Diogo Fontenelle
"A saudade é dor pungente, morena.
A saudade mata a gente, morena."
(João de Barro)
Cartas na gaveta secreta da escrivaninha, há muito esquecidas,
Cartas de palavras que já perderam os seus lumes e perfumes.
Se foram cartas de finado amor, de singelas ternuras perdidas...
Quem há de saber? Quem embalou tão profundos queixumes?
Cartas de caligrafias sinuosas a escalar cordilheiras de ânsia,
A conduzir paixões selvagens pelas roldanas do peito juvenil.
Eram caligrafias risonhas de alunos em férias numa estância
A girar o pião das benquerenças pelo cordão do sonho febril.
Cartas sumidas pelos verdes horizontes dos azuis-sonhares
A assobiar orvalhadas músicas das madrugadas de serenata.
Cartas ancoradas em vozes veladas, em desmaiados olhares
A revelar que a vida é canto de passarinho em breve sonata.
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