CARNAVAL DE PRAIA NOS ANOS 1980

Nesse vídeo gravado em Paracuru-CE, o cearense Fausto Nilo, acompanhado por dois músicos da terra - o pianista e médico Antonio José e o violonista Nonato Luiz, canta "Zanzibar", que ele compôs com Armandinho. Aliás, se não fosse a palavra "aliás", a letra desta canção talvez tivesse ficada inconclusa, e a história de como isso aconteceu é bem interessante. Vejam aqui contada pelo próprio Fausto Nilo.

Nesse outro vídeo, Fagner e o jogador de futebol Zico cantam "Batuquê de Praia", de autoria do compositor Petrúcio Maia. Fagner e Petrúcio são cearenses, Zico é carioca e há na letra  a citação de praias cearenses (Iracema, Morro Branco e Mucuripe) e praias cariocas. No entanto, a gravação desse vídeo aconteceu no Club Méditerranée, em Itaparica-BA.

O ANÍSIO - PEIXADA

Nas noites das segundas-feiras, após retirar-se o último cliente, Aquino abria o seu consultório odontológico para os amigos. E nós - um pequeno grupo formado pelo anfitrião, que tocava uma sanfona de botão, os médicos Wilson Medeiros, Emanuel Melo, Lucíola Rabelo, Rose Mary da Silveira, Sônia Almeida e por mim, que comparecia com o violão-, ali nos reuníamos para cultivar a boa música brasileira.
Por vezes, tivemos convidados. Como o pianista e compositor cearense Petrúcio Maia, o matemático Oswald de Souza e o violonista e compositor Luiz Sergio Bezerra. O Petrúcio havia sido meu colega no Colégio Batista, era irmão do LPM Maia, um consagrado autor de livros escolares de Física, e criara canções belíssimas como "Dorothy Lamour" (c/ Fausto Nilo), "Cebola Cortada" (c/ Clodo), "Lupiscínica" (c/ Augusto Pontes), entre outras. O Oswald de Souza era o celebérrimo Oswald de Souza do programa "Fantástico", o homem que calculava as probabilidades de acertos na loteria esportiva. Na noite com Oswald, o grupo mudou o local da reunião para o "Bar do Anísio", na Av. Beira-Mar. Tendo como cicerone em Fortaleza o colega Emanuel, o matemático foi logo declarando-se fã de Fagner e Belchior. Pena que o "Assum Preto" (cuja presença no "Anísio" era de alta probabilidade) não tivesse aparecido por lá para dar um reforço na "canja".
Mas o que era o "Bar do Anísio", senão aquele espaço libertário que os intelectuais, músicos e boêmios de Fortaleza gostavam de frequentar nas décadas de 1970, 1980 e tal?
Anísio, que tinha sido ascensorista do Edifício Diogo, era o proprietário, relações públicas e, por vezes, garçom da casa. Ele estava sempre disponível para um carteado com os amigos. Dona Augusta, sua esposa, era uma exímia cozinheira, e a biquara frita que ela fazia ficava uma delícia. Foi lá onde eu comi o melhor camarão ao molho da minha vida. E o restaurante foi palco de versões do concurso "Garota Cultural", que muitos desavisados levavam a sério. Tempos depois, o agitador cultural Claudio Pereira, em sua "cadeira voadora", de freguês se tornaria vizinho do casal.
Colhi estas outras informações no Blog Fortaleza Nobre:
O Bar do Anísio ficava na parte da frente da casa. Na cozinha Dona Augusta fazia delícias gastronômicas para os fregueses e também as refeições da família."Da cozinha para frente era o bar. Para trás era a casa. Mas a nossa casa era tudo, porque a gente vivia mais no bar do que na casa", lembra Nísia, filha do casal. Várias canções de Ednardo foram compostas por lá: "Carneiro"(c/ Augusto Pontes), "Alazão" (c/ Antonio José Brandão) e "Beira-Mar". Também a canção "Cavalo Ferro", de Fagner e Ricardo Bezerra. E a célebre  "Mucuripe", de Fagner e Belchior, foi mostrada pela primeira vez ali. 
Descrição da foto: 
A fachada da casa-bar do Anísio, ainda sem o famoso letreiro "O Anísio - Peixada". Dona Augusta parece fitar a imensidão azul de onde vêm os frutos do mar. Gaiolas penduradas em vários pontos (com campina, graúna, sabiá, golinha, bigodeiro...) denunciam que Anísio tinha o passatempo de criar passarinhos. Não sei como eles (os inhos pássaros) conseguiam dormir à noite com aquela cantoria dos boêmios.

BRAZ TACHEIRO. O VÍDEO

"Fui lá para ver de quem tanto falavam - o Braz tacheiro. Claro que havia também outros motivos para a viagem: dezessete anos sem visitar o lugar onde a minha memória fez um ninho e lhe deu o nome de Ubajara. Queria ver também quem não me via: parentes e amigos do meu pai."
Pergunta besta, tolerância zero: conheça o cearense de Ubajara que não tem papas na língua
O rabugento Mestre Braz (que Nelson meio que entrevistou em 2010) foi tempos depois entrevistado pelo Samuquinha, repórter do programa "Domingo Espetacular", do Paulo Henrique Amorim.
Confira no vídeo: não poucas vezes o tacheiro acabou deixando o bem-humorado repórter com cara de tacho.

MEDALHA EDSON QUEIROZ PARA IGOR LUCENA

O atual presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Igor Macedo de Lucena, será agraciado nesta segunda-feira (6), a partir das 19h, na Câmara Municipal de Fortaleza, com a Medalha Edson Queiroz.
Esta medalha é uma honraria destinada "a pessoa física ou jurídica que, em Fortaleza, se tenha destacado pelo empreendedorismo em prol do desenvolvimento industrial e comercial e pelas ações na promoção dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (fonte: cmfor)".

Economista, empresário e professor universitário, Igor (foto) é também PhD em Relações Internacionais - Geoeconomia pela Universidade de Lisboa, pós-graduado em Finanças - Empresas de Capital Aberto pelo Saint Paul Escola de Negócios e mestre em Economia de Empresas - Mercado Financeiro pelo CAEN - UFC (fonte: Linkedin), além de membro da Chatham House – The Royal Institute of International Affairs.

BREVE PERFIL DE HILDEBRANDO MONTENEGRO

José Hildebrando Guedes Montenegro (foto) foi meu colega de turma na Faculdade de Medicina da UFC de 1971. Dedicou-se à especialidade da Psiquiatria e, ainda neófito na profissão, passou a exercer o cargo de diretor do Manicômio Judiciário do Ceará. Lidando com doentes que haviam cometido delitos sob a influência de transtornos mentais, esse manicômio (que é atualmente o Instituto Psiquiátrico Governador Stênio Gomes) foi uma experiência gigante para ele.
Depois de quatro anos dirigindo essa instituição, ele recebeu um convite para ir trabalhar na região amazônica - no Amapá. Naquele território à época não existia psiquiatra. "Eu era o melhor e o pior, porque só tinha eu" (risos), comentou Hildebrando em entrevista à "Sustentação" (uma revista do COSSEMS). Os pacientes eram levados de barco, navegavam entre 24 e 36 horas amarrados no porão e eram internados na Colônia Juliano Moreira, em Belém do Pará.
Desde que chegou ao Amapá, ele cultivava a ideia de criar uma clínica psiquiátrica que funcionasse dentro de um hospital geral. Depois de muita esforço, conseguiu concretizar esse desejo ao inaugurar uma enfermaria com 14 leitos, nos padrões de um pequeno hospital. Mas, em seguida, começou a questionar até que ponto aquela enfermaria se manteria eficaz para a comunidade. Devido ao risco de, por estar funcionando dentro de um hospital, vir a ser uma espécie de microasilo.
Vivenciando o início da Reforma Psiquiátrica, Hildebrando candidatou-se e foi selecionado, em 1982, para cumprir Residência Médica em Psiquiatria Social pelo Ministério da Saúde, em convênio com a OPAS e a Fiocruz, na Colônia de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Na época, o Brasil começava a ter uma certa abertura política, o que propiciava o surgimento de projetos reformistas na área da Psiquiatria.
O modelo "hospitalocêntrico" x o modelo "capsolocêntrico"
Houve várias Conferências até chegar ao Projeto de Lei do Deputado Paulo Delgado e à Lei Estadual do Deputado Mário Mamede. Com a progressiva desativação dos leitos psiquiáticos no país, o modelo hospitalar para o tratamento da doença mental foi perdendo a sua prevalência (como aconteceu com outras doenças estigmatizantes como a tuberculose e a hanseníase), ao tempo em que os CAPS foram sendo implantados por todo o território nacional.
Admirador declarado do Projeto Quatro Varas, uma comunidade terapêutica em Fortaleza-CE, Dr. Hildebrando Montenegro ainda teve a oportunidade de aplicar o modelo social da Psiquiatria, do qual foi indubitavelmente um adepto, em Cruz e no Marco, municípios do interior do Ceará.
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Ele faleceu em 02/02/2023. Homenageio-o com o presente texto, que preserva o espírito da entrevista que José Hildebrando Guedes Montenegro concedeu à revista "Sustentação" n.º. 21 (edição do 1.º quadrimeste de 2008).
http://www.cosemsce.org.br/revista/sustentacao-21.pdf