O ÉTIMO DE "BIZU" É ÓTIMO

Antes de contar duas histórias sobre bizus (publicadas no Blog de Marcelo Gurgel), o médico e escritor Dalgimar Menezes fez saber das dúvidas que tinha sobre a etimologia do vocábulo bizu. Com as seguintes palavras:
"Até hoje não sei a origem da palavra bizu. Sei que tem um fonema 'z' tão forte e óbvio que só pode ser escrito com 'z'. Mas, claro poderia ser escrito com 's'. E que é uma palavra discreta, sutil, segredeira. Vários dicionários consultados não a registram. Não está no Aurélio nem no Houaiss. E eu me pergunto: onde andaria? Os estudantes também se perguntam, às vésperas de cada prova: onde andaria?
Houve quem me dissesse que é termo onomatopaico, que quereria significar os sonidos do voo de um besouro. O som que traz uma notícia alvissareira. Não fiquei satisfeito. Andei em busca do étimo em outros dicionários, com baldados esforços. A única palavra que encontrei símile foi a que designa calouro em francês: bizut ou bizuth, que, a propósito dá origem também ao termo francês para trote.
Conhecida ou desconhecida a sua origem, o bizu corre, o bizu escorre, o bizu flui. Mais filosoficamente, o bizu permeia, o bizu pervaga. Pervaga o cérebro dos estudantes. Permeia o curso médico.
Trocando em miúdos, todavia, bizu (bisu?) é a dica, é a deixa que o professor deixou propositada ou involuntariamente escapar sobre a questão que vai cair na prova. Mas não é só isso. O termo tem seus mistérios."
Mestre Dalgimar,
Esse étimo que relaciona o "bizu" ao sonido de um bezouro achei ótimo. Num átimo, lembrei-me de que, ao escrever "O bizu do Sarja", eu dei acolhida a uma certa especulação sobre o assunto. Aqui segue a dita:
Étienne Bézout (Nemours, 31 de março de 1730 — Avon, 27 de setembro de 1783) foi um matemático francês. Em 1758 Bézout foi eleito adjunto em mecânica da Académie des Sciences. Dentre diversos outros trabalhos, escreveu "Théorie générale des équations algébriques", publicado em Paris, em 1779. Seu livro didático se tornou referência a ponto de os professores da época usarem a expressão "vou dar explicação como o Bézout". A expressão foi transformada, aos poucos, em "vou dar o Bézout". Especialmente em escolas militares (Bezout era também o autor de "Cours de mathématiques à l'usage des Gardes du Pavillon et de la Marine", uma obra de quatro volumes que apareceu em 1764-67), onde logo se tornou comum usar o termo "bizu".
Quando a Família Real veio para o Brasil, trouxe, em sua comitiva, diversos professores de Coimbra. Esses docentes foram colocados na Real Academia Militar.
As aulas de Matemática eram o terror dos alunos, até descobrirem que os mestres usavam, como base das aulas e provas, um livro de um autor francês chamado Etienne Bezout.
Assim, corria pelos alunos a informação de que ter o livro do Bezout era fundamental para ter sucesso na matéria. Ter o Bezout era o diferencial e todos queriam o Bezout, que passava de mão em mão.
Essa é a origem (provável) do termo "bizu". 
Paulo Gurgel

BIBLIOTECA DA FMUFC

Os livros-texto indispensáveis à nossa graduação médica não cabiam no orçamento de uma parte dos alunos, então comprávamos os livros menos dispendiosos, e olhem lá. Foram exceções alguns títulos russos que, por algum tempo, apareceram à venda na Faculdade de Medicina. Traduzidos para o espanhol, podiam ser lidos pelos interessados (e não somente pelo Carlos Maurício, que fazia traduções do russo para o Instituto de Biologia Marinha). De tão baratos, comprei alguns deles para ler nas férias em Senador Pompeu.
Como os livros indicados por nossos mestres eram quase sempre muito volumosos, os apelidávamos de "tijolões" (os livros, bem entendido).
Quem não podia comprá-los, recorria à "carteira de empréstimos" da Biblioteca da FMUFC, à época dirigida pela saudosa Professora Cleide Ancilon de Alencar Pereira (falecida em 24/04/2018).

Entrada da Biblioteca da Faculdade de Medicina (1970). Acervo fotográfico do Memorial da UFC

Para os livros mais procurados, existia inclusive uma fila de espera. E, quando só restava um ou poucos exemplares de um determinado título nas prateleiras da Biblioteca, praticava-se então o "overnight". Explico: o aluno tomava aquele livro de empréstimo por uma noite, com o compromisso de devolvê-lo na manhã do dia seguinte.
E, por ocasião das matrículas, tínhamos que provar que estávamos quites com a Biblioteca. Sob pena de sofrermos multas pela negligência.
Da inesquecível Prof.ª Cleide Ancilon (que esteve à frente da Biblioteca da Faculdade de Medicina / Centro de Ciências da Saúde, de 1957 a 1983), aqui transcrevo o seu relato para a publicação de "70 anos da Biblioteca de Ciências da Saúde da UFC":
"O problema de atraso na devolução dos livros, sobretudo os livros-texto, os mais demandados, era constante e difícil de evitar. Foram feitas diversas tentativas, desde conscientizar os alunos de sua responsabilidade para com os colegas, até suspensão do empréstimo pelo dobro do atraso, medida antipática, prejudicial e também ineficaz, vez que os atrasados sempre conseguiam colegas que tiravam os livros em seus nomes. Sendo tudo em vão, tivemos que implantar a multa, cobrando certa importância por dia de atraso. Foi baixada uma Portaria pelo Diretor da Faculdade (Dr. Waldemar Alcântara) neste sentido, ficando outrossim determinado que o dinheiro proveniente da multa seria investido na compra de livros-texto, a serem sugeridos pelos próprios alunos, no ato de pagamento da multa. Foi a maneira encontrada para que a multa fosse aceita, como, de fato, foi e funcionou bem.
Os alunos sugeriam livros, e a Biblioteca comprava os mais solicitados. Um carimbo era posto na página de rosto do livro: “livro adquirido com dinheiro proveniente de multa”, com a data de compra, livraria e preço. Era feito um balanço todos os meses, sendo uma via afixada no flanelógrafo e outra via arquivada. Foi tudo muito bem, até que, um belo dia, após mudança na Administração Superior, fui convocada pelo novo Pró-Reitor de Planejamento sob ameaça de processo administrativo, porque todo o dinheiro arrecadado deveria ser recolhido aos cofres da Reitoria. Confesso que desconhecia a Lei, portanto a ilegalidade do meu procedimento fazia de mim uma ré confessa, com todas as provas contra mim; carimbo nos livros e balanço, tendo como defesa a Portaria do Diretor. Daí em diante, até hoje, o dinheiro da multa é recolhido aos cofres da UFC, o que é pena."
https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/57890/1/2019_liv_agmoreira.pdf

Salão de leitura da biblioteca da Faculdade de Medicina da UFC (1970). Acervo fotográfico do Memorial da UFC

Outro recurso largamente usado pelos alunos era o de copiar as aulas em borrões. Para dar mais agilidade ao ato de anotar, devo confessar que desenvolvi uma taquigrafia particular em que o "i" se restringia ao próprio ponto e os advérbios em "mente" eram escritos assim: "m—".
Quem possuía um gravador de voz, utilizava-se da ferramenta nas palestras mais importantes. E depois se reunia com o os colegas do grupo de estudos para que ouvissem as gravações realizadas. Por vezes, o dono do gravador datilografava as aulas e distribuía as cópias com os colegas.
Louvo aqui o Dr. Aluísio Pinheiro que, além das boas aulas de Psicologia que nos ministrava, disponibilizou as apostilas em que podíamos rever o assunto.

WALDEMAR RESSURREIÇÃO (1914 - 1980)

Conterrâneo do compositor e multi-instrumentista José Menezes, Waldemar Ressurreição nasceu na região do Cariri (Jardim), no Ceará. Com 13 anos seguiu com os pais para a cidade baiana de Ilhéus. Por essa época ganhou de presente um cavaquinho, e, logo que aprendeu a tocar um pouco, começou a compor. Em 1932, mudou-se para o Rio de Janeiro.
Em 1944, criou o grande sucesso carnavalesco "Que Rei sou eu?", em parceria com Herivelto Martins, um samba que foi gravado por Francisco Alves na Odeon. Esse samba fazia alusão ao rei CaroI II da Romênia, que abdicou do trono por causa da pressão sobre seu reino pelos nazistas. Refugiando-se no Rio de Janeiro com Madame Lupescu, hospedou-se no Copacabana Palace como uma pessoa comum, sem nenhuma realeza ostensiva, o que intrigava o carioca: afinal, que rei era aquele?
Foi o que inspirou a criação deste samba, gravado por Chico Alves na Odeon, que foi um grande sucesso no carnaval de 1945.
"Que rei sou eu? / Sem reinado e sem coroa / Sem castelo e sem rainha / Afinal que rei sou eu?"
Ainda em 1945, Waldemar compôs com Herivelto o samba "Rei sem coroa", uma espécie de prolongamento do samba "Que Rei sou eu?", o qual foi também gravado por Francisco Alves na Odeon.
"Que rei sou eu? / Que vive assim à toa / Sem reinado e sem coroa / Sem castelo e sem ninguém?"
"Que Rei sou eu?" e "Rei sem coroa" estão disponíveis no canal do Luciano Hortencio no YouTube, neste pseudovídeo:


Em 1998, "Rei sem coroa" constou do show de João Gilberto no Teatro do Sesc Vila Mariana. Com a recente edição do álbum "Relicário" pelo @selosec, o aúdio pode ser apreciado aqui (LINK). É a faixa 14.

GENEALOGIA E PATRONÍMICO CONJUGAL

Pelas regras internacionais das boas práticas em Genealogia, ao menos no Ocidente, as mulheres devem ser apontadas por seus nomes completos de solteiras.
Em Portugal e no Brasil, os "nomes de casadas" só começaram a aparecer depois da segunda metade do século XIX. Portanto, o patronímico conjugal ("nome de casada") trata-se de um fenômeno recente. Foi praticamente introduzido pelo código napoleônico e, por essa influência, estendeu-se aos países ocidentais.
Usar o nome de solteira nas árvores genealógicas apresenta as seguintes vantagens:
  • Impede que sejam perdidos os ramos matrilineares dessas árvores.
  • Conecta as mulheres às suas famílias de nascimento.
  • Ao gravar o nome pré-matrimonial, mantém-se a consistência da árvore familiar a que ela pertence.
  • Essa orientação é válida especialmente nas plataformas de Genealogia, como Family Search, My Heritage, GenPro, Geni e outras.
Assim, se não souber o nome de solteira de uma mulher, deixe o sobrenome em branco. Escreva o seu nome de casada apenas em campo próprio (quando houver).
O nome de solteira sempre!