O processo
Nos meses seguintes (à prisão dos inconfidentes), as autoridades realizaram devassas em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Por ordem da rainha Maria I a Louca, instalou-se no Rio de Janeiro, em dezembro de 1790, um tribunal de alçada, a mais alta instituição de justiça da colônia, para completar a investigação. A corte se compunha de seis desembargadores, três enviados de Lisboa e três nomeados pelo vice-rei.
A devassa prolongou-se até 1792 e, em 18 de abril daquele ano, foi lavrada a primeira sentença, que condenou 11 réus à "morte natural para sempre" no patíbulo: Tiradentes, Freire de Andrade, Álvares Maciel, Alvarenga Peixoto, Domingos de Abreu, Luís Vaz, Amaral Gurgel, José Resende da Costa, José Resende da Costa Filho, Vidal de Barbosa e Oliveira Lopes. Três réus haviam morrido na prisão e os outros foram absolvidos. Depois da leitura da sentença divulgou-se uma carta régia, até então mantida em sigilo, na qual D. Maria I concedia ao tribunal poderes para comutar a pena de morte em degredo. Em nova sentença, de 20 de abril, os juízes decidiram que não devia ser poupado apenas o "infame réu" Joaquim José da Silva Xavier, considerado "indigno da real piedade". Os demais foram condenados a degredo perpétuo ou temporário na África e tiveram os bens confiscados.
Em 21 de abril de 1792 foi cumprida a sentença contra Tiradentes, que na devassa chamara a si toda a responsabilidade pelo movimento e afirmara ter agido "sem que outra pessoa o movesse ou lhe inspirasse coisa alguma". Tiradentes subiu ao partíbulo com serenidade e firmeza. Os pedaços de seu corpo esquartejado foram expostos nos caminhos do Rio de Janeiro a Vila Rica, para lição ao povo.
Foram mandados para o degredo na África os réus Alvarenga Peixoto, Tomás Antônio Gonzaga, João da costa Rodrigues, Francisco Antônio de Oliveira Lopes, Salvador de Carvalho do Amaral Gurgel, Vitoriano Gonçalves Veloso, Álvares Maciel, Freire de Andrade, Domingos de Abreu Vieira, Luís Vaz de Toledo Piza, José Aires Gomes, Antônio de Oliveira Lopes, Vicente Vieira da Mota, Domingos Vidal de Barbosa, João Dias da Mota, José de Resende Costa e José de Resende Costa Filho, o único que retornou ao Brasil. Os sacerdotes implicados tiveram processo à parte e cinco deles foram condenados e enviados a Lisboa, onde ficaram presos na fortaleza de São Julião da Barra. Três tiveram comutada a pena de enforcamento para prisão perpétua: os padres Carlos Correia de Toledo e Melo, José Lopes de Oliveira e José da Silva e Oliveira Rolim. Os dois primeiros morreram na prisão e o padre Rolim voltaria ao Brasil, assim como o cônego Luís Vieira da Silva e o padre Manuel Rodrigues da Costa, mais tarde constituinte e deputado, como Resende Costa Filho. O delator Joaquim Silvério recebeu como recompensa da rainha Maria I o título de fidalgo da Casa Real, uma pensão anual de 400 mil-réis e o hábito da Ordem de Cristo.
Embora não tenha passado da fase conjuratória, a inconfidência mineira foi sem dúvida um marco na luta pela independência do Brasil e apresentou, pela primeira vez na história da colônia, características de um movimento de cidadania nacional revestido de ideologia política.
Fonte: Avicena
BiografiaPara conhecer a história do inconfidente Salvador de Carvalho do Amaral Gurgel, nascido em Parati - RJ, médico, recomendo a leitura de dois excelentes trabalhos disponíveis na internet:
Um Gurgel fluminense que foi inconfidente mineiro, de João Bosco Serra e Gurgel. In: Google Docs.
O inconfidente que virou santo: estudo biográfico sobre Salvador Carvalho do Amaral Gurgel, de Adelto Gonçalves. In: Scielo. PGCS