SÓ PODIA SER DO CEARÁ

Só podia ser do Ceará o baiano-cearense Rodolfo Teófilo que criou o vacinogênio e inventou a cajuína. O Moura Brasil, do colírio, e o cirurgião Dr. Mattos, da pílula.
A Bárbara de Alencar.
Os restaurantes Estoril e O Anysio.
O Leão Coroado, a Prova de Fogo, o mela-mela; e, em Paracuru, o azul da estrela.
O cajueiro botador da Praça Ferreira, à sombra do qual se comemorava o Dia da Mentira.
Só podia ser do Ceará o meu padim Padre Cícero, a Beata Mocinha, o Caldeirão de Lourenço.
A rabeca do cego Oliveira, Patativa do Assaré e os galos de Aldemir Martins.
Só podia ser do Ceará Quintino Cunha.
Chico Anysio, Didi Mocó, os leruaites do Falcão; Seu Lunga, Manezinho do Bispo e Zé Pinto, o artesão da sucata.
Os filmes "hollywoodianos" de Halder Gomes.
José de Alencar, a jandaia nas frondes da carnaúba, a bica do Ipu, a lagoa de Messejana; e a índia Iracema, anagrama de América.
Os Índios Tabajaras.
Só podia ser do Ceará o vento Aracati, que percorre o sertão canalizado pelo Rio Jaguaribe.
Raquel de Queiroz, O Quinze e o sítio Não Me Deixes.
O museu do Nirez, O Grande Eclipse de Sobral.
O bode Ioiô e a Praça do Ferreira onde o povo um dia vaiou o Sol.
A estrada de Canindé, os monólitos de Quixadá e o Cratinho de açúcar.
Jericoacoara, Canoa Quebrada, a praia dos amores que o mar carregou e as velas do Mucuripe
As lendas urbanas da Perna Cabeluda, do Cão de Itaoca e da Mulher Cavalo.
Antonio Sales e a Padaria Espiritual.
Só podia ser do Ceará o Dr. do Baião Humberto Teixeira, Ramos Cotoco, o balanceio, Evaldo Gouveia, de Tango pra Teresa, Ednardo, do Pavão Mysteriozo;  e o rapaz-latino-americano-sem-dinheiro-no-bolso, com nome de rei mago.
Só podia ser do Ceará o Dragão do Mar; e a primeira academia de letras do Brasil.
Estou certo, Terta?

(inspirado em "Só podia ser de Pernambuco", de Fabrício Carpinejar)

CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO DR. VINICIUS BARROS LEAL

O Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico) acolheu, em suas dependências, na tarde de 20 de outubro de 2022 (quinta-feira), evento comemorativo do Centenário de Nascimento do sócio efetivo Vinícius Antonius Holanda de Barros Leal, organizado como uma tocante homenagem familiar, para lembrar que o Dr. Vinícius Barros Leal, cujo nascimento se deu em 16/10/2022, na cidade de Baturité-CE, haveria completado cem anos de idade se vivo fosse.
Por especial deferência do clã familiar, coube ao Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva, traçar de forma minuciosa um panegírico do homenageado, assinalando seus feitos principais como médico, historiador, professor e escritor de múltiplos talentos.
VINÍCIUS ANTONIUS HOLANDA DE BARROS LEAL nasceu em Baturité, em 16 de outubro de 1922, onde fez os seus estudos primários sob a orientação dos padres jesuítas, daí transferindo-se para Fortaleza, para cursar o Seriado, como aluno-interno do Colégio Marista Sagrado Coração.
Após realizar o propedêutico pré-médico no Liceu do Ceará, em 1943, prestou vestibular para Medicina, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), nela se formando em 1948. Especializou-se em Pediatria no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo em 1959.
Foi médico da Legião Brasileira de Assistência, ocupando o cargo de Diretor de Posto, de 1951 a 1967, e diretor do Departamento de Saúde Materno-Infantil, durante dois anos. Como atividade voluntária e de benemerência, a pedido da Arquidiocese de Fortaleza, foi diretor do Posto de Saúde de Parangaba por oito anos; diretor do Asilo de Menores Juvenal de Carvalho, de 1950 a 1970; e diretor de Patrimônio da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza e mordomo dessa instituição, desde 1984.
Foi professor de Clínica Pediátrica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, tendo ingressado em 1964, da qual se aposentou , como professor adjunto, em 1987, após profíqua dedicação ao magistério superior, como docente e médico, do Serviço de Pediatria do Hospital Universitário Walter Cantídio.
Em 1960, juntamente com outros colegas, fundou a Sociedade Cearense de Pediatria, da qual foi seu presidente de 1970-1971. Como pediatra de largo conceito, foi examinador do Título de Especialista em Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria durante cinco anos.
Ex-presidente do Centro Médico Cearense (hoje, Associação Médica Cearense) de 1963-1964, foi também membro da Associação Brasileira de Medicina, da Associação Regional de Escolas Médicas, da Academia Americana de Pediatria e do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará.
Foi sócio efetivo do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, eleito em 20/09/1974 e empossado em 04/12/1974; integrou a Academia Cearense de Medicina, como fundador em 1978, e guindado, posteriormente, a acadêmico emérito; e imortal da Academia Cearense de Letras, admitido em 1984, sendo ocupante da Cadeira 34, patroneada por Samuel Uchoa.
Publicou diversos livros, dentre os quais se sobressaem: "História da Medicina no Ceará" (Prêmio Governo do Estado do Ceará), "Villa Real de Monte Mor, o Novo D’América" (história de seu município natal na época colonial), "A Colonização Portuguesa no Ceará – O Povoamento", "Bumba-meu-boi" (Prêmio Leonardo Mota), ainda "Dom Antônio de Almeida Lustosa, um discípulo do Mestre – Manso e Humilde" e "Padre Artur Redondo: um modelo de Mansidão e Amor a Deus", além de extensa produção sob a forma de artigos na imprensa, nos Anais da Academia Cearense de Medicina e na Revista do Instituto do Ceará.
Dedicou-se durante anos ao estudo da formação social do Nordeste brasileiro, debruçando-se, notadamente, sobre os fatos relacionados aos processos do povoamento e da colonização lusitana.
Possuia um amplo acervo de documentos sobre a história eclesiástica no Ceará, fruto de sua intensa atuação como historiador sacro, mercê de sua prática de vida cristã e da esmerada educação católica recebida, que nutria as suas intervenções como médico, professor, intelectual e cidadão. Durante décadas, enquanto a saúde permitiu, participou intensamente das atividades encetadas pela Sociedade Médica São Lucas, o que incluía os retiros espirituais anuais pregados, amiúde, pelo Padre Monteiro da Cruz. Como reconhecimento dessa atuação, particularmente por sua gestão na presidência dessa entidade, em dezembro de 2004, foi agraciado com a Comenda Médica São Lucas.
Cônscio de sua responsabilidade de cidadão, foi vereador de Fortaleza, de 1950 a 1954, encerrando prematuramente sua carreira política, perdendo, com isso, o povo fortalezense.
Era casado com D. Idilva de Castro Alves, de cuja duradoura união, marcada por amor e compreensão, resultaram sete filhos: Angela, Virginia, Elizabeth, Fernando, Adriano, Tarcísio e Maria de Lourdes, todos formados e reconhecidos como bons profissionais nos respectivos campos de atuação.
(Escrito por Marcelo Gurgel para a página Vinicius Barros Leal - Genealogia Cearense, disponível no Angelfire.)

NOTA DE PESAR POR MARIA JOSÉ SALES CALADO

"Não podemos mudar a hora da chegada. Nem talvez a mais certa. A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta. Do que presta e não presta. Nesta vida."

~ Miguel Torga, médico e escritor português

Recebo com imenso pesar a notícia do falecimento de Dra. Maria José Sales Calado - nossa querida colega Mazé.
Nascida nas terras da Bahia e crescida criança do sol nas ruas de Fortaleza, ela graduou-se em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em dezembro de 1971. Nos anos seguintes, Maria José prosseguiu em seus estudos, fazendo a residência médica em Pediatria no Hospital Cruz Vermelha, em São Paulo, onde ela se radicou para exercer com afinco sua profissão.
Como médica pediatra, abraçou a causa quase sem cura da AIDS na infância.
Gostava de correr mundos, cultivar amizades e de conviver com Jimmy, seu cãozinho chihuahua. E de expressar-se na língua dos poetas (como seu tio-avô Antonio Sales).
Ela partiu na manhã da quinta-feira, 12, após sucessivas internações em hospitais de São Paulo.
Seu corpo foi sepultado no dia 14, às 12h, no Cemitério do Morumby.
Meus sentimentos a seus familiares, amigos e a todos que compõem a 19.ª Turma de Medicina da UFC, da qual Mazé, de uma forma inesquecível, sempre fará parte.
Saudades perenes.
Dela:
https://www.facebook.com/mariajose.salescalado/
https://mariajosecalladopoesias.blogspot.com/

QUEM SALVA UM LIVRO ...

Numa das visitas que eu fazia à Dona Elda (como filho e médico), mamãe me passou às mãos um calhamaço sem dar maiores explicações. Presumi que teria sido deixado por Marcelo, por ser frequente meu irmão recorrer a essa intermediação materna quando queria me dar conhecimento de suas produções literárias.
Ao examinar o conteúdo, vi que se tratava de textos que se referiam a pessoas, coisas e assuntos do bairro Otávio Bonfim. Eram uma preciosidade histórica em cujas páginas não se conseguia identificar a autoria. Mas não parecia ser algo que Marcelo houvesse escrito.
Lembrei-me então do memorialista Vicente Moraes, a quem conhecia apenas de nome, o consagrado autor de "Anos Dourados em Otávio Bonfim: À memória de Frei Teodoro". O local e o período das histórias relatadas coincidiam, e os textos pareciam ser os originais de um livro na linha do anterior. Guardei o calhamaço numa das prateleiras de minha biblioteca. Se não localizasse o autor, talvez servisse como fonte de consulta para as notas que eu publico semanalmente em "Linha do Tempo".
Anos depois, fui chamado para uma reunião no apartamento de tio Edmar. Ele estava planejando um encontro de congraçamento entre pessoas que, nas décadas de quarenta e seguintes, residiram em Otávio Bonfim. Na noite da reunião estiveram presentes, além do tio anfitrião, Marcelo, Vicente Moraes e eu.
Foi quando ouvi Vicente lamentar-se do extravio dos originais da 2.ª edição de seu "Anos Dourados em Otávio Bonfim". Para complicar, o computador utilizado na digitação dos originais, fora dado de presente ao filho de sua empregada doméstica, e o rapaz formatara o computador. E, por algum esquecimento, Vicente não havia feito back-up dos arquivos nem guardado cópias.
Eram textos que não constavam da 1.ª edição - anos desperdiçados do trabalho de um memorialista! Vicente já dava a nova edição como irremediavelmente perdida.
Ele cobrava de Edmar, que cobrava de mamãe, que cobrava de Marcelo, que não sabia de nada.
Entrei na conversa. O calhamaço de autor anônimo que eu guardava em casa talvez fosse o que Vicente tanto procurava.
E era. Após receber os originais extraviados, Vicente digitou novamente o livro e deu entrada na Editora Iuris para a impressão.
O lançamento da 2.ª edição (revista e ampliada) de "Anos Dourados em Otávio Bonfim (À memória de Frei Teodoro)" aconteceu no Salão de Santo Antônio, ao lado da igreja da Paróquia N. Sra. das Dores, em 25/08/2017.
Marcelo fez o prefácio e eu escrevi a contracapa.
Um espaço generoso do conteúdo desse livro foi dedicado a nosso pai, Luiz Carlos da Silva (Seu Silva), que o autor chama de "enciclopédia ambulante de Otávio Bonfim".
P.S.: Vicente se valeu dos préstimos de Edmar para fazer chegar os originais a Marcelo, que deveria escrever o prefácio. Acostumada a receber os escritos de Marcelo (doador universal) para entregá-los a mim (receptor universal), mamãe seguiu a rotina. E, com essa distração, deixou Marcelo no vácuo.
Referências:
MORAES, Vicente de Paula Falcão. Anos Dourados em Otávio Bonfim: à memória de Frei Teodoro / 2.ª edição revista e ampliada. Fortaleza: Iuris, 2017. 320p.
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2015/09/dos-anos-dourados-aos-anos-iluminados.html
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2017/08/lancamento-do-livro-anos-dourados-em.html
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2017/09/anos-dourados-em-otavio-bonfim-quarta.html
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2018/09/seu-silva-o-mestre-educador-do-bairro.html

PALMAS - TO (segunda parte)

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27/09 - terça-feira
Reservei esta manhã para conhecer o Parque Cesamar. A entrada é gratuita, e o parque tem como principal atração uma pista de Cooper de 3 quilômetros circundando  um lago. Fiz esse percurso em 40 minutos por que tive de parar algumas vezes para tirar fotos do lago, dos pedalinhos, de uma ponte (são três) e de dois grupos de capivaras que cruzaram meu caminho.
A propósito: o parque em agosto esteve fechado alguns dias para que fizessem uma desinfestação dos carrapatos-estrelas nas capivaras.
Outros equipamentos do Parque Cesamar: academias para ginástica ao ar livre; pista para skate; áreas para piqueniques; playground; cachoeira artificial etc.
Uma senhora tocantinense de nome Tainá, que se encontrava acompanhada por dois homens (um dos quais um mineiro que visitava Palmas), ajudou-me com a foto abaixo.
Check-out no Ibis ao meio-dia. Em seguida, toca ir ao Capim Dourado para aguardar a hora de ir ao aeroporto.
O almoço foi no "Divino Fogão". 
E não é que tornei a me encontrar com Tainá e seus acompanhantes, desta vez no Capim Dourado Shopping. Quando conversávamos no Parque, ela tocou na existência de artigos regionais que eram feitos de capim dourado. Ante a minha curiosidade, recomendou-me que procurasse esses objetos em alguma loja de artesanato perto do hotel. Eu não tive tempo de procurá-los, é verdade. Mas, ali no shopping center, havia um quiosque em que eram vendidos, e Tainá indicou-me o local. Comprei dois pares de brincos e três chaveiros com direito a ganhar o quarto.
Naquele shopping center há um espaço gratuito à disposição dos clientes (de coworking que eles chamam). No qual o cliente abre o notebook, faz um rápido cadastro e acessa a internet. Permanece por lá o tempo que quiser. Um deles usava (alternadamente) dois notebooks, e dois outros mantinham-se concentrados numa partida de xadrez.
Duas horas após deixei o recinto, chamei um veículo pelo Uber e fui para o aeroporto.
Cheguei a Brasília às 19h30.
Onde não estive em Palmas: Ilha Canela, Palacinho e Taquaruçu. O Palacinho foi a antiga sede do governo, antes da construção do Palácio de Araguaia, e no qual atualmente funciona o Museu Histórico de Tocantins. Ilha Canela é a tal que 4 em cada 4 motoristas de aplicativo falam da beleza do local (sem que 3 tenham ido lá). Taquaraçu, um distrito de Palmas que fica a 32 quilômetros da capital. É um lugar de belezas naturais com trilhas, 82 cachoeiras catalogadas e onde se pratica rapel e tirolesa. 
P.S. Saem expedições diárias de Palmas para o Jalapão.
(fim)