AS CEM EDIÇÕES DO JORNAL DA GÍRIA. UM MARCO NO MUNDO GÍRIO

J. B Serra e Gurgel (de Acopiara), jornalista e escritor
Não poderíamos deixar passar em branco o aniversário das cem edições do Jornal da Gíria, em 16 anos. e que pode ser acessado no www.cruiser.com.br ou no www.dicionariodegiria.com.br.
Temos quase a mesma idade da Internet no Brasil.
Começamos com a Cruiser, um dos primeiros provedores de Internet no Brasil, a partir de Niteroi/RJ, onde vivemos e crescemos para resgatar o patrimônio gírio do Brasil.
Tivemos dois formatos de apresentação. Este é o segundo. Confesso que está na hora de uma mudança. Neste território livre, o conservadorismo é mortal.
Quando começamos, fomos pioneiros, não havia muita informação sobre Gíria. Fomos nos aperfeiçoando e tentamos, na medida do possível, datar e localizar a gíria, a partir da primeira citação. Para isso foram igualmente importantes os registros do livros que foram escritos praticamente no idioma gírio
Havia outros sites de busca, antes do surgimento do Pai Google de Aruanda
Em todos eles, quando a busca era Gíria sempre aparecíamos em 1º lugar. Fosse com o Jornal da Gíria (quase tudo que se publicou no Brasil sobre gíria foi registrado pelo Jornal) que tem um apreciável acervo, fosse com o Dicionário de Gíria, a caminho da 9ª. edição, podendo chegar aos 40 mil verbetes.
Sem concorrência, rapidamente chegamos aos 500 mil acessos. Uma referência.
Com a concorrência, passamos dos 600 mil mas estamos distantes de 1 milhão.
De qualquer forma, somos uma referência em gíria. Com um compromisso com a língua portuguesa, com a língua falada dos povos de língua portuguesa, com a língua viva, com a evolução da linguagem, pois é assim que caminha a humanidade, voltada para o futuro sem desprezar o passado.
Foi-se o tempo em que a gíria era a linguagem da malandragem, dos marginalizados, dos pobres, dos negros. Hoje, a gíria é a segunda língua dos brasileiros de todas as classes sociais, nível de escolaridade e gênero.
A gíria era utilizada pelo rádio e pelos jornais populares, que hoje usam e abusam da gíria e dos regionalismos. Os jornais da elite escreviam na linguagem padrão. A televisão resistia. Hoje, os jornalões usam a gíria com aspas, itálico ou negrito e a televisão aberta incorporou o idioma gírio nas suas novelas para alcançar e se identificar com as classes C, D e E.
As periferias e os grupos sociais exclusivos que foram emergindo expandiram de forma exponencial a fronteira gíria, com grafiteiros, surfistas, banhistas, funkeiros, rappeiros etc. Igualmente se acentuou a gíria tecnificada com os bordões publicitários e do humor.
Mas estão em curso profundas mudanças na linguagem, sem que se saiba onde vão parar. O internetês, o sms , o facebuquês e as redes sociais estão impondo uma nova linguagem e, por consequência, uma nova língua. Quem for podre vai se arrebentar. Os cascos da língua portuguesa, depois de 500 anos de navegação em mares tranquilos, estão avariados.
As academias de Letras do Brasil e de Portugal, que se omitiram indecentemente nas comemorações dos 300 anos da gíria na língua portuguesa e nos 100 anos da gíria no Brasil, não estão nem aí para as mudanças estruturais na língua.
O acordo linguístico se preocupa com hífen, trema e acentos, e se esqueceu do principal: o ensino da língua que é um fundamento da nacionalidade.
Brasil e Portugal são países de baixos índices de leitura.
As livrarias estão sumindo
Os livros estão sumindo.
O português arcaico (antigo) tem um patrimônio de 500/600 mil palavras. O português atualmente abrigado na linguagem padrão tem um acervo comum aos países de língua portuguesa de 250/300 mil palavras.
A massa não conhece 5% desse universo.
Em alguns países da comunidade dos países de língua portuguesa, como Angola e Moçambique, há muitos dialetos tribais, além da gíria.
No Brasil, recorre-se com intensidade aos regionalismos, próprios de determinadas áreas, e à gíria que não é totalmente nacional, pois deriva do regionalismo.
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