Casaram-se na última quinta-feira Dermeval Pedrosa e Magna Gurgel. Um enlace resultante da harmoniosa convivência, que os dois iniciaram no Ibama (o órgão em que ambos trabalham) e que, mundo afora, cresceu neles em profundidade para transformá-los em parceiros do Amor.
A recepção foi à noite no Revoir Buffet, no bairro do Cocó.
E, nos cartões de agradecimento distribuídos aos convidados, lia-se Camões:
"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer."
Votos de uma vida em comum venturosa a Dermeval e a minha irmã Magna.
Original: Blog EM, 31/03/2007
Sobre a família Gurgel Carlos, os bairros de Otávio Bonfim e Cocó, em Fortaleza, as cidades de Acarape, Redenção e Senador Pompeu, no Estado do Ceará, a Faculdade de Medicina (UFC), minhas caminhadas e viagens, assuntos culturais e artísticos notadamente locais, memórias e fatos pitorescos.
DE IRMÃO PARA IRMÃO (MANO A MANO)
Em comum, além de o fato de sermos irmãos, abraçamos a mesma profissão: a Medicina. Pertenço à safra de 71, da Universidade Federal do Ceará; Marcelo, à de 77. Uma diferença de seis anos, o tempo entre o rito de iniciação, um quase escalpo sob as mangueiras de Porangabuçu, e o direito ao canudo de papel, recebido com pompa e circunstância na Concha Acústica da Universidade. No tempo em questão, cabendo nele sem folga, o tal Curso de Medicina.
Um tempo cumprido com galhardia por Marcelo nos anfiteatros, laboratórios e enfermarias da Faculdade de Medicina. Nos primeiros anos de sua graduação, raro pude estar com ele. Tangido para outras freguesias pelos sopros de minha profissão. Ao retornar, deparei-me com o aluno exemplar. Sobraçando “tijolões” , varando plantões. Naqueles, para buscar conhecimentos teóricos; nestes, para ajustá-los à dimensão da dor humana.
Discípulo grato, em seu oratório entronizava os grandes mestes da Faculdade de Medicina. Lembro-me de quanto admirava (com reciprocidade, ao que tudo indica) os mestres Dr. Haroldo Juaçaba, Dr. José Carlos Ribeiro e Dr. Paulo Marcelo Martins Rodrigues... Dr. Ribeiro, este encaminhava-lhe os acadêmicos confusos sobre as escolhas de “créditos” para que Marcelo, alçado na condição de um especialista no assunto, mostrasse-lhes o norte magnético.
E lembro-me também de que gostava de espairecer-se da Medicina estudando... a História da Medicina.
Um dia saiu da História para entrar na Vida. Vida de médico formado. Mas, ao intuir que “médicos nunca se formam” , tornou a ser aluno. Em seguida, de aluno a professor, e vice-versa. Hoje, nesse movimento pendular, que é Marcelo no exato momento? Alguém que lê, escreve, leciona, pesquisa, revisa, planeja, aprende, publica, orienta... Em sua azáfama profissional e científica, é Marcelo daqueles que seguem à risca o preceito de que nada resiste ao trabalho. E o seu dia parece dispor de horas adicionais, que não badalam para os outros mortais.
Sem arroubos de minha parte, Marcelo é hoje uma legenda pulsante da Medicina cearense. Pelo conhecimento científico, cultura humanística, dedicação profissional, caráter impoluto, comportamento ético. E, fazendo juntada a esses predicados, o entusiasmo. O inesgotável entusiasmo com que se lança em todas as suas ações. Pondo-lhes os devidos remates em quaisquer circunstâncias.
(Orgulho-me de me apresentar como seu irmão. Aliás, não dispenso o gênico detalhe. Apesar de que ele cavilosamente já tentou me usurpar a primogenitura. Alegando que alguma vez eu a cedi por um prato de lentilhas. Nego peremptoriamente.)
Convocado por Elsie, integro-me aqui aos que rendem homenagens a Marcelo. Por suas virtudes emolduradas pelo ouro da simplicidade. Por seus defeitos desbastados pelo diamante da consciência. Por seus pensamentos, palavras & sobras. E, ainda assim, não estou a preitear as reverências bastantes ao irmão-colega. Daí, para completar a louvação, eu louvar-me também em Bertold Brecht:
“Há homens que lutam um dia, e são bons.
Há homens que lutam um ano, e são melhores.
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons.
Porém há os que lutam por toda a vida.
Estes são imprescindíveis.”
Um destes homens, com certeza, é o ser humano chamado Marcelo. O qual, na razão inversa de não se pretender perfeito, a quase tem chegado.
Um tempo cumprido com galhardia por Marcelo nos anfiteatros, laboratórios e enfermarias da Faculdade de Medicina. Nos primeiros anos de sua graduação, raro pude estar com ele. Tangido para outras freguesias pelos sopros de minha profissão. Ao retornar, deparei-me com o aluno exemplar. Sobraçando “tijolões” , varando plantões. Naqueles, para buscar conhecimentos teóricos; nestes, para ajustá-los à dimensão da dor humana.
Discípulo grato, em seu oratório entronizava os grandes mestes da Faculdade de Medicina. Lembro-me de quanto admirava (com reciprocidade, ao que tudo indica) os mestres Dr. Haroldo Juaçaba, Dr. José Carlos Ribeiro e Dr. Paulo Marcelo Martins Rodrigues... Dr. Ribeiro, este encaminhava-lhe os acadêmicos confusos sobre as escolhas de “créditos” para que Marcelo, alçado na condição de um especialista no assunto, mostrasse-lhes o norte magnético.
E lembro-me também de que gostava de espairecer-se da Medicina estudando... a História da Medicina.
Um dia saiu da História para entrar na Vida. Vida de médico formado. Mas, ao intuir que “médicos nunca se formam” , tornou a ser aluno. Em seguida, de aluno a professor, e vice-versa. Hoje, nesse movimento pendular, que é Marcelo no exato momento? Alguém que lê, escreve, leciona, pesquisa, revisa, planeja, aprende, publica, orienta... Em sua azáfama profissional e científica, é Marcelo daqueles que seguem à risca o preceito de que nada resiste ao trabalho. E o seu dia parece dispor de horas adicionais, que não badalam para os outros mortais.
Sem arroubos de minha parte, Marcelo é hoje uma legenda pulsante da Medicina cearense. Pelo conhecimento científico, cultura humanística, dedicação profissional, caráter impoluto, comportamento ético. E, fazendo juntada a esses predicados, o entusiasmo. O inesgotável entusiasmo com que se lança em todas as suas ações. Pondo-lhes os devidos remates em quaisquer circunstâncias.
(Orgulho-me de me apresentar como seu irmão. Aliás, não dispenso o gênico detalhe. Apesar de que ele cavilosamente já tentou me usurpar a primogenitura. Alegando que alguma vez eu a cedi por um prato de lentilhas. Nego peremptoriamente.)
Convocado por Elsie, integro-me aqui aos que rendem homenagens a Marcelo. Por suas virtudes emolduradas pelo ouro da simplicidade. Por seus defeitos desbastados pelo diamante da consciência. Por seus pensamentos, palavras & sobras. E, ainda assim, não estou a preitear as reverências bastantes ao irmão-colega. Daí, para completar a louvação, eu louvar-me também em Bertold Brecht:
“Há homens que lutam um dia, e são bons.
Há homens que lutam um ano, e são melhores.
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons.
Porém há os que lutam por toda a vida.
Estes são imprescindíveis.”
Um destes homens, com certeza, é o ser humano chamado Marcelo. O qual, na razão inversa de não se pretender perfeito, a quase tem chegado.
Paulo Gurgel Carlos da Silva
In: "Marcelo Gurgel em Verso e Anverso"
P.S. - Livro organizado por Elsie Studart, Adbeel Goes e Cristine Studart de Santana em edição comemorativa do duplo Jubileu de Prata de Marcelo Gurgel: 25 ANOS DE MAGISTÉRIO E FORMATURA EM MEDICINA, 1977 - 2002.
HONRA AO MÉRITO NA SOBRAMES CEARÁ
PAULO GURGEL CARLOS DA SILVA - Presidente da SOBRAMES CEARÁ de 1985 a 1987
Nasceu em Fortaleza – Ceará, em 06/06/1948. Graduou-se médico pela Faculdade de Medicina da UFC em 1971, especializando-se a seguir em pneumologia. No período de 1972 a 1977, foi oficial médico do Ministério do Exército, havendo trabalhado em hospitais militares no Rio de Janeiro, Amazonas e Ceará. No Hospital de Messejana, onde atualmente é aluno do Curso de Extensão Saúde Baseada em Evidências (HSL/Anvisa), já exerceu os cargos de chefe do Arquivo Médico, chefe do Serviço de Pneumologia, diretor da Divisão Médica e presidente do Centro de Estudos Manuel de Abreu. Na Secretaria da Saúde do Ceará, em 1989, coordenou o Serviço de Pneumologia Sanitária e, no período de 1998 a 2007, foi assessor especial em Pneumopatias Ocupacionais. Também foi um dos fundadores da Seção Ceará da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, havendo participado como vogal de sua primeira diretoria. Em 1985, sucedendo a Dr. Emanuel de Carvalho Melo, assumiu a presidência da Sobrames Ceará para gerir os destinos desta entidade até 1987. Em sua gestão editou o livro Nomes e Expressões Vulgares da Medicina no Ceará (1985, IOCE), de Eurípedes Chaves Junior, e organizou, ilustrou e editou Criações (1986, Gráfica do CMC), uma coletânea reunindo textos literários de nove médicos filiados da Sobrames Ceará. Em 1987, após passar a presidência desta sociedade para o colega Geraldo Bezerra da Silva, assumiu a sua vice-presidência. Em 1990, na gestão do colega Luís Gonzaga de Moura Júnior, retornou à situação de vogal da Sobrames Ceará. Em 1992, coordenou o Módulo Médicos Escritores do VIII Outubro Médico, promovido pelo Centro Médico Cearense. Recebeu premiações em concursos literários patrocinados pelo BNB Clube de Fortaleza e pela Associação Médica Brasileira. Prefaciou o livro Em Busca de Poesia, de Dalgimar Beserra, e teve comentários inseridos nos livros A Cor do Fruto, de Fernando Novais, e Nossos Momentos, de Wellington Alves, e Otávio Bonfim, das Dores e dos Amores - Sob o Olhar de uma Família, de Marcelo Gurgel. Sua obra literária figura nas antologias Verdeversos (1981), Encontram-se (1983), MultiContos (1983), Temos um Pouco (1984), A Nova Literatura Brasileira (1984), Escritores Brasileiros (1985), Poetas do Brasil (1985), Criações (1986), Sobre Todas as Coisas (1987), Letra de Médico (1989), Efeitos Colaterais (1990), Meditações (1991), AMB – 40 anos (1991), Outras Criações (1992), Esmera(L)das (1993), Prescrições (1994), Antologia até Agora (1996), Médicos Escritores & Escritores Médicos da FMUFC (1998), Marcelo Gurgel: Verso e Anverso (2003), Dos Canaviais aos Tribunais - A Vida de Luiz Carlos da Silva (2008) e Achado Casual (2008).
Nasceu em Fortaleza – Ceará, em 06/06/1948. Graduou-se médico pela Faculdade de Medicina da UFC em 1971, especializando-se a seguir em pneumologia. No período de 1972 a 1977, foi oficial médico do Ministério do Exército, havendo trabalhado em hospitais militares no Rio de Janeiro, Amazonas e Ceará. No Hospital de Messejana, onde atualmente é aluno do Curso de Extensão Saúde Baseada em Evidências (HSL/Anvisa), já exerceu os cargos de chefe do Arquivo Médico, chefe do Serviço de Pneumologia, diretor da Divisão Médica e presidente do Centro de Estudos Manuel de Abreu. Na Secretaria da Saúde do Ceará, em 1989, coordenou o Serviço de Pneumologia Sanitária e, no período de 1998 a 2007, foi assessor especial em Pneumopatias Ocupacionais. Também foi um dos fundadores da Seção Ceará da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, havendo participado como vogal de sua primeira diretoria. Em 1985, sucedendo a Dr. Emanuel de Carvalho Melo, assumiu a presidência da Sobrames Ceará para gerir os destinos desta entidade até 1987. Em sua gestão editou o livro Nomes e Expressões Vulgares da Medicina no Ceará (1985, IOCE), de Eurípedes Chaves Junior, e organizou, ilustrou e editou Criações (1986, Gráfica do CMC), uma coletânea reunindo textos literários de nove médicos filiados da Sobrames Ceará. Em 1987, após passar a presidência desta sociedade para o colega Geraldo Bezerra da Silva, assumiu a sua vice-presidência. Em 1990, na gestão do colega Luís Gonzaga de Moura Júnior, retornou à situação de vogal da Sobrames Ceará. Em 1992, coordenou o Módulo Médicos Escritores do VIII Outubro Médico, promovido pelo Centro Médico Cearense. Recebeu premiações em concursos literários patrocinados pelo BNB Clube de Fortaleza e pela Associação Médica Brasileira. Prefaciou o livro Em Busca de Poesia, de Dalgimar Beserra, e teve comentários inseridos nos livros A Cor do Fruto, de Fernando Novais, e Nossos Momentos, de Wellington Alves, e Otávio Bonfim, das Dores e dos Amores - Sob o Olhar de uma Família, de Marcelo Gurgel. Sua obra literária figura nas antologias Verdeversos (1981), Encontram-se (1983), MultiContos (1983), Temos um Pouco (1984), A Nova Literatura Brasileira (1984), Escritores Brasileiros (1985), Poetas do Brasil (1985), Criações (1986), Sobre Todas as Coisas (1987), Letra de Médico (1989), Efeitos Colaterais (1990), Meditações (1991), AMB – 40 anos (1991), Outras Criações (1992), Esmera(L)das (1993), Prescrições (1994), Antologia até Agora (1996), Médicos Escritores & Escritores Médicos da FMUFC (1998), Marcelo Gurgel: Verso e Anverso (2003), Dos Canaviais aos Tribunais - A Vida de Luiz Carlos da Silva (2008) e Achado Casual (2008).
MENSAGEM AO PAULO, MEU PRIMEIRO FILHO
Domingo, 6 de junho de 1948. Hoje é o dia mais feliz da minha vida, ao experimentar a alegria de ser pai, pois o Senhor Mo deu o primogênito que perpetuará o sobrenome Carlos da Silva. Minha adorável consorte, Elda, acordou às 3h30, com o badalar dos sinos da Igreja de Nossa Senhora das Dores convocando os fiéis para a Missa das 4h, ofício religioso dirigido pela Ordem Terceira Franciscana, tendo sido despertada pelas dores do parto, prenunciando a breve chegada de nosso bebê.
De pronto, como um assustado neófito em paternidade, peguei um carro de aluguer e fui a Jacarecanga buscar a experiente parteira, D. Maria Juca, para acudir a minha jovem e graciosa esposa; após examinar a parturiente, sentenciou que o trabalho de parto fora iniciado, com a ruptura da bolsa das águas, mas seria demorado por ser nulípara, e que, a partir de então, deveria ser suspensa qualquer alimentação até o nascimento do menino. Em seguida, pediu-me para levá-la de volta à casa para arrumar seus apetrechos, com o fito de dar conta da longa vigília que teria a enfrentar.
Dona Maria Juca retornou um pouco antes do almoço, supostamente para enfrentar uma longa batalha, do seu ofício de ajudar a pôr no mundo mais uma criatura de Deus. Elda, na flor da idade, aos dezessete anos, demonstrou firmeza e suportou as contrações da mãe do corpo, com a bravura de uma mulher feita e calejada na arte de parir. Há um mês estamos na casa de minha dileta sogra, que gentilmente nos cedeu um quarto, para que a sua filha ficasse mais tranquila, para o momento de ser partejada. Ao anoitecer, à hora do ângelus, enquanto os sinos de nossa igreja repicavam anunciando a bênção das 18h, na residência da Rua Domingos Olímpio, 2.209, o choro forte do recém-nato ecoava na vizinhança, para publicizar a estreia de meu herdeiro de sangue.
O meu contentamento foi alargado quando a parteira notificou-me que era um belo garoto, o que preenchia a nossa predileção por começar uma prole com um menino, que, antecipadamente, Elda e eu, concordamos em denominá-lo de Paulo, prestando, desse modo, uma justa homenagem ao seu avô materno, que precocemente nos deixou, regressando ao Pai.
Somente depois do parto, ao cabo de um dia de jejum, Elda tomou um chá com torradas e na sequência, acariciou a nossa criaturinha, a quem ofereceu os seios, para nutri-lo com o manjar lácteo e o colo, para garantir a proteção e o aconchego maternos ao produto de nosso extremo amor; depois disso, agora extenuada, dorme calmamente, entregue inteiramente aos braços de Morfeu, enquanto a mim, cabe velar por seu sono e vigiar nosso filho, nessas suas primeiras horas de vida.
Já era quase dez horas da noite quando peguei uma caneta e papel de carta, para rabiscar algo, que relate esse momento singular de minha existência. Fito o meu frágil rebento, de pouco mais de 3kg, e percebo a delicadeza de seus traços, com finos cabelos loiros e olhos claros, compondo uma beleza tipicamente angelical. Por volta da meia-noite, ele acordou, como que clamando por ajuda, então notei que estava com o cueiro molhado, que foi logo por mim substituído e talvez estivesse com frio, pois, ao tomá-lo nos braços, o calor de meu corpo o aqueceu e ele, bem aninhado, aquietou-se e voltou a dormir, sem que sua mãe fosse acionada, parecendo até que ele desejava poupá-la, respeitando o desgaste físico por Elda sofrido, com a sua vinda.
Era 3h13, quando Elda naturalmente despertou e desejou amamentar nosso filho, não o fazendo porque ponderei que ele dormia silente e não deveria estar com fome ainda, sendo melhor que esperasse mais um pouco, para o momento em que o nosso lactente reclamasse, o que de fato aconteceu às 4h, e desta vez o choro indicava a exigência da alimentação, de imediato sanada com o providencial leite materno.
Nessas horas de vigília, muitas recordações sobrevêm, como se fossem uma recapitulação dos anos vividos, desde quando deixei a minha terra natal, a cidade redentora por seu pioneirismo na abolição dos escravos do Brasil, recordando os bons e saudosos tempos de aluno marista, o curso de perito-contador, o curso pré-jurídico e, finalmente, a minha formatura em Direito; porém, a mais intensa dessas lembranças se fixa no amor que o bom Deus privilegiou-me, brindando-me ao trazer Elda para os meus braços e de cuja união, concedeu-me um sucessor, uma prova inconteste de nossa mútua afeição.
Uma inquietação, todavia, me perturba: a feliz coincidência de inaugurar a paternidade no dia dedicado ao venerável Marcelino Champagnat, fundador da Ordem dos Irmãos Maristas, os principais responsáveis pela minha educação formal, e que igualmente plasmaram as minhas convicções católicas; talvez fosse esse um sinal de que deveria batizar o meu primogênito de Marcelino. Reflito e reconsidero que o nome Paulo, alusivo ao grande propagador do cristianismo, perpetuaria, entre os descendentes de Paulo Coelho, a memória de um exemplar pai de família, cujo passamento prematuro podara os sonhos de tantos filhos; quem sabe, se com o meu próximo filho, se menino for, terei a possibilidade de homenagear o grande educador e propulsor do marianismo no mundo ocidental.
Olho detidamente a jóia que Deus nos mandou e antevejo para ele um futuro promissor. A ela, darei o melhor de mim; receberá uma educação marista e será criado em um lar cristão, recebendo as atenções de primeiro neto de José e Valdevina Carlos da Silva e de minha sogra Almerinda Gurgel Coelho, ora marcada pelo sofrimento da viuvez; com tudo isso, será um vencedor, não importando a profissão que ele venha a escolher.
Agora são seis horas... os raios do sol alumiam as copas das frondosas árvores do quintal da casa de D. Almerinda... os passarinhos nos encantam com os seus cantos... um novo e venturoso dia desabrocha e uma criança recém-chegada felicita um novo casal. Elda está bem; acha que já está plenamente recuperada do cansaço de ontem e se vê ansiosa para cuidar de seu precioso bebê.
Que Deus te proteja, doce Paulinho!
Beijos afetuosos do teu pai.
De pronto, como um assustado neófito em paternidade, peguei um carro de aluguer e fui a Jacarecanga buscar a experiente parteira, D. Maria Juca, para acudir a minha jovem e graciosa esposa; após examinar a parturiente, sentenciou que o trabalho de parto fora iniciado, com a ruptura da bolsa das águas, mas seria demorado por ser nulípara, e que, a partir de então, deveria ser suspensa qualquer alimentação até o nascimento do menino. Em seguida, pediu-me para levá-la de volta à casa para arrumar seus apetrechos, com o fito de dar conta da longa vigília que teria a enfrentar.
Dona Maria Juca retornou um pouco antes do almoço, supostamente para enfrentar uma longa batalha, do seu ofício de ajudar a pôr no mundo mais uma criatura de Deus. Elda, na flor da idade, aos dezessete anos, demonstrou firmeza e suportou as contrações da mãe do corpo, com a bravura de uma mulher feita e calejada na arte de parir. Há um mês estamos na casa de minha dileta sogra, que gentilmente nos cedeu um quarto, para que a sua filha ficasse mais tranquila, para o momento de ser partejada. Ao anoitecer, à hora do ângelus, enquanto os sinos de nossa igreja repicavam anunciando a bênção das 18h, na residência da Rua Domingos Olímpio, 2.209, o choro forte do recém-nato ecoava na vizinhança, para publicizar a estreia de meu herdeiro de sangue.
O meu contentamento foi alargado quando a parteira notificou-me que era um belo garoto, o que preenchia a nossa predileção por começar uma prole com um menino, que, antecipadamente, Elda e eu, concordamos em denominá-lo de Paulo, prestando, desse modo, uma justa homenagem ao seu avô materno, que precocemente nos deixou, regressando ao Pai.
Somente depois do parto, ao cabo de um dia de jejum, Elda tomou um chá com torradas e na sequência, acariciou a nossa criaturinha, a quem ofereceu os seios, para nutri-lo com o manjar lácteo e o colo, para garantir a proteção e o aconchego maternos ao produto de nosso extremo amor; depois disso, agora extenuada, dorme calmamente, entregue inteiramente aos braços de Morfeu, enquanto a mim, cabe velar por seu sono e vigiar nosso filho, nessas suas primeiras horas de vida.
Já era quase dez horas da noite quando peguei uma caneta e papel de carta, para rabiscar algo, que relate esse momento singular de minha existência. Fito o meu frágil rebento, de pouco mais de 3kg, e percebo a delicadeza de seus traços, com finos cabelos loiros e olhos claros, compondo uma beleza tipicamente angelical. Por volta da meia-noite, ele acordou, como que clamando por ajuda, então notei que estava com o cueiro molhado, que foi logo por mim substituído e talvez estivesse com frio, pois, ao tomá-lo nos braços, o calor de meu corpo o aqueceu e ele, bem aninhado, aquietou-se e voltou a dormir, sem que sua mãe fosse acionada, parecendo até que ele desejava poupá-la, respeitando o desgaste físico por Elda sofrido, com a sua vinda.
Era 3h13, quando Elda naturalmente despertou e desejou amamentar nosso filho, não o fazendo porque ponderei que ele dormia silente e não deveria estar com fome ainda, sendo melhor que esperasse mais um pouco, para o momento em que o nosso lactente reclamasse, o que de fato aconteceu às 4h, e desta vez o choro indicava a exigência da alimentação, de imediato sanada com o providencial leite materno.
Nessas horas de vigília, muitas recordações sobrevêm, como se fossem uma recapitulação dos anos vividos, desde quando deixei a minha terra natal, a cidade redentora por seu pioneirismo na abolição dos escravos do Brasil, recordando os bons e saudosos tempos de aluno marista, o curso de perito-contador, o curso pré-jurídico e, finalmente, a minha formatura em Direito; porém, a mais intensa dessas lembranças se fixa no amor que o bom Deus privilegiou-me, brindando-me ao trazer Elda para os meus braços e de cuja união, concedeu-me um sucessor, uma prova inconteste de nossa mútua afeição.
Uma inquietação, todavia, me perturba: a feliz coincidência de inaugurar a paternidade no dia dedicado ao venerável Marcelino Champagnat, fundador da Ordem dos Irmãos Maristas, os principais responsáveis pela minha educação formal, e que igualmente plasmaram as minhas convicções católicas; talvez fosse esse um sinal de que deveria batizar o meu primogênito de Marcelino. Reflito e reconsidero que o nome Paulo, alusivo ao grande propagador do cristianismo, perpetuaria, entre os descendentes de Paulo Coelho, a memória de um exemplar pai de família, cujo passamento prematuro podara os sonhos de tantos filhos; quem sabe, se com o meu próximo filho, se menino for, terei a possibilidade de homenagear o grande educador e propulsor do marianismo no mundo ocidental.
Olho detidamente a jóia que Deus nos mandou e antevejo para ele um futuro promissor. A ela, darei o melhor de mim; receberá uma educação marista e será criado em um lar cristão, recebendo as atenções de primeiro neto de José e Valdevina Carlos da Silva e de minha sogra Almerinda Gurgel Coelho, ora marcada pelo sofrimento da viuvez; com tudo isso, será um vencedor, não importando a profissão que ele venha a escolher.
Agora são seis horas... os raios do sol alumiam as copas das frondosas árvores do quintal da casa de D. Almerinda... os passarinhos nos encantam com os seus cantos... um novo e venturoso dia desabrocha e uma criança recém-chegada felicita um novo casal. Elda está bem; acha que já está plenamente recuperada do cansaço de ontem e se vê ansiosa para cuidar de seu precioso bebê.
Que Deus te proteja, doce Paulinho!
Beijos afetuosos do teu pai.
Luiz Carlos da Silva
por Marcelo Gurgel Carlos da Silva
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