ENCONTROS COM BELCHIOR

1
Quando eu cursava medicina na UFC, ouvia falarem de um aluno na Faculdade de Medicina que se destacava por seu talento de compositor. Chamava-se Belchior, mas não foi por termos sido contemporâneos na Faculdade que nos conhecemos.
Fui conhecê-lo no dia em que um amigo, Osternes Brandão (irmão do poeta e letrista de música Antônio José Brandão) me convidou para um sarau. A casa do meu amigo ficava na Parquelândia e levei comigo o violonista Claudio Costa. Nesse dia, além de Antonio Carlos Belchior, conheci  também o Miguel da Flauta.
Era manhã e fez-se tarde. Quando alguém sugeriu que continuássemos a reunião no Bar do Anísio, na Beira-Mar. E fomos todos a esse local no carro do anfitrião Osternes.
Além de nos apresentar as canções que vinha compondo, pelas tantas Belchior passou a mostrar outras versatilidades, tais como 1) fazer repente e 2) contar causos.
Causo
Faziam os alunos da Medicina um semicírculo em torno do professor da disciplina de Proctologia. Com todos interessados em acompanhar, da melhor forma possível, os ensinamentos do mestre naquela aula prática. E, também, em ver os detalhes da lesão que ele, com a ajuda da mão enluvada e lubrificada, estava a lhes apontar... na região anal de um paciente.
Num dado momento, em seu afã de descrever a patologia, o mestre empregou uma expressão de duplo sentido: "na entrada". No jargão proctológico, esta expressão tem um sentido próprio. Mas não para o paciente que, em posição de prece maometana, tomou por desfeita o que acabara de ouvir. A ponto de retrucar peremptoriamente: "Alto lá, doutor, esse negócio aí nunca foi entrada. É só saída".
E sair com ar de ofendido.

[comentário]
Estimado Paulo,
Como a disciplina de Proctologia, com 4 créditos = 60 horas, foi por mim criada e implantada em 1965, para ser ofertada como "optativa", é bem provável, ou certamente (a bem da verdade, não recordo), esse causo aconteceu numa de minhas aulas. De qualquer maneira, categoricamente afirmo que, muita coisa jocosa e muitos "causos" patéticos por lá ocorreram.

José Maria Chaves

2
Em 6 de junho de 1969, botei umas cervejas para gelar e encomendei umas bandejas de salgadinhos. Reuni em minha casa Francisco Dário, Osternes Brandão, Claudio Costa e o compositor Belchior, entre outros amigos. Por volta da meia-noite, encerramos a parte doméstica da noitada e fomos ao Pombo Cheio, onde nos encontramos com o Miguel da Flauta em seu retorno de um compromisso profissional.
Naquela data, eu estava completando 21 anos. Uma fita-cassete registrou aquelas maravilhosas canções que foram tocadas e cantadas durante o encontro. Uma delas, por exemplo, era a canção "Paralelas", que Belchior originalmente cantava assim: "No Karmann-Ghia, sobre o trevo a cem por horas, meu amor". Adiante, foi que ele modificou a letra da canção para: "Dentro do carro..."
No entanto, algo aconteceu com a fita-cassete da festa. Meu irmão Marcelo usou-a para gravar umas anotações que a nossa irmã Marta havia feito em caderno de uma aula de biologia do Prof. Hildemar. E, ao fazer o novo registro, o gravador (que era de fita única) apagou definitivamente o registro anterior.

3
Em 1972, com frequência eu me deslocava do centro do Rio para Copacabana, e vice-versa. Quando o ônibus passava por/sobre o viaduto do Botafogo, dava para ver que existia um pequeno teatro nas proximidades. Um belo dia, notei que aquele teatro estava com uma placa, onde se lia em letras garrafais: BELCHIOR. À noite, fui ver o show do conterrâneo. Pouca gente a prestigiá-lo. No repertório, Belchior incluía um clássico da "música de fossa" nacional, provavelmente  do Lupicínio. Ao interpretá-la, foi que alguém acionou a estrondosa descarga de um vaso sanitário do teatro (risos, mas era tudo combinado). Findo o show, descemos ao aterro do Botafogo para conversar: Belchior, eu e uma terceira pessoa (Lauro Benevides? Pretestato Melo? Ah, não recordo). Quanto a Belchior, deduzi que a música o havia desencaminhado das lides acadêmicas. Como, em tempos mais remotos, aconteceu a Noel Rosa, um "monstro sagrado" da música popular brasileira.

4
Voltando a residir em Fortaleza, numa noite fui a um show do Gonzaguinha no teatro da Emcetur. Belchior chegou acompanhado do jornalista Odosvaldo Portugal Neiva, que cobria a pauta de música no Diário do Nordeste. E tivemos uma conversa rápida.

5
Em minhas andanças boêmias, uma vez resolvi baixar num restaurante novo (com algumas indicações a point). Não me recordo do nome do estabelecimento, apenas de que ele ficava próximo à Praça Portugal. Numa boca de noite, sentei-me a uma mesa e comecei a beber. Algumas horas após, já meio sonolento, paguei a conta para me retirar. Na calçada, alguém que acabava de chegar com amigos, abraçou-me e disse: "Professor, já está indo?" Era Belchior. Mudei de ideia e voltei ao bar. Como eu havia lido um texto de Belchior no Pasquim e do qual muito gostara, convidei-o para prefaciar um livro que eu vinha escrevendo. Não posso acusá-lo de haver faltado comigo, pois eu nunca concluí aquele livro.

6
Show do Belchior no Siará Hall. Fui (com Elba) ao Siará Hall, uma casa de eventos localizada na av. Washington Soares, em Fortaleza. Inaugurada em 2005, contava com uma infraestrutura que comportava mega-shows. Considerada a maior casa de espetáculos da cidade até seu fechamento em 2017, trouxe shows e espetáculos de níveis nacionais e internacionais. Bem, visitei-o no camarim, ora pois.

FALECIMENTO DA PROF.ª M. ZÉLIA ROUQUAYROL

É com pesar que aqui registro a notícia do falecimento, na madrugada de 13/02/2025, de um grande nome da Epidemiologia e da Saúde Pública no Brasil: a Prof.ª Dr.ª Maria Zélia Rouquayrol.
Zélia nasceu em Pernambuco (03/09/1931) e graduou-se em Farmácia, em 1955, pela Universidade Federal de Pernambuco, onde iniciou sua trajetória docente como instrutora de ensino de Microbiologia. No ano seguinte, foi transferida para a Universidade Federal do Ceará (UFC), instituição em que ocupou, de forma progressiva, os cargos de instrutor de ensino, professor assistente, professor adjunto e professor titular.
Em 1969, fez o Curso de Especialização no Institute of Tropical Medicine em Antuérpia-Bélgica. Entre 1975 e 1976, durante o mestrado Master of Public Health realizado na Tulane University-USA, publicou o trabalho Control of schistosomiasis in the irrigated áreas of Curu River. Ao retornar ao Brasil, deu continuidade às pesquisas e ao ensino da disciplina de Epidemiologia na UFC.
Conheci esta notável pesquisadora, no início da década de 1980, quando Zélia preparava a primeira edição de seu "Epidemiologia & Saúde", que viria a se tornar num livro-texto adotado por diversas universidades no Brasil. Em visita que fez ao Hospital de Messejana, ela me convidou para participar do quadro de colaboradores da referida edição, um encargo que aceitei ao escrever o capítulo sobre "Saúde Ocupacional".
Após sua aposentadoria como professora titular da UFC, além de professora titular da Universidade de Fortaleza (em que lecionou entre 1982 e 1989, e retornou em 2003), Maria Zélia passou a integrar a Secretaria de Saúde de Fortaleza, onde contribuiu com investigações epidemiológicas e coordenou a publicação do Boletim de Saúde da Célula de Vigilância Epidemiológica.
"Ao deixar um legado inestimável para a ciência e a saúde pública no país", como salienta o médico sanitarista Marcelo Gurgel, "Maria Zélia Rouquayrol permanecerá como inspiração, sobretudo para mulheres que atuam ou desejam atuar profissionalmente nessas áreas."
Requiescat in pace.

TELEFÉRICOS NO CEARÁ

Conceito de teleférico. É um meio de transporte aéreo que utiliza cabos de aço para sustentar e tracionar cabines que transportam pessoas ou materiais. O teleférico é um meio de transporte popular em áreas montanhosas, pois proporciona uma vista panorâmica aos passageiros. O termo teleférico vem do francês téléphérique.

  1. Bondinho de Ubajara. O Teleférico (bondinho) faz um trajeto de 550 metros, entre a Estação Monte (planalto) e a Estação Gruta (inferior, próximo à Gruta). O bondinho é utilizado pelos visitantes que pretendem visitar a Gruta do Parque Nacional de Ubajara.
  2. Teleférico do Horto. Instalado na Colina do Horto, em Juazeiro do Norte, foi inaugurado pelo Governo do Estado do Ceará em 2022. Os bondinhos percorrem uma distância de aproximadamente dois quilômetros, em um tempo de 7 minutos e meio. Este equipamento é importante para incrementar o turismo na região, principalmente o religioso, já que liga a Praça dos Romeiros ao local onde fica a estátua de Padre Cícero.
  3. Teleférico de Caldas. Instalado no Complexo Ambiental Mirante de Caldas, em Barbalha, é um teleférico de cadeiras. Conta também com mirante, passarelas, borboletário, centro de interpretação histórica e ambiental e um café cultural. Foi entregue à população cearense pelo Governo do Estado em 2021.

Outros teleféricos no Brasil:

🚠 Bondinho do Pão de Açúcar RJ 🚠 Teleférico Parque UniPraias SC 🚠  Teleférico de São Vicente SP 🚠 Teleférico do Parque Capivari, Campos do Jordão SP 🚠 Teleférico de Bonito PE

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ESPEDITO SELEIRO

"Trabalhar com o artesanato, com o couro, foi o que Deus me deu, e é o que eu acho bom. Não existe preguiça, falta de coragem, nem de memória para fazer o que eu quero. Toda a família está envolvida; neto, filho, sobrinho, primo, irmão; e a algum vizinho que está desempregado, não tendo o que fazer, eu digo: venha para o couro." (ES)
Nascido em 29 de outubro de 1939 em Arneiroz, cidade do Sertão dos Inhamuns, Espedito Veloso de Carvalho representa não apenas a cultura e a criatividade cearenses, mas também é figura importante do Nordeste brasileiro.
Toda a sabedoria que Espedito costura no couro até hoje começou a ser aprendida quando ele ainda era menino, na década de 1940. Ao ver o pai, Raimundo Pinto de Carvalho, que era vaqueiro e agricultor, fabricando selas e trajes para vaqueiros sertanejos (chapéu de couro, gibão, peitoral, luvas, entre outras peças), a criança brincava com os cortes que caiam no chão enquanto desenhava o próprio futuro. 
Foi no Cariri cearense que ele criou raízes e iniciou sua carreira como artesão,. tornando-se um dos principais marcos da cultura nordestina.
Considerado mestre, Espedito Seleiro é um artesão que carrega a tradição e a cultura em suas mãos. A habilidade de produzir peças em couros na região do Cariri, é reconhecida no Brasil e no mundo. Aos 85 anos, ele mantém viva uma arte que, tendo passado de geração em geração (desde seu tataravô), tornou-o um patrimônio vivo.
Mestre Espedito Seleiro ainda hoje mora em Nova Olinda, na região do Cariri, no Sul do Ceará.
Ele produz calçados, bolsas, chapéus, carteiras, bancos, poltronas, além das selas, gibões e outros elementos da cultura vaqueira.
É um difusor das tradições, histórias e identidade do Ceará, repassando seus saberes e experiências às novas gerações.
Principais títulos e homenagens
● Mestre da Cultura (reconhecido pelo Governo do Ceará e pelo Ministério da Cultura)
● Medalha da Abolição
● Título de Notório Saber pela Universidade Estadual do Ceará
● Troféu Sereia de Ouro do Sistema Verdes Mares em 2019
Em 16/01/2025, estivemos em Nova Olinda (a 543 quilômetros de distância de Fortaleza) na casa de Espedito Seleiro para conhecê-lo. A residência fica numa quadra onde estão também uma loja de  artefatos de couro, uma oficina escola (na qual ele supervisiona os trabalhos feitos por jovens artesãos) e o Museu sobre o Ciclo do Couro. Espedito foi muito gentil ao nos receber, logo nos convidando a que sentássemos para uma conversa. Enquanto descascava e comia vagarosamente umas laranjas, tivemos com ele um agradável bate-papo. Em que o mestre falou das origens e do aprendizado, de suas experiências com pigmentos, dos artistas que vestiram seus gibões (Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Alceu Valença e outros), da relação (amistosa) com aqueles que copiam sua arte, muita coisa. E, a um comentário que fiz sobre a presença de sua arte ilustrando o livro do pesquisador Paulo Vanderley, ele imediatamente apontou para um quadro na parede da sala com a imagem que ele criara para ilustrar a capa.
Da esquerda para a direita: José, Luciano, Paulo e Espedito Seleiro