Reportamo-nos agora ao início do fatídico ano de 1716, quando mais acirrados foram os distúrbios entre as facções políticas no Rio de Janeiro. Logo em princípio de abril, o Alferes José Gurgel do Amaral, filho do Dr. Cláudio (Gurgel do Amaral), foi séria e moralmente ofendido por João Manoel de Melo, correligionário e preposto do Governador (Francisco Xavier de Távora). Dias depois, no Domingos de Ramos, aquele ofensor e seus acompanhantes foram localizados na Igreja de Campo Grande, por José Gurgel e seus amigos e, ali mesmo, travou-se cruento duelo, no fim do qual os desafiados estavam mortos.
Imediatamente, o Governador Távora declarou réus de morte Gurgel e os demais implicados, determinando igualmente fossem vasculhadas suas residências. Nesse ínterim, o Padre Cláudio, que regressara de Minas, estava em sua Chácara do Oriente, quando encontrado foi barbaramente espancado e não resistindo à gravidade dos ferimentos veio a falecer, no dia 17/04/1716, na Santa Casa de Misericórdia, onde fora provedor.
Quanto a José Gurgel, depois daquela luta, homiziou-se em Minas acobertado por Francisco do Amaral Gurgel (homem rico de Cataguases-MG e primo do Dr. Cláudio). Em 1718, foi descoberto, aprisionado, levado para o Rio e daí, por ordem do Conde de Assumar, encaminhado para Salvador, onde foi sentenciado e levado ao patíbulo em 1722.
Ocorrência tão triste quanto humilhante atingiu dura e gravemente a família que, após assistir aquele penoso e tenebroso acontecimento, rumou em demanda de São Miguel dos Campos e Ilha do Ouro, localidades alagoanas próximas do Rio São Francisco. Lá nasceram Inácio Maria, Maria Inácia, Antonia e José Gurgel do Amaral, conforme documentos fornecidos por D. Pompeu Bessa, Bispo de Limoeiro do Norte-CE.
Supõe-se que a protagonista dessa jornada tenha sido Maria Gurgel do Amaral, que se fazia acompanhar de Davi Lopes de Barros (nome disfarçado para evitar perseguições).
Extraído do livro "Na Trilha do Passado" (p.35-37), de Aldysio Gurgel do Amaral. Os grifos são nossos.
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