PORQUE HOJE É 28 DE JANEIRO

Luiz Carlos da Silva, meu pai, nascido a 28/01/1918, estaria completando 94 anos hoje se vivo fosse.
A Parte I PER IL CAPO DE LA FAMIGLIA, de "Refazendo o caminho: passado e presente de uma família", o próximo livro de Marcelo Gurgel, será mais uma homenagem a ele. Atuando como ghost-writer, Marcelo escreveu este capítulo procurando preservar o estilo e as concepções paternas, ambientando os textos nele enfeixados (seis ao todo) a um tempo recuado de várias décadas. Já em fase de impressão na "Expressão Gráfica", o livro será lançado em março próximo.

NO AUGE DA LESTE – OESTE

Por Carlos Jose Holanda Gurgel
Avenida Leste-Oeste, década de 1970
Início dos anos 70, o auge da Discoteca. O movimento mundial da chamada Dancing Music assolava o país. A MPB estava no fundo do poço.Tudo que lembrasse cantores ou canções em português soava e era rotulado como brega. As músicas tinham obrigatoriamente que ser em inglês para ter aceitação. Cantores medíocres, letras idem e arranjos bizarros completavam o sucesso. E o som necessariamente tinha que ser alto, muito alto. De preferência ensurdecedor para encobrir as vozes desafinadas e as letras sem nexo. A platéia gritava, pulava freneticamente, sem ritmo e sem cadência sob luzes estroboscópicas, feixes coloridos e piscantes de luzes refletindo nos globos espelhados que giravam no teto das salas escuras. O chão, as paredes, o teto, todo ambiente parecia se mover. A fumaça dos inúmeros cigarros e por vezes artificial (de gelo seco) completava o ambiente asfixiante e delirante das discotecas. As velhas boates, promovidas a pistas de dança e adaptadas de qualquer maneira ao modismo, surgiam renovadas e com nomes exóticos. Templos da diversão e prazer e também de muita droga e sexo, muito sexo.
Foi nessa época e nesse ambiente que surgiram e floresceram os inúmeros bares, boates e inferninhos da nova e recém inaugurada Avenida Leste-Oeste. A cidade crescia vertiginosamente, puxada pelo “milagre econômico” e sob a batuta da Gloriosa Revolução de 64. Bebidas, drogas, prostituição, tudo podia. Contanto que não fosse contra a ordem pública ou oposição ao regime. As novas avenidas começavam a rasgar a velha Fortaleza, inclusive com a construção do seu primeiro viaduto. Viaduto esse que ficou famoso e para não fugir ao espírito moleque do cearense foi logo batizado de “Tatazão”. Uma homenagem ao conhecido e popular homossexual “Zé Tatá”, um velho travesti que residia no submundo do centro da cidade. A região central também começava a mudar.
Pertinho dali, na Praça da Estação e por trás da velha Estação da REFFSA ficava a zona do baixo meretrício, o popular e conhecidíssimo Curral e mais abaixo as Cinzas. Um lugar degradante, formado por vielas imundas com seus inúmeros barzinhos e bordéis e habitado por prostitutas e marginais. Uma vergonha para a cidade. Era necessário extirpar essa ferida do centro da capital. A construção da nova e imponente avenida veio a calhar. Como se diz por aqui: passaram a máquina, literalmente. Não ficou nem as cinzas dos casebres e dos velhos cabarés. Uma larga e asfaltada avenida foi aberta cortando a cidade pela orla no sentido Leste-Oeste, inaugurada oficialmente em 1973 e batizada com o pomposo nome de Avenida Presidente Humberto de Alencar Castello Branco. Pra variar, o nome não pegou e até hoje é conhecida apenas como Av. Leste-Oeste. Começando no centro, na altura do QG da 10ª Região Militar, passando pela Escola de Aprendizes Marinheiros e pelos bairros da Jacarecanga, Morro do Ouro, Pirambu e indo até a Barra do Ceará. Uma magnífica obra de engenharia urbana e uma limpeza visual e social de várias áreas degradadas e miseráveis da capital.
As autoridades esqueceram, porém de um detalhe. O que fazer com os antigos moradores do Curral? Com o fim da zona, como os antigos proprietários de bares e cabarés e as dezenas de prostitutas e seus cafetões iriam sobreviver sem seus negócios? Não deu outra. Logo no início da recém inaugurada avenida começaram a surgir as novas casas de diversão. Pipocaram inúmeros bares toscos com estruturas improvisadas e nomes pitorescos. Eram as tais discotecas, um misto de bar e restaurante e com pistas de dança grotescas. A maioria delas coladas umas nas outras, formando uma longa fila de pontos de encontros e de prostituição. Entre os points se destacavam pelo movimento e estrutura os bares Beco, Reboco e Ladeira. Tinham de tudo no “cardápio”, além de bebidas e comidas. Usando uma expressão bem cearense: nesses locais tinha “viado pra dar de pau” e “rapariga dava no meio da canela”. E tudo movido ao som ensurdecedor das “discotecas” e muita, muita bebida.
Curiosamente, junto com o surgimento de tais bares-discotecas, ou puteiros como queiram, aumentou inexplicavelmente a presença de homossexuais nessa região da avenida. Não sei explicar se pela evolução dos costumes ou se pela miséria e degradação social da época,mas nunca se viu tanta “viadagem” nessa terra de macho como naquele tempo. E ao som dos hits da época os gays, “travecos” e assemelhados disputavam, por vezes às tapas, a clientela com as raparigas. As bandas e os cantores do momento eram, entre outros, The Police, ABBA, Village People, Tina Charles, Donna Summer, Diana Ross e, em especial a rainha e madrinha das “bichas, a internacional Gloria Gaynor. Quando ela soltava o vozeirão e entoava o hino do gênero “I Will Survive” as pistas fervilhavam e as “bonecas” iam ao delírio. Pulavam, dançavam e gritavam histericamente com as mãozinhas para e alto acompanhando o hino:

Oh no, not I! I will survive!
Oh, as long as I know how to love
I know I'll stay alive!
I've got all my life to live.
I've got all my love to give.
And I'll survive. I will survive! Oohh...

A noite se estendia ao som das melodias e regada com tudo que pudesse ser bebido, fumado ou cheirado. Aos pouco os casais iam se formando e se dirigindo para os também inúmeros motéis espalhadas nas proximidades. Os bares iam se esvaziando e os clientes que resistiam procuravam se manter em pé ou ainda tentar “pegar” uma rapariga que sobrou. E a música continuava em volume máximo. Lá no horizonte, pras bandas do Porto do Mucuripe, o sol ameaçava romper. Vendo o movimento cair, o gerente do bar apelava para mais um dos hits da época com a inigualável Gloria Gaynor. Entrava com o outro hino “Can’t Take My Eyes Off You”. Aumentava ao limite máximo o volume e detonava. Era mais uma chamada e a galera atendia enchendo a pista de dança. Para quem ainda estava solteiro era a hora da última tentativa de arranjar companhia e de pedir mais uma bebida ou a “saideira”.
Ainda na da década de 70, com a saturação do estilo discoteca, a região entrou em rápida decadência. Hoje, nada mais disso existe. Dos áureos tempos da Leste-Oeste restam apenas lembranças. Nem mesmos as velhas estruturas ou um único bar remanescente, nada consegui sobreviver. Quem passa hoje pelo local não imagina que ali, naquela área quase vazia e desabitada e somente com alguns casebres e prédios decadentes, a cidade se divertia e foi palco de uma época de muita alegria, farras e esbórnia. Reina atualmente no local apenas o mau cheiro e o odor nauseante da Estação de Tratamento de Esgotos da CAGECE. Coisa da minha terra. Coisas do Ceará.

DOIS MARCOS GÍRIOS EM 2012

Caro Paulo,
Grato pela elegância do gesto.
O que me move é a defesa da gíria como sistema linguístico válido.
A gíria tem morfologia, fonética e sintaxe como a linguagem padrão. Não é lingua de marginais. Pessoas de todas as classes, credos, idade, sexos, renda e escolarização falam gíria.
Em 2012, estamos comemorando dois marcos gírios:
- Centenário do lançamento do 1.º livro brasileiro de gíria, "Giria dos Gatunos Cariocas", de Elysio de Carvalho.
- Tricentenário da 1.ª referencia à giria na lingua portuguesa, pelo padre Raphael Bluteau, em seu "Dicionário da Língua Portugesa", aprovado pela Santa Inquisição.
As datas não serão assinaladas pela Academia Brasileira de Letras.
Atenciosamente,
JB Serra e Gurgel

UMA LIVRARIA EM SANTA TERESA - RJ

Dez médicos administram uma livraria no bairro de Santa Teresa - RJ, a "Largo das Letras".
"Não estamos tendo lucros, mas não falimos ainda", segundo nos informa - com uma dose de bom humor - a médica Maria Regina, uma das sócias no empreendimento.
Maria Regina, que é formada pela Universidade Federal do Ceará em 1971, convida-nos a dar uma passada nessa livraria em caso de viagem ao Rio.
E brinda-nos com uma galeria de imagens do encantador bairro de Santa Teresa, dentre as quais podemos ver o casarão (do século XIX) em que está situada a "Largo das Letras".

PARQUE ARAXÁ. QUANTAS LEMBRANÇAS

Por Carlos José Holanda Gurgel
O bairro Parque Araxá fez parte da minha infância e juventude sob vários aspectos. Não morei propriamente nele, porém muito próximo. A casa dos meus pais ficava mais precisamente na Avenida Bezerra de Menezes, no vizinho bairro de São Gerardo. Localizado na zona Oeste da nossa capital, o bairro do Parque Araxá cresceu desordenadamente e sem a infra-estrutura necessária, como todos os demais. Atualmente está totalmente descaracterizado e muito diferente do que foi nas décadas de 60 e 70. Naquela época tinha vida e personalidade própria. E fama de local de belas mulheres e muita festa animada, em especial as tertúlias. Suas ruas eram estreitas e o pavimento de pedras de granito, o popular calçamento, assim como a maioria das ruas de Fortaleza. Asfalto ainda era um luxo a apenas visto nas grandes avenidas da cidade. O bairro sofria de crônicos problemas de drenagem e no período de chuvas, nosso inverno, a maioria das ruas ficava completamente alagada por semanas. Tornava-se um inferno de lama e de mosquitos e muriçocas, que atormentavam a população local e dos bairros vizinho nas longas noites insones. Mas nada disso tirava a alegria e o apego dos seus moradores pelo local. Ninguém pensava em mudar para outro bairro devido a tranqüilidade e as amizades entre os moradores e vizinhos. Era um bairro muito simples, classe média e eminentemente residencial. Uma ou outra casa se destacava pela arquitetura ou pelo porte mas a grande maioria das casas era modesta e sem jardins. Na época ainda existiam grandes áreas desocupadas e até mesmo alguns sítios com fruteiras e criação de gado. Uma coisa totalmente impensável nos dias atuais.
O bairro do Parque Araxá tinha, porém uma particularidade que o diferenciava dos demais. Grande parte dos seus moradores se conhecia ou tinha laços de família. Era comum encontrar famílias inteiras morando em casas vizinhas. Também era o reduto de famílias vindas do interior, em especial de cidades da região Centro-Sul do Ceará. Dentre as famílias e colônias que fincaram raízes no bairro se destacavam os imigrantes de Acopiara, minha cidade natal, e da vizinha Mombaça. Sem maiores explicações ou motivos aparentes, tanto minha família como os demais conterrâneos resolveram se instalar no Parque Araxá. Em uma das suas ruas principais, a Rua José Sombra, fixaram residência vários tios, primos e parentes distantes. Por vezes algumas ruas do bairro mais parecia uma rua de Acopiara do que da capital, tal a quantidade de familiares e conhecidos residindo no local. Vários deles instalaram na Rua José Sombra suas casas e seus comércios. Ficavam nela ou em ruas muito próximas as casas dos meus tios Nestor, Luiz e dos filhos do tio Francisco (ele mesmo não deixou Acopiara) e da família Alves (Manel, Marilu e Luiz Alberto). Recordo-me que era nessa rua que ficavam os depósitos de materiais de construção dos meus tios Nestor (Depósito Araxá) e Valmir (Depósito Humaitá) e a mercearia do tio Luiz. Pertinho dali, na Bezerra de Menezes, ficava a casa do meu pai, Neófito e em frente as casas da tia Perpétua e dos seus filhos Airton, Rui, Pinheirinho, Reni e Ubaldina, ao lado do Depósito e Fábrica de Mosaicos Gurgel. Mais a frente ficava a imponente residência do ex-prefeito de Acopiara Chico Sobrinho e a casa da família do Waldizar Brasil. Fazendo limites com o bairro do outro lado, na Avenida Jovita Feitosa, ficavam a residência e o depósito do primo Chiquinho Gurgel e família. Também residiu no bairro, mas mudou-se posteriormente o tio Nertan com alguns dos seus filhos. Vale ainda registrar que no outro vizinho bairro de Otávio Bonfim, quase uma extensão do Parque Araxá, residiam outros tios, vários primos e conterrâneos de Acopiara e que pela proximidade e laços de família circulavam diariamente pelas ruas do bairro.
Curiosamente a pequena mercearia do tio Luiz resiste até os dias de hoje e virou ponto de referência e de encontro dos conterrâneos de Acopiara. O local também é ponto de encontro da família Gurgel, em especial aos sábados pela manhã. Seus integrantes e amigos para lá se dirigem com freqüência, seja na busca de notícias da “terrinha” ou para rever os parentes ou apenas para beber uma cerveja gelada. Com um detalhe curioso, o cliente não pode ter pressa. O atendimento é realizado pelo próprio dono, no caso o tio Luiz, ou melhor, “seu Luiz”, como é respeitosamente chamado. Gordo, muito branco e de olhos azuis, é uma figura impagável e muito querido por toda família. Sempre vestido de bermudas, tênis, meias no meio da perna e com seu indefectível suspensório e sem qualquer pressa de servir a cachaça ou abrir a cerveja. E muito menos de encher os copos. E não adianta reclamar, pois além de ser xingado e ouvir desaforos do proprietário, o infeliz cliente vai ficar sem beber por um longo tempo. Se achar ruim, procure outro local. É seu estilo inconfundível e que não poupa nem mesmo os sobrinhos ou parentes. No que pesem os eventuais transtornos, ainda vale a pena passar no local, beber uma pinga ou uma cerveja e jogar conversa fora. Justiça seja feita, a cerveja é sempre gelada e o tira-gosto de excelente qualidade. Sem falar na farinha que acompanha o tira-gosto e que o freguês pode comer com as mãos.
Com o passar do tempo e com o desenvolvimento e a urbanização desordenada da cidade pouco restou do velho e pacato bairro. Infelizmente muitos dos antigos moradores já partiram ou mudaram do local. Junto com o crescimento chegaram os engarrafamentos e a violência crônica que assola todas as grandes cidades. Do bairro da época das tertúlias, das cadeiras nas calçadas, do café torrado em casa e passado na hora, muito pouco restou. Ficou a saudade e as recordações daqueles velhos tempos. Tempo em que o maior perigo no bairro era escorregar na lama e no lodo que se acumulava nas calçadas na época do inverno. E muito pior do que a queda era a vaia da garotada. Uma grande vergonha e um constrangimento pelo qual passei algumas vezes quando criança. Mesmo com tais perigos era realmente uma festa e uma alegria passear pelas ruas do Parque Araxá no final da tarde. Merendar nas casas dos meus primos, beber um guaraná na mercearia do tio Luiz, jogar conversa fora nas esquinas, tudo sem pressa e sem medo. Hábitos esquecidos pela maioria e estranhos para as novas gerações. Quantas lembranças.

DICIONÁRIO DE GÍRIA

Caro Paulo Gurgel,
Certamente, herdamos de nossos antepassados o gosto pelos livros. Esta é minha melhor contribuição ao estudo da língua falada do povo brasileiro. Um retrato vivo, sem retoques: a gíria é isto e muito mais.
J. B. Serra e Gurgel
Com a dedicatória acima o jornalista J. B. Serra e Gurgel me presenteou um exemplar de seu "Dicionário de Gíria".
Natural de Acopiara-CE e radicado no Distrito Federal, onde é um dos editores do mensário CEARÁ EM BRASÍLIA, o autor é um grande estudioso do equipamento linguístico falado do brasileiro.
Este livro, que tem 32.500 verbetes, 736 páginas e que se encontra em sua 8ª edição (com capa de Audifax Rios e Morais Rios), é inegavelmente uma obra de referência sobre o assunto.
Obrigado, João Bosco. Antevejo-me a consultar de montão este dicionário.

Como comprar o "Dicionário de Gíria": www.cruiser.com.br

DEZEMBRO DE 2011

  • Em Fortaleza, para rever os familiares e participar dos festejos de Natal e Ano-novo: Laerte e Meuris (de Campinas - SP); Fernando, Melissa e o filho Rafael (de Campinas - SP); Felipe Bastos e Anna Paula (dos Estados Unidos); Daniel, Germana e os filhos Gustavo e Marília (de Natal - RN); e Andreas (da Alemanha), noivo da Mirna.
  • Dia 22, a Unifor realizou a solenidade única de colação de grau de seus formandos do segundo semestre de 2011. Entre os concludentes, estavam meus sobrinhos Marta e Tiago, filhos de Germano e Maíza. Marta, que era bacharelada em Geografia pela Uece, formou-se em Turismo, e Tiago, formado em Física pela UFC, recebeu o diploma de Engenheiro Mecânico.
  • Na noite de 24, aconteceu a confraternização natalina da família Gurgel Carlos, no apartamento do casal Adeodato - Márcia.
  • No dia 29, houve a inauguração do Edifício Zaíra Macedo Pinto, de propriedade do empresário Moacir Filho. Situado na Avenida Desembargador Moreira, o imóvel é agora a sede central  de suas principais empresas (Contil, Jardim Metropolitano, ETU, Hotel Boreas), e foi assim designado em homenagem à Dona Zaíra, mãe do empresário.  A esposa deste, Maristane Fernandes (a quem agradeço o presente de um exemplar de "O Livro de Ouro da MPB", de Ricardo Cravo Albin, uma obra de referência), e um dos filhos do casal, a Monique, coordenaram com maestria a festa de inauguração do edifício.
  • Um grupo que passou a virada do ano no Náutico Atlético Clube: Luciano e Elsa, Germano, Mirna e Andreas, Ana Mary e Thomas, Elba e eu (Paulo). Um venturoso 2012 para todos os leitores!
  • Aniversariantes de JANEIRO: (2) Pedro, filho de José e Isabel, (13) Paolo Giorgio, filho de Sérgio e Solange e (18) Márcia Gurgel.