de 1980.)
O aluno acompanha o mestre, então eu fui com ele. Sem saber que estava para acontecer outra história em que dividiríamos o protagonismo.
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Depois de andarmos muito tempo pelo leito da via férrea, chegamos ao local de destino (no Km 8, acho). Vilamar não estava em casa. Também pudera, Claudio nem ao menos se dera ao trabalho de avisá-lo sobre a nossa visita.
Continuei a acompanhar a carreira artística de Vilamar pela televisão. "Meu lamento", em que ele apela para uma das forças da natureza, tinha se firmado como o grande sucesso dele.
Mar, responde por favor
Onde está o meu amor
Se está sozinho, sem carinho
Sem um calor..."
Claudio sabia imitá-lo com requintes de perfeição nesta música, inclusive com aqueles arpejos que Vilamar executava durante a introdução. No entanto, quase sempre recusava-se a fazê-lo, pois não gostava de bancar o
cover.
Numa tarde, encontrei-me com Vilamar no "Raimundinho", quando este bar ficava Praia de Iracema. Foi ali a minha oportunidade de escutá-lo ao vivo.
Com Lúcia Arruda, no entanto, estive depois com ela em vários saraus. A "musa da bossa nova no Ceará" tornou-se uma grande admiradora do violão de Claudio, e a última notícia que tenho a seu respeito é de 2010. Radicada nos EUA, Lúcia teria vindo a Fortaleza para dar shows e fazer o lançamento de um DVD.
Quanto a Vilamar, virou nome de rua em Messejana.
http://www.consultarcep.com.br/ce/fortaleza/messejana/rua-vilamar-damasceno/60841570