Fomos num sábado para voltarmos no domingo. Em linha reta, Atalaia fica a menos de 30 km de Benjamin Constant, mas não havia, em 1974, uma estrada entre as duas cidades. A única via de acesso era pelo sinuoso Javari.
Tivemos uma viagem agradável, que durou algumas horas, em um "deslizador" (gíria local para pequeno barco com motor de popa) que o meu amigo dirigia.
Subindo o rio Javari, com destino a Atalaia, teria sido impossível não termos passado por Islândia. No entanto, eu tomei esta cidade peruana como sendo uma continuidade de Benjamin Constant, já que estava do mesmo lado do rio.
Uma consequência dessa anômala situação: o trecho do rio Javari ao passar por Islândia é completamente peruano, um aspecto geográfico que então eu não sabia. E fico a pensar se não havia o desconhecimento desse fato por parte da Marinha brasileira, cujos navios singravam aquelas águas em demanda de Atalaia e mesmo de pontos mais afastados, como Estirão do Equador e Palmeiras, sedes de dois pelotões do EB à margem direita do Javari.
O "patriotismo" de Atalaia do Norte era digno de nota. Quase tudo por lá ostentava as cores verde e amarela, inclusive as placas indicativas das ruas. E a cidade contava com apenas uma médica que não cheguei a conhecer, porque na ocasião ela se encontrava em Manaus.
À noite, fomos a um restaurante da cidade, talvez o único, para um jantar ao som do carimbó. O tempo a nosso dispor seria das 18 às 22 horas, por ser este o horário de fornecimento da energia elétrica em Atalaia do Norte.
Um pouco antes da hora prevista para iniciar o blecaute, fomos procurados por alguém: era um emissário do prefeito. Ele vinha nos comunicar que, em caráter excepcional, o gerador da cidade iria funcionar até às 24 horas. Agradecemos.
E imagino como os atalaienses também ficaram gratos pela inesperada prorrogação da luz elétrica em suas casas.
*O nome "Valdir" foi corrigido para "Valmir", atendendo a um esclarecimento prestado por sua filha Erika Luzeiro, enfermeira radicada em Brasília.
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2019/10/a-perola-do-javari.html
Valmir de Barros Torres, o Valmir da Funai (foto), nasceu em Barras, Piauí. Por algum tempo morou em Brasília. Aos 22 anos, mudou-se para o Amazonas, onde foi, por mais de 40 anos, técnico indigenista e sertanista da Funai. Atuando, de forma pioneira, em prol dos povos isolados na região do Alto Solimões e também exercendo o cargo de administrador regional da Funai em Tabatinga.
O servidor é lembrado pelos colegas como um homem simples, corajoso e destemido, além de um grande amigo e defensor da causa indígena. Mesmo após a aposentadoria, continuou com seu trabalho de apoio e atendimento aos povos da floresta. Até 2021, quando foi vitimado pela pandemia da Covid-19.
"O irrequieto espírito de Valmir Barros Torres fez sua passagem final para a Maloca dos Mortos, o paraíso espiritual da mitologia Tikuna”, comentou João Melo, servidor da Coordenação Regional da Funai em Manaus, destacando os anos de dedicação de Valmir à cultura Tikuna.
Em seu necrológio, a Funai lamentou profundamente sua perda e manifestou sua solidariedade aos familiares e amigos do servidor, que deixou um imenso legado de trabalho e empenho na defesa dos direitos dos povos indígenas.
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