MEMÓRIA. PETRÓPOLIS E TERESÓPOLIS

Trabalhei em Petrópolis neste hospital de psiquiatria, a Casa de Saúde Santa Mônica. Ainda existe (CNES 2275600). Um frenocômio de natureza privada, conveniado com a previdência social e que apresentava uma característica sui generis. O setor para pacientes femininos da instituição (foto recente) distava cerca de 9 km do setor para pacientes masculinos. O primeiro setor (onde funcionavam também a administração do hospital e o repouso do plantonista) ficava em uma colina do bairro Roseiral, na Estrada União Indústria, a caminho de Juiz de Fora. Já o segundo ficava em outro bairro mais próximo do centro de Petrópolis.
Meus plantões iam das 19 horas dos sábados às 19 horas dos domingos. E cumpri-os todos ao longo de um ano (de 1.º de março de 1973 a 28 de fevereiro de 1974). No horário das 19 às 24 horas é que aconteciam as admissões e as intercorrências Registrava as histórias clínicas e fazia as prescrições exclusivamente no setor feminino. Recolhia-me a seguir para o repouso. No dia seguinte, após o desjejum, deslocava-me em meu carro até o setor masculino, onde repetia as atividades anteriormente descritas. Um que me acompanhava na visita aos pacientes masculinos era o atendente Carolino (personagem de um dos causos do livro "Portal de Memórias").
Finda a visita médica voltava ao setor feminino. Almoçava. E passava a tarde numa sala a ler algum livro ou revista de medicina. Tentando, é verdade, não desviar minha atenção para o televisor que o Dudu deixava ligado no Sílvio Santos. Quase sempre um dos diretores do hospital, o Dr. Rodolpho Chauphaille, aparecia por lá e então batíamos um papo. Dentista por formação, era um administrador exigente e parecia gostar de mim.
Às 19 horas, concluído o plantão médico, logo mais eu baixava num dos points da cidade para me divertir. Um barzinho, um restaurante, um clube social... tendo como pano de fundo a tranquilidade e o clima serranos. Dormia num hotel modesto no centro de Petrópolis, onde o dono nunca acertava com o nome do meu posto no Exército. E, às 5 horas da segunda-feira, iniciava a descida da serra para uma nova semana de trabalho no Hospital Central do Exército.
Com a minha inesperada transferência para uma região de fronteira no Amazonas, não lamentei por ter deixado a Guanabara; Petrópolis, sim. Não cheguei a me hospedar no Palácio Quintadinha (ficou só na intenção), não visitei o Museu Imperial, o Palácio de Cristal nem a Casa de Santos Dumont. Comprei malhas em lojas da Rua Teresa. E, quando minha mãe visitou a Cidade Maravilhosa, acrescentei uma esticada a Petrópolis. Dona Elda adorou ter ido àquela casa de chá com roseiras no jardim.
Antes de partir para o Alto Solimões, me programei para uma despedida sentimental da serra fluminense. Não esquecendo de incluir no roteiro a vizinha Teresópolis (que eu ainda não tinha visitado). Viajando pela Estrada União Indústria, de Petrópolis até Itaipava, e deste distrito pela BR-495 até Teresópolis - um percurso de 53 km. Um agradável passeio em que me deixei maravilhar por cachoeiras, reservas da Mata Atlântica e montanhas sob uma manhã iluminada. E o Dedo de Deus quase a me rogar para ser fotografado. 
Além de tudo, como entrava o país no reino da pagodeira, convidei minha irmã Marta e seu esposo João Cunha(do), meus companheiros de moradia no bairro da Glória, para irmos a um baile de carnaval no Clube Serrano de Petrópolis.
Tornei a ver Petrópolis mais uma vez. Na "quinta-feira de cinzas", em meu percurso para Fortaleza, onde passaria as férias antes de seguir para o Amazonas. E parei na Cidade Imperial por um motivo bem prosaico: sacar o FGTS e o último mês de salário que a Casa de Saúde Santa Mônica depositou em minha conta no Banco Real. Ia precisar de um reforço de caixa para a viagem que faria - por terra - a Fortaleza. Levando alguns pertences e o fusca cuja venda já estava apalavrada com meu genitor Luiz Carlos.
15/03/2022 - Esta crônica está sendo publicada quase um mês depois da tragédia que atingiu Petrópolis, quando fortes chuvas provocaram grandes deslizamentos de terras que deixaram muitas pessoas mortas, feridas e desaparecidas, pricipalmente na Rua Teresa, Alto da Serra e Morro da Oficina. Que a brava gente petropolitana consiga se recuperar desse período de dor e sofrimento.

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