Miguel fora convocado para prestar o serviço militar como oficial médico (tenente R2) de um hospital regional do Exército. Quando acadêmico de medicina, ele granjeou a fama de gozador, liderando as molecagens e as brincadeiras dentro da turma. Mas tudo indicava que, com a obtenção do diploma de médico, uma drástica metamorfose havia-se operado nele, deixando-o sisudo e responsável (o que inclusive provocava estranheza entre os ex-colegas de faculdade).
Na caserna, ele era um “caxias”, mais vibrador do que muitos oficiais de carreira. Achava que, com os seus 45 dias do estágio de adaptação e serviço, assimilara mais conhecimentos específicos do que os militares das armas em quatro anos de AMAN.
Agora, estava sob seu "comando” uma grande enfermaria de soldados em que Miguel, ao menor indício de quebra de disciplina, não hesitaria em aplicar os rigores do Regime Disciplinar do Exército. O RDE - com tolerância zero, portanto.
Um dia, chamado para prestar uma informação na direção do hospital, Miguel precisou afastar-se da enfermaria, por um breve período. Ao voltar, verificou que uma maçã, que deixara sobre o seu birô de trabalho havia sumido.
Aquela maçã era a sua merenda daquela manhã. E, provavelmente, já estava a sofrer a ação do suco gástrico de algum soldado faminto e esperto.
Fez de tudo para descobrir o responsável: Quem foi? Quem não foi? Mas, ninguém assumia a autoria do delito. E, o que era pior, ninguém dedurava o companheiro de enfermaria.
Miguel decidiu aplacar a crescente ira, impingindo uma penalidade grupal. Para isso, concedeu uma autorização especial de saída a todos os soldados baixados à enfermaria. A fim de que fossem a um supermercado próximo comprar maçãs, evidentemente com os recursos de seus próprios soldos.
No retorno, cada praça depositou uma maçã sobre a mesa do médico. Eram tantas, que ele, se desejasse, poderia levá-las para a casa, onde a sua afetuosa mãezinha poderia preparar uma apfelstrudel.
Foi aí que Miguel lembrou-se de si próprio em seus bons tempos de universitário, quando ele estava sempre a pegar peças nos colegas. E... se ele fosse um daqueles soldados, envolvidos na punição coletiva, o que faria ao ser assim apenado? No mínimo, só entregaria a maçã depois que ela estivesse muito bem lavada em... um jato miccional!
Pensando em tal hipótese, Miguel devolveu as maçãs aos soldados para que eles, em sua presença, as consumissem.
É, parece que um velho aforismo médico tem mesmo que ser atualizado. NÃO comer uma maçã diariamente é a novareceita para uma vida saudável.
Bônus
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