ESTAÇÃO D'AURORA. Uma saudade que não passa

"Cedo ou tarde nem que seja apenas navegando no rio da memória, as pessoas retornam ao lugar onde nasceram." 
Hermenegildo de Sá Cavalcante

Esta obra foi publicada sob o patrocínio cultural da Prefeitura Municipal de Aurora, por intermédio de sua Secretaria de Cultura e Turismo, em comemoração ao Centenário da Estação Ferroviária de Aurora. É um tributo à memória de todos aqueles que, direta ou indiretamente, construiram a história desse importante monumento ferroviário da cidade.
Reunindo uma plêiade de trinta autores, "aurorenses e aurorados", o livro "ESTAÇÃO D'AURORA. Uma saudade que não passa" foi organizado e editado por José Cícero da Silva e João Borges da Silva.
É, nos dizeres do secretário de Cultura de Aurora, Prof. José Cícero:
"Um livro que nos chegou pelos trilhos, como encomenda, no antigo trem da estação de Aurora."
Tendo sido a data em que foi recebida esta encomenda gráfica: 7 de setembro de 2020. Um século depois de sua remessa, mas como valeu a espera!
Foto: Antonio Rodrigues, DN

AURORA. O município, o trem e as estações ferroviárias

O município
Não se sabe ao certo o local onde Aurora se originou. O historiador Vicente Landim de Macêdo relaciona dúvidas e controvérsias a respeito. 
Teria sido próximo a uma capela construída por Benedito José dos Santos, um escravo alforriado vindo da Bahia? Ou será que Aurora se iniciou em torno de outra capela, dedicada ao Menino Deus (até hoje o padroeiro do município), construída em 1823 na Fazenda Logradouro, pelo Cel. Francisco Xavier de Souza, para atender ao pedido de sua mulher?
Ou será, ainda, que Aurora, antigamente chamada "Venda", iniciou-se no local hoje denominado "Aurora Velha". Havia ali uma taberna, ponto obrigatório de quantos vindos dos sertões centrais destinavam-se ao Crato. E essa taberna originou o povoado e, depois, a vila e a cidade. Então, quando se tornou município, pela Lei n.º 2407, de 10 de novembro de 1883, recebeu o nome de Aurora, uma denominação que se prendeu, talvez, ao fato de a proprietária da primeira venda existente na localidade chamar-se Aurora.
Como exprime o poeta Serra Azul:
"É a terra de meu berço essa que (embora
Tivesse o nome mercantil de Venda),
Tem-se hoje o nome fúlgido de Aurora."
É conhecida, também, a versão de que a cidade de Aurora recebeu essa desnominação por sugestão do jornalista Paulo Nogueira às autoridades estaduais, após ter presenciado o nascer do sol sobre o rio Salgado.
Criado pela Lei 2.047, de 10 de novembro de 1883 o município de Aurora é detentor de um dos mais ricos e significativos passados históricos da região sul caririense. É a terra natal de figuras notáveis e emblemáticas como a célebre matriarca Marica Macedo, o poeta Serra Azul, o pintor Aldemir Martins, o cantor Alcymar Monteiro, o literato Hermenegildo de Sá Cavalcante, os jornalistas Newton (Lúcio Brasileiro) e Neno Cavalcante, o escultor Nego Simplício e a própria Dona Aurora, a quem o município deve o topônimo.
O trem
A Linha Sul da Rede de Viação Cearense surgiu com a linha da Estrada de Ferro de Baturité, aberta em seu primeiro trecho em 1872, a partir de Fortaleza e prolongada nos anos seguintes. Quando a ferrovia estava na atual Acopiara, em 1909, a linha foi juntada com a E. F. de Sobral para criar a Rede de Viação Cearense (RVC), que foi arrendada à South American Railways. Em 1915, a RVC passou à administração federal, e a linha chegou a seu ponto mais distante em 1926, quando atingiu a cidade do Crato. Em 1957, passou a ser uma das subsidiárias formadoras da Rede Ferroviária Federal (RFFSA) e, em 1975, foi absorvida operacionalmente por esta. Em 1996, foi arrendada com a malha ferroviária do Nordeste para a Cia. Ferroviária do Nordeste (RFN). Trens de passageiros percorreram a linha Sul até o dia 16 de novembro de 1989, quando finalmente foram desativados.
As estações ferroviárias
No início da década de 1920, Aurora se notabilizou pela construção de sua estação ferroviária, cuja inauguração se deu em 7 de setembro de 1920 (foto). 
O município passou então a ter a primeira e mais importante estação ferroviária da região, uma vez que as estações do seu distrito de Ingazeiras (1922), de Missão Velha (1925), de Juazeiro (1926), do cratense distrito de Muriti (n/d) e do Crato (1926) só vieram a ser concluídas anos depois. Por conta de ser um entroncamento da RVC, Aurora acolhia os viajantes de parte da Paraíba e do Cariri cearense, que vinham pernoitar na cidade à espera do trem para a capital. A estação ainda está de pé, em uso pela Prefeitura de Aurora e tem recebido obras de restauro. 
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/ceara/aurora.pdf
http://aurora.ce.gov.br/omunicipio.php
http://www.estacoesferroviarias.com.br/ce_crato/aurora.htm. Atualização 19/02/2018
"MARICA MACEDO. A brava sertaneja de Aurora", por Vicente Landim de Macêdo. Brasília: Petry Gráfica e Editora Ltda. 1998. 266p.
A postar: "ESTAÇÃO D'AURORA. Uma saudade que não passa", coletânea organizada por José Cícero

BATURITÉ, O MUNICÍPIO CEARENSE COM EXCLAVE

Baturité, no Ceará, é um dos oito municípios brasileiros que têm exclaves - isto é, que tem o território descontínuo. O exclave é essa parte inferior, que está geograficamente separada da porção principal do município.
Para mais informações, recomendo que assistam a este vídeo do Olavo Soares no Canal Exclave.

O BIZU DO SARJA

1.
Étienne Bézout (Nemours, 31 de março de 1730 — Avon, 27 de setembro de 1783) foi um matemático francês.
Em 1758 Bézout foi eleito adjunto em mecânica da Académie des Sciences. Dentre diversos outros trabalhos, escreveu "Théorie générale des équations algébriques", publicado em Paris, em 1779. Seu livro didático se tornou referência a ponto de os professores da época usarem a expressão "vou dar explicação como o Bézout". A expressão foi transformada, aos poucos, em "vou dar o Bézout". Especialmente em escolas militares, é comum usar-se o termo "bizu", que tem exatamente essa origem.
2.
Quando a Família Real veio para o Brasil, trouxe, em sua comitiva, diversos professores de Coimbra. Esses docentes foram colocados na Real Academia Militar.
As aulas de Matemática eram o terror dos alunos, até descobrirem que os mestres usavam, como base das aulas e provas, um livro de um autor francês chamado Etienne Bezout.
Assim, corria pelos alunos a informação de que ter o livro do Bezout era fundamental para ter sucesso na matéria.
Ter o Bezout era o diferencial e todos queriam o Bezout, que passava de mão em mão.
Essa é a origem do termo "bizu".
3.
Lembro-me do sargento Valdenor. "Bizu" e "bizurar" eram gírias que andavam na boca do saudoso colega. Na boca e... nos gestos. Pois, ao pronunciar essas palavras, ele fazia o gesto de juntar três polpas digitais da mão direita, esperando que o colega viesse de lá com o mesmo gesto. Trocados os "cumprimentos", ele explodia numa sonora gargalhada.
Francisco Valdenor Barbosa, nosso colega de turma na Faculdade de Medicina, a quem também chamávamos  de "Sarja", certamente foi o tipo mais popular de nossa turma. Por vezes, soltava umas bravatas, porém estas não incomodavam. Ao contrário, nos divertiam. 
A par de suas obrigações de sargento no Colégio Militar de Fortaleza (CMF), ele fez o curso de graduação conosco, tendo-o concluído em 1971.
Em 1972, fez também o Curso de Formação de Oficial Médico (CFOM) da Escola de Saúde do Exército no Rio de Janeiro. Estagiou no Hospital Miguel Couto, no serviço de ortopedia do Dr. Lídio Toledo, médico da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e que parecia gostar muito dele.
Dividimos, por alguns meses, um quitinete alugado no Edifício Corumbá, em Copacabana. Gostava de se olhar no espelho interno de um guarda-roupa do quitinete. Com ele, quase sempre de cuecas, túnica verde-oliva 4A e quépi. Nesses momentos, prometia em voz alta o enquadramento de um certo sargento do CMF quando voltasse a Fortaleza (mentira, nunca faria isso).
E terminava a narcísica sessão com uma caprichada continência. Que o espelho simultaneamente respondia.
Ao concluir o CFOM, recebeu a patente de 1.º Tenente Médico e seguiu para Brasília. Nossos contatos se tornaram raros a partir de então. 
Por essa foto que eu encontrei na internet, descobri que ele entrou para a Maçonaria.
Legenda:
  • Grão-Mestre Francisco Valdenor Barbosa
  • Grande Loja Maçônica do Distrito Federal
  • 20/08/1981 a 20/08/1984
Hoje o bom e velho "Sarja" deve estar trocando bizus no Céu.