"OURO PARA O BEM DO BRASIL"

1942 - Iniciam-se, em Fortaleza, os exercícios de defesa passiva anti-aérea. Por esta época proliferam as "pirâmides de metal", nos principais pontos do centro de Fortaleza, onde as pessoas colocam peças de alumínio, cobre e zinco que servirão de ajuda na fabricação de artefatos de guerra, como capacetes, armamentos, navios etc. Os simpatizantes do nazismo, chamados de quinta-colunas, jogavam penicos (urinóis) nas "pirâmides" no intuito de ridicularizá-las. As pirâmides de metal já existiram antes como ajuda para a construção de navios da Armada, porém com pouquíssimos resultados. (Nirez)

1964 - Tem início em São Paulo, no dia 13 de maio, a campanha "Ouro para o bem do Brasil", um movimento arrecadatório liderado pelos Diários Associados que logo se espalhou por todo o Brasil. É a partir dessa campanha que são denunciados os perigos pelos quais a nação passava, com a promessa de que ela poderia voltar ao seu caminho natural de potência grandiosa, que fora interrompido por governos "demagógicos" e "comunistas". Ao doar  anel de ouro, dinheiro ou cheque, o doador recebia uma anel de latão com a inscrição DOEI OURO PARA O BEM DO BRASIL - 1964. 

O texto a seguir foi extraído do Trabalho de Conclusão de Curso de Éderson Ricardo Schmitt, realizado sob a orientação da professora Liane Maria Nagel e apresentado na Universidade Federal de Santa Catarina, como parte das exigências para a obtenção do título de Bacharel em História.
"Nesse sentido surge a figura de um herói, um ser incorruptível que deseja o bem do país e de seus habitantes. É ele que evocam como o guardião do tesouro, sendo esse nada menos do que a própria imagem do futuro grandioso o qual aguarda o Brasil. Castelo Branco então passar a ser essa figura. Apesar de uma presença tímida nos idos da campanha – apenas alguns minutos, no qual doou um pequeno chaveiro de ouro – sua figura é colocada em um panteão superior. Ao doar, passa a ser apenas um brasileiro desejoso do bem do Brasil. Aliado a esses simbolismos, a campanha buscou dar legitimidade ao novo governo.
Essa busca norteou os objetivos da campanha, com um simbolismo de certa forma mais importante do que os bilhões de cruzeiros arrecadados em todo o território nacional. Foi a partir dela que se quis dar um apoio especial ao marechal Castelo Branco. Pautada no discurso de que o povo desejou a ação dos militares, e que, devido a isso, as doações seriam um voto ao novo governante, onde os cofres representariam as urnas.
O sonho de um milenarismo brasileiro, ou seja, um período de paz e prosperidade, na década de sessenta começa a se transformar em dúvida. Logo após o término da campanha a questão referente ao destino dos recursos arrecadados – um valor considerável – começa a ser posta em xeque. De uma dúvida passará então à acusações formais aos envolvidos na arrecadação e resguardo dos bens doados.
Desejando ficar na história, quando os patriotas deram seus valores para salvar o país, a campanha acaba ficando na memória como uma grande armação, onde toda uma população foi enganada. A medida em que a ditadura vai perdendo sua legitimidade a campanha é evocada, agora como um simbolismo do fracasso e da mentira que foi o governo militar. E a memória da campanha sobreviveu, mas de uma forma que seus organizadores não previram."

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