A Expressão Gráfica e Editora, ao ensejo da XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará, realizou em seu estande no Centro de Eventos, na última sexta-feira (23), às 17 horas, o lançamento do livro "Ridendo castigat mores: contando causos".
Este livro, o 104.º de autoria do Prof. Marcelo Gurgel Carlos da Silva, médico e atual presidente da Sobrames - Regional Ceará, foi por mim apresentado, em substituição ao escritor e historiador Juarez Leitão, que não pôde estar presente no evento por motivo de força maior. PGCS
Prefácio: ESSE JEITO BREJEIRO DE OLHAR A VIDA...
Abelardo Montenegro, em seu ensaio sobre a Praça do Ferreira, analisa a capacidade cearense de enfrentar as mazelas da sorte pelo lado irônico, como uma forma de resistência, uma defesa contra as pedras que o destino nos tem historicamente atirado.
Rir da desgraça alheia é uma maldade indesculpável. Mas ninguém pode punir quem ri da própria desgraça, vacinando-se contra a angústia ou a depressão que as desditas poderiam causar, gerando uma realidade nova, uma espécie de soberania espirituosamente construída sobre a tosca condição anterior. A essa nação, governada pela alegria, o sociólogo crateuense denominou de “Ceará-Moleque”, classificação geral de comportamentos, façanhas e atitudes galhofeiras, típicas dos cabeças-chatas, tiradores de versos jocosos, contadores de causos e vaiadores do sol.
O escritor Marcelo Gurgel já vem, desde algum tempo, se dando ao trabalho árduo e prazeroso de garimpar esse lado curioso de nossa natureza emocional, seguindo os passos de Leonardo Mota, Eduardo Campos, Plautos Cunha, Hilário Gaspar, Waldy Sombra e Narcélio Limaverde, dentre outros, que igualmente foram despertados para pesquisar a molecagem sadia dos alencarinos.
Desta vez, Marcelo Gurgel se fez mais abrangente, cobrindo o Brasil inteiro em sua busca de histórias de humor e vexames, dividindo o seu apanhado em quatro categorias: Futebol, Semana Santa, Educação e Mal-Entendidos.
O que chamamos de causo difere da simples piada ou até mesmo da anedota e da estória. Trata-se da narrativa de episódio supostamente verídico, que pode sofrer acréscimos ou supressões, dependendo de seu contador, em função de melhor efeito do humor que pode provocar. Assim como as três outras modalidades de situações hilariantes, é mister que a história seja rápida, contenha as palavras exatas para uma caprichada evolução e termine com um disparo que provoque o riso.
Há quem julgue que esse tipo de literatura seja menos importante ou mais fácil de ser produzida. Os que pensam assim navegam em águas enganosas. Como a narração de causos exige simplicidade e concisão, é espinhosa para um intelectual a tarefa de esconder a erudição e descer ao patamar da linguagem direta, linear, sem tentação de rebuscamento ou emprego afoito de símbolos e metáforas, própria das oficinas dos poetas, oradores e romancistas.
Marcelo Gurgel leva a bom termo o empreendimento literário a que se propõe ao nos apresentar mais este livro.
Uma obra intencionalmente leve, que retrata esse jeito especial do brasileiro e, especialmente do cearense, ver a vida, dela retirando o fel e conservando o mel, o mesmo, talvez dos lábios de Iracema ou dos melhores doces da infância.
O RISO CASTIGA OS COSTUMES, tradução livre do título latino do livro, além de ser uma verdade objetiva, é uma necessidade espiritual e cívica.
Um manual para o desarmamento das asperezas da vida, nesses tempos virtuais de pouca conversa e raras alegrias.
Então, degustar RIDENDO CASTIGAT MORES por certo fará bem à saúde!
Juarez Leitão
da Academia Cearense de Letras e do Instituto do Ceará
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