MEU AVÔ JOÃO DE SOUZA

por Fernando Gurgel Filho
Hoje, dia 24 de junho, era comemorado o aniversário de meu avô. Apesar de ser um pé de valsa - na foto, dançando com vovó - que dançava como se estivesse flutuando, gostava mesmo era do São João, seu aniversário, que era comemorado com um arraiá badaladíssimo entre os amigos e familiares.
Para mim, apesar de morar algum tempo em casa dele, meu avô era tão distante dos netos quanto o Nepal do Ceará. Inacessível, misterioso, silencioso... Uma figura quase mítica e que irradiava muita firmeza naquela personalidade temperada na aridez do sertão. Firme, correto, fonte de apoio e consulta para todos os que precisavam ouvir uma palavra sábia e confortadora.
Entretanto, parecia não se enternecer com nada. Era durão. Toda a família tinha-lhe um respeito muito grande. Beirava o medo. Um medo respeitoso, mais de admiração do que de intimidação. Mas parece que todos aprenderam a amá-lo. Inclusive os netos.
Meu pai sempre contava uma história sobre o velho que me deixava fascinado. Dizia que, um belo dia de sol, estava sentado com o pai dele – meu avô – ao pé de uma árvore, quando viram um gavião voar para cima de uma perdiz. Esta, na pressa da fuga, aterrizou e correu, como fazem as perdizes, e se aninhou entre as pernas do avô que, rápido, segurou-a e ficou a afagar-lhe as penas, tranquilizando-a.
Meu pai, contente com a captura da perdiz, exclamou: "Oba, essa tá no papo." Ao que vovô, ainda acariciando as penas da ave, falou sério: "Esta não, meu filho. Ela veio pedir socorro para mim e vai ser socorrida." Esperou o gavião voar para longe e soltou-a.
Meu pai disse que ficou entre chateado e feliz com o ocorrido, passando a respeitar ainda mais o velho.

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