SEU VICENTE, O JARDINEIRO DA CASA VELHA DA PONTE

Um dia os Meninos Verdes apareceram no quintal da Casa Velha da Ponte.
SEU VICENTE: E agora, Dona Cora, o que é que se faz com esses serezinhos estranhos? São gente, bicho ou salta-caminho?
Videobook disponível no YouTube.
Imagem - "Os Meninos Verdes", de Cora Coralina, numa adaptação para o teatro de bonecos.
Vovó Cora conta a seus netos o que ela chama de acontecido e não de uma história.
De repente, seu Vicente, o jardineiro da Casa Velha da Ponte, deparou com uma situação incomum: no quintal, entre as plantas que nascem lá, boas e más, apareceram duas plantas diferentes. Quis arrancá-las, mas vovó Cora disse que as deixasse crescer. Depois de um tempo, sob as duas plantas, seu Vicente e vovó Cora, surpresos, encontraram seres vivos, com todas as formas de crianças em miniatura. O que fazer? Destruí-los? Escondê-los? Cuidar deles?
A postura sem preconceito e compromissada de vovó Cora em relação à estranha realidade nos ensina a encarar com naturalidade situações inusitadas, a respeitar diferenças e a agir com responsabilidade e consciência.
Ver também:
MOCHILEIRO DO CERRADO - 1
MOCHILEIRO DO CERRADO - 2
O CASTIGO DO COLAR DE CACOS
MARIA GRAMPINHO

VIOLONISTA JOSÉ MÁRIO

José Mário de Araújo nasceu na cidade de Acaraú – CE, no dia 13 de outubro de 1939. Com base nas informações prestadas numa entrevista por Maria Cleomar Vasconcelos de Araújo (esposa de JMA), afirma o pesquisador Eddy Lincoln que, desde a primeira infância, ele foi criado pelos avós, e viveu até a sua juventude em uma fazenda. A constituição do gosto pelo violão veio desse período de tempo, quando ele ainda construía imitações do instrumento, sem imaginar que ali seria o início de algo maior, que lhe conferiria uma profissão, um reconhecimento por parte da sociedade que se estenderia mesmo após a sua morte.
Ainda de acordo com a entrevistada, "[...] ele começou tocando lá no interior, mas assim, sem ser por música, só de ouvido mesmo. Quando ele veio pra cá já tocava, e veio com a vontade de estudar com um professor."
No ano de 1956, aos 17 anos, veio morar em Fortaleza. Com o mesmo intuito de muitos que nascem no interior; José Mário veio tentar novas possibilidades na capital, estudar e trabalhar. Sobre esse momento, Maria Cleomar Vasconcelos de Araújo relatou também, em sua entrevista para o pesquisador, Eddy Lincoln, que, na ocasião, ele teve na ocasião a influência de um primo, o qual já residia na capital e estava trabalhando no Hotel Fortaleza. Foi nesse hotel que José Maria conseguiu o seu primeiro emprego. Ele cumpria o seu horário de trabalho durante o dia e, à noite, cursava o supletivo no Colégio Fênix Caixeral.
O início do estudo sistemático de violão ocorreu com o professor Oscar Cirino, que adiante orientou-o a procurar o Conservatório de Música Alberto Nepomuceno (CMAN).
Seu ingresso no Conservatório para fazer o Curso Fundamental se deu em 1959. Com a duração de oito anos, o Curso envolvia o estudo de teoria e canto coral, e sua formatura aconteceu em1967.
O título obtido possibilitou que ele fosse contratado para ministrar aulas de violão no CMAN (à época, dirigido pelo maestro Orlando Leite). 
É possível afirmar que o professor José Mário de Araújo foi o principal agente legitimador do campo de ensino do violão em Fortaleza - CE.
JOSÉ MÁRIO DE ARAÚJO: MEMÓRIA E TRAJETÓRIA NA CONSTITUIÇÃO DO CAMPO DE ENSINO DO VIOLÃO NO CEARÁ
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de doutor em Educação, por Eddy Lincoln Freitas de Souza. Orientador: Prof. Dr. Pedro Rogério.
http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/38269/3/2018_tese_elfsouza.pdf
JMS ministra uma aula de violão no CMAN. Print screen de uma foto (p.113)
José Mário morou na Justiniano de Serpa (rua em que eu nasci). Pela porta aberta de sua casa, ao transitar na calçada, por diversas vezes vi este seguidor de Tárrega absorto em seus estudos violonísticos. Certa vez, convidado pelo maestro Orlando Leite, ele acompanhou ao violão o Coral Universitário (do qual fiz parte) em um recital.

UM ANO SEM DONA ZAÍRA

Preito de gratidão à Sra. Zaíra Macedo Pinto, escrito por Antonio Pinto Macêdo em nome dos filhos da saudosa matriarca.
Arquivo: http://gurgel-carlos.blogspot.com/2020/07/pesar-pelo-falecimento-de-zaira-macedo.html

NOS TEMPOS HEROICOS DAS APRESENTAÇÕES ORAIS

Dizem as más línguas que os médicos vão aos congressos para rever os colegas, exibir as novas esposas e passar os velhos slides.
Os velhos slides não são mais prestigiados. Mas é preciso dizer do trabalho que se tinha para fazê-los nos tempos heroicos das apresentações orais.
Inicialmente, o conferencista tinha que levar a um datilógrafo os textos que constariam dos slides. (Se possível, um que possuísse uma máquina de escrever elétrica). 
Com o material já datilografado, toca a juntar: a documentação fotográfica, os livros e as revistas que continham as tabelas e os diagramas de interesse, as radiografias... Então, com mil recomendações, passava-se tudo às mãos do fotógrafo responsável pela confecção dos slides.
As radiografias eram um caso à parte. O fotógrafo precisava ter em seu ateliê um negatoscópio (para iluminar por trás as radiografias). Na Faculdade de Medicina da UFC, um único fotógrafo, o Sr. Milton, fazia os slides para todos os professores e alunos da instituição.
Não eram baratos, e pagava-se à vista.
Chegava o o momento da apresentação. Um pouco antes, o conferencista se trancava numa saleta ao lado do auditório com a finalidade de montar os slides no carrossel do projetor. Eles tinham de ser colocados na ordem e na posição exatas - sob pena de tumultuar a conferência.
Apesar dos rigorosos cuidados, era comum os slides engancharem-se no projetor e, na tentativa de soltá-los, serem danificados. Isso quando o calor da lâmpada do projetor por si só  já não causava um estrago maior.
No tempo que vivi na Amazônia, comprei uma máquina fotográfica e um projetor na Zona Franca. E dediquei-me a fazer slides daquela região em que o rio comanda a vida.
Quando o rolo fotográfico chegava ao fim, entregava-o a um peruano em Benjamin Constant que mandava revelar em Manaus. Duas semanas após, ele me entregava os slides acondicionados numa caixinha de papelão. Nessa ocasião, eu já tinha um novo rolo à espera de ser revelado, e a história retorna ao início do parágrafo.
Voltando a residir em Fortaleza, meus slides recreacionais deram lugar a slides científicos. Em 1989, necessitei de muitos deles para uma jornada sobre tuberculose que eu estava a organizar para a Secretaria da Saúde (SESA-CE). Eram slides que ilustrariam palestras minhas, e lembrei-me do Sr, Milton. Fui procurá-lo na Faculdade de Medicina e entreguei-lhe o material que seria convertido em diapositivos.
Próximo ao período da jornada, ele foi ao Hospital de Messejana com os slides prontos. Perguntou-me pelo cheque. É com a SESA, Sr. Milton, então, não é o Hospital que vai pagar, não, então, Dr. não vai ser possível eu lhe entregar os slides, qual é o problema, Sr. Mlton, é que o Hospital me paga logo e a SESA, não.
Paguei do meu bolso para receber os slides, e o Sr. Milton tinha razão. Levei tanto tempo para ser reembolsado, que eu já estava para desistir.
Hoje em dia, com um computador conectado à internet, a câmera de um telefone móvel e o onipresente Power Point, um slideshow é rapidamente concluído. Então, arquiva-se uma cópia no pen drive que o apresentador vai levar para o congresso. E os erros, assim que sejem detectados, são logo corrigidos com a ajuda do notebook.