MULHER RENDEIRA

Mulher Rendeira é um xaxado (com origem do termo em "xaxar" ou arranhar). Um gênero de música e dança que traduz o ruído peculiar das alpercatas (alpargatas) no chão seco e pedregoso do sertão nordestino.
Em 1927, ao som desta cantiga, o bando de Virgulino Lampião atacou a cidade de Mossoró (RN). Mas sem vencer a resistência da polícia e do povo que reagiram juntos.
Apresento o tema em duas versões:
A mais conhecida, de 1953, interpretada por Alfredo Ricardo do Nascimento, o Zé do Norte, esta é a versão que faz parte da trilha sonora do filme "O Cangaceiro", de Lima Barreto.
Olê, mulher rendeira
Olê, mulher rendá
Tu me ensina a fazer renda
Eu te ensino a namorar. (refrão)
http://youtu.be/GvcnD_QA5vY (arr. de Alfredo Ricardo Nascimento, o Zé do Norte)
Na trilha do filme "O cangaceiro", uma produção Vera Cruz de 1953, essa música (de origem folclórica, mas que dizem ser do próprio Lampião) é interpretada pelos Demônios da Garoa. Eles, por sinal, a gravaram na mesma época, junto com o cantor Homero Marques. "Mulher rendeira" teve inúmeras gravações e divulgação internacional por conta do filme. Entretanto, quem mais se beneficiou com o sucesso mundial da película foi sua distribuidora, a multinacional Columbia Pictures, e a Vera Cruz acabou falindo. (Fonte: musicólogo Samuel Machado Filho)
É provável que Lampião tenha-se inspirado em sua avó materna, a sra. Maria Jacosa Vieira Lopes, a Tia Jacosa, que era dedicada a fazer rendas.

Quanto à segunda versão, a "autêntica", no dizer de Volta Seca, que foi cangaceiro do bando de Lampião, sabe-se que, em 1957, Volta Seca gravou um LP com oito músicas: "As cantigas de Lampião", com instrumentação do maestro Guio de Moraes. Em 2000, a InterCD relançou em CD o disco "As cantigas de Lampião", com narração do locutor Paulo Roberto. As composições levam a assinatura de Volta Seca, mesmo as clássicas "Mulher rendeira" e "Maria Bonita" (ler A poesia em estado puro), tidas como de domínio público.
Olê, mulher rendeira
Olê, mulher rendá
A pequena vai no bolso
A maior vai no emborná
Se chorar por mim não fica
Só se eu não puder levar.
O fuzil de Lampião
Tem cinco laços de fita
No lugar que ele habita
Não falta mulher bonita.
http://youtu.be/yxjWPUJmVvA (versão do Volta Seca)
Há também uma versão peruana de "Mulher Rendeira": "Mujer Hilandera", que muitos no Peru julgam erroneamente se tratar de uma canção local. Gravada por Juaneco y su Combo, no álbum Leyenda Amazónica, a música tem uma levada diferente (que lembra uma cumbia) e a seguinte letra:
Ole, mujer hilandera... ole, ole, ole
Ole, mujer hilandera... ole, ole, ole
Tú me enseñas a hacer hilo
Yo te enseño a enamorar.
O internauta Luís Alberto Espinoza Bazán tem a explicação para "Mulher Rendeira" haver ressurgido como "Mujer Hilandera" no Peru:
"La primera versión que conocimos de este tema, la trajeron los Indios Tabajaras del Brasil que visitaron Lima en 1954, y actuaron en Radio El Sol en Amplitud Modulada, presentados por los grandes locutores Gaston Guido, y Alberto Sorogastua Leiva. Los Tabajaras eran además de buenos cantantes, extraordinarios guitarristas, y hablaban muy bien el español e inglés. En 1955, el sello Rca Victor de New York los contrata y desde entonces se vuelven famosisimos."
Leitura complementar: A RENDA DE BILROS

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