A CAPELA DA CRUZ DEITADA

Há uma tendência da moda hoje que envolve uma cruz horizontal, muitas vezes usada em um colar. A cruz tem a mesma forma de uma cruz latina "normal", exceto que está situada horizontalmente. Várias celebridades (Neymar Jr., por exemplo) começaram a usar a cruz horizontal, o que tem aumentado seu apelo.
Quanto ao significado da cruz horizontal ou deitada, existem várias teorias. Muitas pessoas consideram a cruz horizontal apenas outra versão da cruz vertical - um símbolo de Jesus Cristo e do cristianismo. Outros atribuem um significado mais detalhado: a cruz lateral torna-se um símbolo da obra consumada de Jesus - tendo adquirido nossa salvação, Ele colocou Sua cruz - ou é um símbolo de como devemos tomar nossa cruz e seguir Jesus ( Lucas 9:23)—uma cruz carregada sobre o ombro normalmente estaria na posição horizontalizada.
Alguns apontam que a cruz nórdica (como também é conhecida), encontrada nas bandeiras nacionais de todos os países escandinavos, trata-se de uma representação do cristianismo que aqueles países adotaram.
Outras explicações são mais humanísticas. Alguns veem a cruz horizontal como uma representação da terra (em oposição ao céu) e o fato de que é aqui que a vida deve ser vivida. Uma visão relacionada é que a cruz horizontal é um símbolo da humanidade, que vive no reino entre o céu e o inferno. Ainda outra visão é antagônica aos cristãos – a cruz lateral é uma cruz "que caiu", o que significa que o cristianismo falhou e não é mais uma influência poderosa no mundo.
E, claro, há indivíduos que ignoram qualquer tentativa de infundir significado em suas joias. Para eles, qualquer cruz, deitada ou não, nada mais é do que um acessório da moda. Usar uma, ou ter uma tatuada, nada mais é do que uma declaração de tendência, modismo e aparência chique.
Com tantas opiniões diversas sobre o que significa a cruz lateral, é impossível saber ao certo por que alguém usa uma, a menos que ela expresse sua opinião sobre o assunto. Pessoas diferentes têm noções diferentes, e suas razões para ostentar uma cruz na posição horizontal variam.
É bom para um cristão usar uma cruz de lado? Não há nada abertamente pecaminoso nisso. E se dá oportunidade de expressar fé em Cristo, tanto melhor. A quantidade de confusão e a ambiguidade em relação ao significado de uma cruz lateral pode fazer alguns cristãos hesitarem. Como com qualquer coisa que fazemos, devemos perguntar: "Isso traz glória a Deus?" (1 Coríntios 10:31). Uma cruz lateral traz glória a Deus? Pode, dependendo de quem o usa e de seus motivos para usá-lo.
(Pesquisa realizada com o termo "sideways cross" no Got Questions.)
Foto - Capela de São Pedro dos Pescadores da Paróquia de Nossa Senhora da Saúde, situada na Avenida Presidente Kennedy (Beira-Mar), n.º 4600, no bairro Mucuripe, em Fortaleza-CE.

ALISTANDO=NOS

Se a guerra for declarada / a rapaziada ganha no moral.
Se aliste, meu camarada / a gente vai salvar o nosso carnaval.
"Rio 42 graus" – Chico Buarque
Em novembro de 1965, quando tinha 17 anos, compareci na Junta de Serviço Militar para um possível (mas não por mim desejável) recrutamento para o Exército.
Um sargento tomou meus dados pessoais e, ao preencher a ficha de alistamento no quesito cútis, ele datilografou: “pardo claro”. Como eu estranhasse a opção escolhida, ele foi taxativo: "Deixe de ser besta. No Brasil não há raça branca, todos são pardos". O fenótipo, idiota (livre pensar é só pensar). Com tez clara, cabelos lisos, nariz e lábios finos, digamos que eu seja uma exceção.
É verdade que o Brasil, resultou de uma grande miscigenação. Como se deu com a música brasileira, essa "flor amorosa de três raças tristes", no versejar de Bilac. Mas o que o sargento alegou pode ter sido por orientação de um superior hierárquico.
Ele também me perguntou se eu era voluntário para o serviço militar. Ora, eu estava me preparando para o vestibular de Medicina, que aconteceria no início do ano seguinte e, por conseguinte, não estava em meus planos servir à Pátria. Meu objetivo ali, para ser franco, era conseguir uma dispensa de incorporação.
Ao final, ele me entregou o certificado de dispensa de incorporação.
Dispensado de incorporação, retornei aos estudos que me conduziram à Faculdade de Medicina. Mesmo sabendo que, após a formatura, ainda teria que prestar contas com as Forças Armadas. Até então, eu tive que validar anualmente o meu Certificado de Alistamento Militar.
Em novembro de 1971, foi a vez de meu irmão Marcelo se apresentar na Junta. Sem pendor para a carreira militar e já focado no vestibular de 1972 (também para a Medicina), algo aconteceu em seu processo de alistamento que facilitou as coisas.
Ao passar pelos procedimentos antropométricos, o cabo que fez a leitura na balança proclamou:
- Vixe!... 42 quilos. Peso de bode.
Ao que o sargento, de pronto, corrigiu a apreciação do subordinado:
- Bode magro, não é?!
Diante desse resultado, a Junta confirmou sua dispensa do Serviço Militar Inicial, "com um laudo de insuficiência física temporária, podendo exercer atividades civis".
E Marcelo foi cuidar da vida. O que para ele significa ser: médico sanitarista, economista, professor universitário, pesquisador, escritor, membro de academias, polígrafo, blogueiro, causeur etc.
No início de 1972, na condição de candidato aprovado para o Curso de Formação de Oficial Médico, a ser realizado no Rio de Janeiro-GB, eu me apresentei no Hospital Geral de Fortaleza (do Exército) para me submeter ao exame médico admissional. Lembro-me de que o médico militar que me atendeu, inicialmente desconfiou que eu não teria 160 cm, a estatura mínima exigida para um oficial.
No entanto, eu media 161 cm, como ele afinal constatou. Fosse hoje eu teria sido eliminado. Quando a pessoa para de crescer, estabiliza a estatura por alguns anos, mas aí, pela ação conjunta da idade e da gravidade, passa a decrescer. Li alhures que seria a uma taxa de 1 cm por década.
Tempos depois, vim a conhecer melhor o tal médico examinador, que se chamava Dr. Eleazar. Ele era magérrimo, tocava um violino dos diabos e houve uma ocasião em que eu o acompanhei ao violão.
Quanto a Marcelo, sem nunca ter sido militar, tornou-se no maior contador/compilador de causos da caserna de que se tem notícia. Uma de suas histórias, em que ele foi o protagonista, está disponível em seu "Causos e Curiosidades Militares" (no prelo), com o título "Peso de bode magro". Está dado o spoiler.
Agora, o que é a relatividade das coisas:
Durante alguns anos, eu atendi como médico pneumologista um senhor octogenário, o qual era acompanhado também por um cardiologista. Esse paciente nunca chegou a aprender o meu nome nem o do meu colega. Quando queria se referir a nós, ele se utilizava dos termos "moreninho" e "branquinho". Eu era o "moreninho".
Paulo Gurgel Carlos da Silva


CEGO ADERALDO vs. ROGACIANO LEITE

Aderaldo nunca casou, mas criou 24 filhos adotivos. Por ser cego, ele precisava de guias e, para tanto, recrutava crianças abandonadas. Após ouvir uma provocação de Rogaciano sobre a sua solteirice, Aderaldo saiu-se com esta:

"De casar tive o desejo / Essa vontade eu não nego / Mas com minha experiência / Batata quente eu não pego / Passam chifre em quem tem vista / Que dirá em quem é cego!"

Num depoimento que deu em 1984, o cantor e compositor Silvio Caldas (parceiro de Rogaciano em "Cabelos cor de prata") relata que, no calor de um repente, Rogaciano deixou escapar umas desfeitas com Aderaldo. Que o cego imediatamente se vingou, respondendo assim:

"Andei procurando um besta / Porém, um besta capaz / E de tanto procurar um besta / Encontrei esse rapaz / Que nem serve pra ser besta / Porque é besta demais!"

Aderaldo e Rogaciano eram grandes amigos. Juntos percorriam os sertões nordestinos divulgando a cultura popular.

Legenda: Rogaciano Leite, em 1949, com Domingos Fonseca, Cego Aderaldo e Mário Aderaldo, num congresso, em São Paulo. Foto: Acervo Rogaciano Leite

PESAR PELO FALECIMENTO DE FRANCISCO DANIEL NETO

Lamento a partida do colega Dr. FRANCISCO DANIEL NETO, da nossa turma de Médicos de 1971, da Universidade Federal do Ceará.

Era pós-graduado pela Universidade Federal Fluminense em Ortopedia e Traumatologia, Medicina do Trabalho e Administração Hospitalar e Saúde Pública.

Residia e trabalhava em Fortaleza-CE.

Meus sentimentos à família de Daniel.

MEMÓRIA. EU, 50

No lugar de uma máquina de escrever portátil (em que pus no rolo a crônica EU, 40), aqui já possuia um computador com impressora. No entanto, nada textualizei que se referisse a meu aniversário natalício de 06/06/1998.
Convidei amigos e a família para a comemoração de meus cinquenta anos no Revoir Buffet, a uma quadra do edifício em que eu morava no Cocó. Vieram os músicos: o violonista Claudio Costa, o flautista Hélio Menezes (que são primos entre si) e outro violonista que eu conheci naquela noite.
Antes da festa, o cinegrafista da ASN Vídeo gravou umas cenas em família conforme o combinado. Para uma delas, fiz um solo de "Rosa", a famosa valsa de Pixinguinha e Otávio de Souza. Contudo, dei um andamento tão rápido à música, atribuível ao nervosismo de um aniversariante, que ela ficou parecida com uma valsa-turbilhão. 
Aí passei 25 anos sem assistir a esta fita, que era em VHS. Recentemente, consegui a conversão do vídeo de fita magnética para arquivo MP4. Este serviço foi realizado por Pedro, da GrafMusic, na Cidade 2000. É esse detalhe que permite que vocês e EU, agora 75, tenhamos uma ideia do que rolou durante a comemoração.
Voz e violão base: Paulo Gurgel
Violão (solos e improvisos): Claudio Costa
Flauta transversa: Hélio Menezes

Quanto ao Revoir Buffet, hoje é a creche risonha e franca em que meu neto Benício estuda.

VOLTA DA JUREMA, 1948

Reprodução de um quadro de autoria do pintor e poeta Otacílio Azevedo. Na imagem, pode também ser observado o rio Maceió correndo para o mar. 
Próximo deste local, fica atualmente a estátua de Iracema da enseada do Mucuripe.

Foto postada por Célio Porto no Face.