Como anteriormente mencionado, para a maioria, os que tivessem continuado a seguir ocultamente o judaísmo seriam denominados marranos enquanto que os que de fato tenham, ao longo das gerações, se tornado cristãos, devem ser chamados de cristãos-novos. Wolff (1991) emite a seguinte opinião sobre essa última categoria:
"Cristão-novo é uma expressão mais ampla abarcando os judaizantes e a grande massa de católicos praticantes, descendentes de israelitas".
O grande estudioso judeu e sua esposa Frieda Wolff, cercam-se de muito cuidado ao citar em seus livros aqueles elementos de origem judaica, preferindo sempre arrolar como cristão-novo apenas os que conseguem documentalmente registrar como judaizantes.
Instado a falar sobre genealogia judaica, proferiu palestra no Colégio Brasileiro de Genealogia em 20 de março de 1989, discutindo a origem judaica de algumas famílias do Rio de Janeiro. Dentre as pessoas ali apontadas, referiu-se a Domingas de Arão, tronco da família Gurgel do Amaral. Transcreveremos o que diz o eminente escritor:
"Enquanto o nome Arão indica uma ascendência israelita, encontramos na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Anais do Congresso de História do Segundo Reinado, Comissão de Genealogia e Heráldica, pág., 107 e 108, o artigo de Celso Maria de Melo Pupo, "O Visconde Anfitrião de Suas Majestades", com informes importantes a respeito do patronímico. De Arão e Daram seriam corruptelas do apelido de Aram, nome de uma família que teria adquirido propriedade situada em vale espanhol, na fronteira da França, região que tem o nome Aram, aportuguesado depois d´Aran, Daran, de Arão."
✅Domingas de Arão (do Amaral) casou-se com o francês Toussaint Gurgel em princípios do século XVII no Rio de Janeiro, mas interessa a genealogia nordestina, pois um dos ramos da família, fundada pelos acima nomeados, estabeleceu-se no Aracati e a partir dai, para Caraúbas no Rio Grande do Norte, com larga descendência, como registra Aldysio Gurgel do Amaral.
Mais modernamente, Marcelo Meira Amaral Bogaciovas, na Edição comemorativa do cinquentenário do Instituto Genealógico Brasileiro, também teceu considerações críticas a respeito das origens familiares dos Amaral Gurgel, perguntando qual seria a origem dos sobrenomes Amaral, que surge na família, ligado ao que tudo indica, a Domingas. Também por esse ramo é bom lembrar a possibilidade da origem semita dos Amaral Gurgel, como se lê em Baião (1973):
"Alli Lopes, mercador mourisco convertendo-se chamou-se João Dias, dizem que casou em Vizeu com uma judia estalajadeira na Praça, a que chamavam Maria ou Mor Afonso. Deles descendem muitos cavaleiros da beira do apelido de Loureiro e de Amaral..."
Sobre um ramo paraibano dessa família D´arão ou Daran, informa José Romero Araújo Cardoso, geógrafo e estudioso do cangaço, que na sua família sempre se soube descenderam de cristão-novos, e que o tronco seria o cristão-novo João Ignácio Cardoso D´arão que, acusado de práticas judaizantes, refugiou-se em Pombal, na Paraíba. Foi casado com Catarina Seixas e tiveram oito filhos, um deles se
chamava Aarão e outro Abel Ignácio Cardoso D´Aarão.
Uma filha tinha por sobrenomes Cardoso de Alencar e segundo informa aquele estudioso, seriam também da mesma linhagem do romancista José de Alencar.
Com respeito a essa família Alencar, é interessante verificar o esforço de alguns de seus membros para entroncá-la nos Alanos, via corruptela de Alencar (Leão,1971), quando mais próximo da verdade seja considerá-los cristão-novos, pois ostentam os apelidos Pereira e Rego, normalmente infamados. De qualquer maneira, sigo com a opinião de que faltam ainda provas da origem semita dessa família cearense.
FILGUEIRA, M.A. Os judeus foram nossos avós. Fundação Vingt-Un Rosado, Coleção Mossoroense, Série "C". Vol. 2011, p.113-116.
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