CAIS BAR

Em 1985, o engenheiro da Petrobras Joaquim Ernesto criou com outros sócios o emblemático Cais Bar na Praia de Iracema, em Fortaleza.
O Cais conheceu todas as glórias e fracassos da moderna Praia de Iracema. Bem mais solar que o velho Estoril, do qual herdou muitas das cabeças privilegiadas que trocaram o velho cassino dos americanos por um endereço menos decadente. Regado a uma trilha musical a cargo do "DJ Beruaite" (aportuguesamento do nome do cantor Barry White), o novo ponto era frequentado por universitários, jornalistas, músicos, artistas, professores e, claro, por belas mulheres.
O painel do Valber
Descrito por Ruy Vasconcelos, em seu blog ./AFETIVAGEM.], havia numa das paredes do estabelecimento, o famoso painel de Valber Benevides, que caricaturava grandes nomes da música popular brasileira tomando umas e outras no próprio Cais Bar. Embora fosse o mural de um Cais Bar estilizado, ideal, sob uma noite de um fantástico azul a meia-lua acesa por uma lâmpada de neon. E essa essa reprodução do Cais Bar no painel tivesse outro nome: Bar Luís Assumpção.
Pintado em 1988, o painel apresentava de forma caricatural as figuras dos grandes compositores e intérpretes da MPB. E passou por intervenções pictóricas em que foram acrescentadas ao painel os artistas Falcão, Ednardo e Belchior. Essa obra foi de grande importância no cenário artístico e cultural cearense, “pois foi essa a primeira pintura ao ar livre consagrada com a inclusão de representantes do ‘Pessoal de Ceará’. Além de virar duas tiragens de cartões telefônicos, impressões em cartões-postais e camisetas”, como destaca o autor da obra.
Esperando a Feijoada
Aos sábados, a casa lotava de gente para assistir ao regional "Esperando a Feijoada”.
Com José Felipe da Silva, o Macaúba (bandolim), Pedro Ventura (violão 7 cordas), Tarcísio Sardinha (violão 6 cordas), Paulo de Tarso, o Pardal (cavaco), Mario Carneiro (flauta), Gildo (pandeiro) e Roberto Carioca (surdo).
Acontece que o proprietário e seu irmão, o médico Chico Barreto, eram compositores. E, no estúdio "Iracema", de Joaquim Ernesto, produziram mais de 10 álbuns de artistas cearenses. Entre os quais, 3 álbuns comemorativos do Cais Bar (10, 15 e 18 anos) e o CD de 1997 do grupo "Esperando a Feijoada".
Em sua versão da Praia de Iracema, o Cais Bar funcionou até 2003.
Nos anos seguintes, Mestre Quim retornou com a ideia do Cais Bar. Ao abrir bares assemelhados em outros locais: na Avenida Washington Soares, em Fortaleza (2004); na serrana Pedra Branca (2018), sua cidade natal; e na Praia da Redonda, em Icapuí (2021).
Hoje, o prédio abriga o Centro Cultural Belchior, um espaço em que a Prefeitura de Fortaleza mantém viva a memória do antigo ponto boêmio, com uma programação de atividades culturais, incluindo exposições, shows, debates, oficinas e eventos temáticos, além de celebrar a cultura local, homenagear os artistas cearenses, como Belchior, e de ser também um polo de arte e encontro na Praia de Iracema.
http://afetivagem.blogspot.com/2009/03/o-cais-bar.html
http://www.fortalezanobre.com.br/2011/11/cais-bar-lendario-ponto-de-encontro-da.html
Vídeo Arte e Militância | 10-12-2025: 
http://youtu.be/pgT2cEBoeMM?si=3dHmPro7JCi0t5IM
Oralidade – Joaquim Ernesto
Sobre a presença de jovens atraentes, ao ser perguntado sobre uma história engraçada, Joaquim Ernesto contou a Brasil Júnior:
Rapaz, tinha muita coisa. Rapaz, tinha coisa demais. Eu me lembro de uma história lá, muito interessante, que só havia dois banheiros, os banheiros apertadinhos. Rapaz, a fila de mulher que ficava nesse banheiro era um negócio sério. E essa fila era bem pertinho de um telefone público, nessa época nem tinha celular. Aí os caras ficavam ao telefone, e pá e pá e pá, e a fila de mulher lá. E o cara começava a conversar e tal, “é porque eu tô trocando de carro” e começou a falar, “meu carro novo”, num sei o quê, e as meninas na fila, e haja falar vantagem, né. Aí chegou um cara, ficou pertinho dele, “pera aí, só um minuto aí”, e pá e pá e pá, e conversando, e conversando, e conversando... E o cara lá esperando e ele pensando que o cara queria telefonar. Aí, depois de conversar, de dizer mil coisas:
– Que que é?
– Vim consertar o telefone.

In: Campo e mercado fonográfico: Fortaleza e[m] trajetos musicais: dimensões da(s) arte(s): atores sócio-históricos, práticas culturais e cidades / Organizado por Francisco José Gomes Damasceno.- Fortaleza : EdUECE, 2020.

Nenhum comentário: