Sobre a família Gurgel Carlos, os bairros de Otávio Bonfim e Cocó, em Fortaleza, as cidades de Acarape, Redenção e Senador Pompeu, no Estado do Ceará, a Faculdade de Medicina (UFC), minhas caminhadas e viagens, assuntos culturais e artísticos notadamente locais, memórias e fatos pitorescos.
O 50º LIVRO DE MARCELO GURGEL
A obra, em sua terceira edição, de autoria do Dr. Marcelo Gurgel Carlos da Silva, professor titular de Saúde Pública e coordenador do Curso de Medicina da UECE, reúne mil questões do tipo múltipla escolha, com respostas comentadas e referências.
Serviço
Data: 23 de setembro de 2008 (terça-feira), às 17h30.
Local: Espaço Saúde & Letras (Pavilhão de Exposições).
P.S. > O livro estará também disponível ao público interessado, no stand da Abrasco Livros, até o final do congresso.
Nota publicada hoje no Blog do PG, ilustrada pela capa do livro a ser lançado.
MÉDICOS BLOGUEIROS NO CEARÁ
Já faz parte de nossa agenda literária o lançamento anual de uma coletânea, sob a égide da Sobrames - Ceará, que reúne textos de prosa e poesia dos médicos que lhe são filiados.
No entanto, isto que se vê no meio impresso não tem a sua correspondência na blogosfera. Raros médicos editam blogs no Ceará. Aponto o Dr. Lúcio Alcântara, a mim e... quem mais? Ynot Nosirrah, um futuro colega (ainda é estudante de medicina da UFC, em Sobral) que publica o Consciência Acadêmica, um blog que acabo de descobrir.
O que é mais interessante: fiz a descoberta deste blog através da postagem intitulada "Podia ser blogueiro...", em que o blogueiro Ynot, após discorrer sobre algumas atuações do médico Marcelo Gurgel, ao final da postagem o encoraja a aderir à blogosfera.
Bem-vindos esforços seus, Ynot, e que se juntarão aos que já faço no mesmo sentido com este meu irmão polígrafo.
Publicado originalmente no Blog do PG.
A SALA LUIZ CARLOS DA SILVA NA OAB - CEARÁ
A OAB-CE inaugurou, no último dia 1º de agosto, a sala de apoio ao advogado do anexo II do Fórum Autran Nunes. A sala está situada no mezanino do edifício Dom Helder Câmara e foi totalmente equipada para melhor acolher os advogados que militam na Justiça Trabalhista. TV de plasma, quatro computadores novos com acesso à internet, impressora e telefone estão à disposição dos advogados no novo espaço.

ARRAIAS, PAQUETÕES E BOLACHINHAS

As arraias (ou "raias" como pronunciavam os moleques), as quais, em outras partes do Brasil, seriam chamadas de pipas, pandorgas ou papagaios.
Para a confecção de uma delas, não se necessitava de muita coisa. Palitos secos de coqueiro, linha, papel-seda e um pouco de grude. Com os palitos secos, em número de três, amarrados nos cruzamentos por pedaços de linha (e com um destes pedaços utilizado para delimitar o perímetro) fazia-se o esqueleto da arraia. A seguir, nesta armação se colavam os retalhos do papel-seda por meio de um grude preparado na cozinha de casa.
Os complementos do brinquedo eram o cabresto e o rabo da arraia. Para o cabresto, que servia para prender a arraia, bastava um pequeno pedaço de linha. E, para o rabo da arraia, além de uma maior porção de linha, à qual se atavam pequenas tiras de pano (molambo era o ideal), a intervalos regulares, ficando uma tira maior, a ponteira, para ser colocada no final da linha. O rabo (ou rabiola) era então preso na extremidade da arraia para lhe conferir estabilidade. Sem ele, ao ser posta no ar, a arraia ficaria a girar loucamente e sem ganhar altura.
Havia uma versão gigante da arraia, o paquetão, cujo esqueleto era feito de taboca. O qual era colocado no ar apenas por quem tinha a robustez suficiente para controlá-lo. E existiam também as bolachinhas, umas imitações baratas das arraias, que serviam de divertimento para as crianças menores. Feitas de algum papel grosso, cortado na forma redonda, e a seguir perfurado por palitos de coqueiro que funcionavam como armação, eram feias e não ganhavam grande altura.
Empinava-se a arraia com a ajuda de um companheiro que a elevava bem acima da cabeça. Até que, a um sopro mais forte do vento, a arraia era largada enquanto o outro a puxava. O outro era o dono da arraia que, muitas vezes, tinha de correr contra o vento para que ela subisse. Não havendo o auxílio de um companheiro para empiná-la, a alternativa era o "soltador" de arraia se posicionar num local elevado como um muro ou o terraço de casa.
E a arraia subia em movimentos coleantes sob o incentivo de repetidos puxões aplicados em sua linha. Com esta, a cada instante, sendo liberada de um carretel que rolava entre os dedos do "soltador". Até que a arraia se encontrasse na altura desejada (ou a linha chegasse ao fim). Neste ponto, começava o bonito espetáculo da arraia a movimentar-se no espaço em resposta aos "lanceios" feitos no chão.
Uns contentavam-se com esse aspecto "pacífico" da brincadeira. Outros, porém, preferiam praticar o "corte" de arraias. Uma peleja entre arraias em que, ao cruzamento das linhas, uma delas (às vezes, ambas) sofria o "corte". E, ficando sem o controle da linha que a prendia, passava a ser arrastada pelo vento até terminar enganchada num fio elétrico, árvore ou telhado. Sendo, nessa "agonia", acompanhada pelos moleques em louca correria como se fora um troféu.
A muitos frustrava a arraia "cortada" ser também "aparada". Quando essa arraia "derrotada" não caía em domínio público, por haver sido em pleno ar capturada e recolhida pela arraia "vencedora", graças à habilidade do dono desta.
Não seria possível o "corte" de arraias sem a participação do cerol. Preparado com vidro moído e cola derretida, assim que secava na linha em que era aplicado, o cerol a transformava num instrumento verdadeiramente cortante. Capaz de causar acidentes nos brincantes e em terceiros, aliás, como acontece até hoje. E, o que é pior, com alguns destes acidentes a se mostrarem terrivelmente letais.
Texto originalmente postado no Blog do PG em 21 de julho de 2008.
SÉCULO DE HISTÓRIA
Para ler o artigo clique aqui.
O CONTADOR LUIZ CARLOS DA SILVA
UMA TAREFA CONCLUÍDA
E outros textos de minha autoria, que não apresentam estas origens editoriais, ainda serão postados no já citado blog (que pode ser visitado clicando no nome Preblog, no blogroll ao lado).
TROVOADA
Questionou-me o meu irmão Marcelo se a trovoada das primeiras horas do dia 6 estava a assinalar a minha chegada aos 60 anos.
Claro que não.
Desconheço como as forças da Natureza possam se reunir para a produção de raios e trovões. E se, quando o fazem, alguma vez têm esse propósito de render homenagens a alguém.
É o tipo da manifestação que, em campo aberto, pode até fulminar o homenageado.
Por essa e outras, não tive nem coragem de ir à varanda do apartamento para dar uma espiada no grande espetáculo. Seria confiar demais na eficiência do pára-raios do meu edifício. E permaneci deitado, enquanto durou o evento, a bem dizer aterrorizado com tantos clarões e ribombos.
O que aconteceu em Fortaleza na madrugada do dia 6 teve proporções bíblicas, faltando apenas que abrissem as comportas do céu para termos o Dilúvio 2.
Acredito inclusive possa ter havido uma conjuração desta turma: Zeus, com suas faíscas, Thor, com seu martelo bumerangue, Quetzacoatl, com seu nome impronunciável, e também o nosso deus Tupã. Este último, porém, como uma forma de reabilitação.
Uma força que os companheiros deram para que ele voltasse a ser o deus brasileiro do trovão. Um nome respeitado por todos, como nos velhos tempos em que aqui se falava a Língua Geral. E não um mero nome que hoje os pobres gostam de botar em seus cachorros.
Publicado simultaneamente no Blog do PG.
DO VELÓRIO AO SONHO DE CIPIÃO
O editorialista, ao ensejo da homenagem que lhe foi rendida no livro “Em Louvor: aos homens e às suas idéias”, tornou público o desejo de não ter necrológio, quando do seu passamento, e que, em sua viagem derradeira, a cerimônia fosse estritamente familiar. Deixou também o aviso de que não quer a presença, minha e de tantos outros, em seu enterro, expressando a vontade de exarar, em cartório, o elenco dos excluídos.
Embora entendendo o desejo do conselheiro Menezes, certamente será bem difícil conter a avalanche de seus amigos, colegas, ex-alunos e admiradores, que hão de pranteá-lo, à revelia de seu bizarro desiderato. Em respeito à sua vontade, alguns podem até se poupar de carpir o seu corpo mignon, durante as exéquias; contudo, por certo, as honrarias póstumas se sucederão em eventos que porão, lado a lado, pessoas de diferentes matizes ideológicos, desde a esquerda que não se endireita à direita sinistra, o que complementará as merecidas homenagens prestadas em vida.
Para o Prof. Dalgimar, fiz prefácio de livro e peças laudatórias e dele recebi igual tratamento, ainda que com manifesta assimetria, à conta do seu superior e bem melhor atributo literário; porém, seguramente, mesmo que me submeta ao ditame de sua obscura intenção, contendo a pena e a criação literária, os textos já publicados podem dar suporte a que terceiros escrevam necrológios sobre o ilustre filho da Gangorra.
Não somos imortais, e nem os acadêmicos o são, mas não se morre de todo, quando se permanece vivo no coração de alguém, seja ou não um descendente, pois em Santo Agostinho colhe-se: “A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do caminho. Eu sou eu, vocês são vocês. O que eu era para vocês continuarei sendo. ...”. Em que pese não ter vexame em partir primeiro, condição em que a governabilidade humana é algo limitada, ratifico o quão constrangedor seria para mim, assumir o encargo de velar um amigo tão querido quanto o preclaro colega Menezes.
Com efeito, em “O Sonho de Cipião”, (Livro VI da República), datado de 54 a.C., Cícero (106-43 a.C.), o notável orador romano, prenuncia a imortalidade da alma ao profetizar: “Sim, esforçai-vos e relembrai isso: que o que é mortal não sois vós, mas vosso corpo e, certamente, vós não sois aquele que essa atual aparência manifesta, mas a alma de cada um é aquele cada um, não essa figura que se pode mostrar com o dedo.”
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Médico Epidemiologista
CRÍTICA DE LIVROS: O SONHO DE CIPIÃO
O conselheiro Menezes se encontrava entre os trinta louvados; convidado ao lançamento do livro, dia 27 de março próximo passado (Centro Cultural Oboé), recusou visceralmente o convite. E o recusou nos termos de: professor, deixa que a gente morra primeiro, daí então...
Atalhou o Doutor Marcelo: Mas se eu louvar o camarada após a morte ele não vai ler a louvação, nem comparecer ao lançamento destes e outros livros. De imediato, declarou que no próximo mês lançará mais um. Para completar os 50.
― Além do mais, prosseguiu Marcelo, tenho em mente um ou mais de um que versará sobre obituários e discursos necrológicos, feitos ao momento de a terra descer sobre os restos mortais do fulano. Espero, no caso, ao momento do lançamento, contar com a presença dos familiares. Aí é que a freqüência aumentará ao evento.
Conheço algumas pessoas que farejam enterros e missas do sétimo dia. Lá na Itapipoca, eu tinha uma prima assim. Mas coitada, teve uma vida miserável. A mãe faleceu de calazar, o pai envenenado por uma amásia, com veneno de formiga, largado no cuscuz com leite. Faz tempo que não a vejo, mas sei que não largou a mania. Aliás, uma mania sem graça nenhuma. Já aqui em Fortaleza conheço outra senhora com esse mesmo vício de farejar defunto, tenha o coiso morrido em odor de santidade ou não. O que vale é o ritual. Uma carpideira hebréia anacrônica.
Marcelo não é desse grupo. É da estirpe de Machado de Assis. Não vive mais. Escreve. Já o avisei: ele está proibido de se fazer presente à minha viagem derradeira, e de deitar discurso laudatório. Estou mandando a cartório um documento em que fiz o elenco dos que não podem comparecer ao enterro. São todos, deus e o mundo. Este tipo de cerimônia é coisa muito pessoal, ou seja, familiar, pois pessoal não poderia ser. Embora devesse.
Nosso prezado Marcelo, imagino eu, embora seja protoplasmicamente religioso, não entra na vertente ilusória de Cícero do Sonho de Cipião (Somnium Scipionis), que é deveras a mesmíssima cristã: a imortalidade nos campos elísios. Boa é a daqui, das academias, mais na linhagem do filósofo com quem eu não tenho a mínima afinidade, Nietzsche, o qual, vez por outra diz alguma coisa morigerada, que soa bem, como em Das Philosophenbuch: o filósofo e o artista almejam a imortalidade do intelecto criativo. Já que a outra, a da alma, por suposto, não existe.
PARABÉNS, MATHEUS
Muitas felicidades, netinho.
MEMÓRIA - OTÁVIO BONFIM
"Otávio Bonfim dos velhos tempos", de Elsie Studart Gurgel de Oliveira.
Bairro é cada uma das partes em que se costuma dividir uma cidade ou vila, tanto para a orientação das gentes quanto para o controle administrativo dos serviços públicos; por outro lado, é, também, um espaço de subjetividade, uma vez que estreita laços sociais e se incrusta, para sempre, na memória de seus habitantes. Percorrer aspectos os mais diversos dessa relações entre o homem e o espaço é o motivo central dessa edição.
Aqui.
"No tempo do Frei Lauro", de Josênio Parente.
Otávio Bonfim, no início da década de 1970, quando recebe Frei Lauro na paróquia do bairro para conviver com a juventude, era pacato e já apresentava sinais de crescimento. As pessoas, boa parte vindas do interior, buscavam mercado de trabalho na capital. Já possuía, contudo, uma classe média significativa. O comércio local já era forte e alguns moradores amavam o bairro e lutavam para o progresso
Aqui.
"Frades alemães no Otávio Bonfim", de Marcelo Gurgel Carlos da Silva.
No último quartel do século XIX, a Província Franciscana de Santo Antônio, sediada no Nordeste, originária de Portugal, contava com um reduzido número de frades menores, para fazer frente à avalanche de obrigações religiosas e comunitárias. Em razão desse fato, fez um apelo às províncias franciscanas da Europa, em tom de socorro, encontrando ressonância na Província Franciscana da Saxônia, na Alemanha, que aquiesceu em mandar frades ao Brasil, para reforçar os recursos locais.
Aqui.
"EM LOUVOR AOS HOMENS E ÀS SUAS IDÉIAS"
Sobre o livro: "São trinta registros expressivos de nomes, nos quais se incluem médicos, religiosos, advogados, engenheiros, jornalistas etc., que se destacram, em recentes décadas, nos seus diferentes campos de atividades, notando-se que a maioria deles teve ou tem inserção no ensino superior, concorrendo, assim, com seus saberes para a formação de novas gerações de profissionais."
Sobre o autor: É médico, economista, professor universitário, pesquisador e polígrafo. Reside em Fortaleza.
Data: 27 de março de 2008, às 19h30.
Local: Centro Cultural Oboé. Rua Maria Tomásia, 531 - Fortaleza.
O autor e o livro serão apresentados pelo médico e membro da Academia Cearense de Letras Dr. Lúcio Alcântara.
Importante - A renda bruta do lançamento do livro será revertida para as ações sociais da "Casa Vida", mantida pela Rede Feminina do Instituto do Câncer do Ceará.
Originalmente publicado no Blog do PG.
AGRADECIMENTO E AGENDA
Em tempo
Agendada para 27/03, às 19h30, no Centro Cultural Oboé, a noite de autógrafos do mais novo livro de Marcelo Gurgel: “Em Louvor aos Homens e às suas Idéias”. Nesta obra, Marcelo traça os perfis de trinta pessoas que, em recentes décadas, foram ou são personalidades de destaque no Estado do Ceará.
Originalmente publicado no Blog do PG.
LANÇAMENTO DE LIVRO
Local: Centro de Formação Pastoral da Paróquia de Nossa Senhora das Dores (antiga sede do Cine Familiar).
Data: 13/03 (hoje), às 19h30.
Não haverá vendas de exemplares, mas, de bom grado, aceita-se a doação de cestas básicas e produtos de cama e mesa, para a distribuição aos carentes assistidos pelas Pastorais da Criança e do Idoso em Otávio Bonfim.
Originalmente publicado no Blog do PG.
OTÁVIO BONFIM - SOB O OLHAR DE UMA FAMÍLIA
Dos treze filhos gerados pelo casal, os nove primeiros receberam as boas-vindas neste modesto imóvel de dupla finalidade; os quatro últimos, numa casa (enfim) própria, para onde a família se mudou em 1958, situada na rua Domingos Olímpio, nas proximidades da estação ferroviária do bairro. Só muito adiante, em 1996, com vários de seus integrantes já casados e/ou residindo em outros bairros e em outras cidades, foi que o núcleo da família se transferiu de Otávio Bonfim.
Feitas as contas, conclui-se que o bairro Otávio Bonfim e a família Gurgel Carlos mantiveram um consórcio que durou meio século. Com Dores e Amores de permeio. E de que restaram muitas e muitas reminiscências, aqui reavivadas e transformadas em livro por Marcelo, da família Gurgel Carlos. No qual nossos ascendentes, os vizinhos e amigos, os tipos pitorescos da época e nós mesmos somos os seus personagens reais; no contexto de um bairro chamado (não oficialmente) de Otávio Bonfim com seus logradouros, suas moradias, sua igreja (com os franciscanos frades de origem alemã) e sua estação ferroviária.
Baseado em fatos vivenciados e levantados (porém, cuidadosamente conferidos) por Marcelo, que escreve em estilo claro e apurado, o livro é um repositório de informações sobre o bairro e sobre a nossa família. A se juntar – com destaque – a outros títulos, como “Anos Dourados em Otávio Bonfim...”, de Vicente Moraes, “Frei Lauro Schwarte...”, de Marcelo Gurgel, “Dos canaviais aos tribunais...”, organizado por Marcelo e Márcia Gurgel (sobre a vida de nosso pai), entre as obras que privilegiam, do ponto de vista historiográfico, o bairro Otávio Bonfim e a família Gurgel Carlos.
Escrito por mim para orelha do livro "Otávio Bonfim, das Dores e dos Amores - Sob o olhar de uma família", de Marcelo Gurgel.
"OTÁVIO BONFIM, DAS DORES E DOS AMORES"
Com o lançamento previsto para 13/03, às 19h30, no Centro de Formação Pastoral da Paróquia de Nossa Senhora das Dores (antiga sede do Cine Familiar), a obra em epígrafe vem a ser uma importante contribuição literária de Marcelo Gurgel à preservação da memória do mencionado bairro.
Até lá tornarei a escrever sobre o assunto.
Originalmente publicado no Blog do PG.
MEMÓRIA JÚNIOR. NOTA DE PESAR
Integrante do corpo clínico do Hospital de Messejana e de outros nosocômios em Fortaleza, o colega Memória Júnior foi um profissional de destaque nas áreas em que atuou: cirurgia, gestão hospitalar e pesquisa científica.
Na área da pesquisa, foi responsável pela criação de um novo modelo de oxigenador de sangue para uso em cirurgia cardiovascular.
Meus pêsames à família deste grande ser humano.
"Ending this Editorial, I render my homage to my colleagues, Dr. Magnus Rosa Coelho de Souza, who passed away on January 7th 2008, and Dr. José Maria Furtado Memória Júnior, who recently passed away on February 20th 2008. They were prominent Brazilian and International Cardiovascular Surgery names, whom we are already missing. They were example of life. I wish to express to their family members, our most sincere sympathies."
Tradução:
Encerrando este Editorial, presto minha homenagem aos colegas Dr. Magnus Rosa Coelho de Souza, falecido em 07 de janeiro de 2008, e Dr. José Maria Furtado Memória Júnior, recentemente falecido em 20 de fevereiro de 2008. Eles foram nomes brasileiros e nomes da Cirurgia Cardiovascular Internacional, de quem já estamos com saudades. Eles foram exemplo de vida. Desejo expressar aos seus familiares, nossos mais sinceros sentimentos.
ARTE MATERNA
Não se trata de aqui dizer que Luiz fosse insensível às artes. Ele sabia apreciar uma boa música, fosse de natureza erudita ou popular, uma gravura de um pintor renascentista, ou um texto de um autor clássico. Apenas não era um artista, no sentido de ser alguém que produzisse arte (*).
Como acontecia com Elda, sem dúvida. Ainda adolescente, e já a mostrar sua desenvoltura na arte de desenhar. Criando no papel, ora a imagem de um rosto feminino, ora a cena de uma natureza morta, e tudo com grande perfeição. Através de uma técnica em que ela combinava crayon e fuligem (que obtinha de um lampião a querosene) sobre papel, a fim de realizar seus desenhos, em geral figurativos. Guardo na memória os traços existentes num dos seus quadros, um rosto de mulher, que, de uma das paredes de nossa casa, sorria enigmaticamente para a minha meninice.
Certa ocasião, Elda também chegou a pintar, com óleo sobre vidro, a imagem de um pavão. Que impressionou bastante o seu Tio José, um dos proprietários da Usina Ceará, a ponto de ele requisitar o quadro para colocá-lo em seu escritório. Unindo assim o útil ao agradável, já que a ave representada na pintura era também o símbolo do Sabão Pavão, um dos produtos de sucesso da fábrica.
Infelizmente, este e outros quadros que Elda desenhou não são atualmente localizáveis.
Com o casamento, deu-se que a mãe sobrepujou a pintora. Porque vieram os encargos domésticos relativos a uma prole que foi ficando numerosa. Encargos esses que, por muitos anos, não lhe permitiam exercitar o seu dom de pintar. Naqueles tempos da arte sufocada, Elda derivou para os bordados domésticos, aos quais emprestava o melhor de seu talento. Mas, no fundo, sempre alimentando a idéia de que algum dia retornaria às lides artísticas.
O que um dia aconteceu. Quando, levada pela mão de sua amiga Hilda Ramos, Elda passou a freqüentar um curso de tapeçaria no centro de Fortaleza. Com os filhos já criados, ela enfim recuperava o tempo necessário para o aprendizado de uma forma de arte! E, cerca de quatro meses após, lá estava ela a receber, das mãos do Governador César Cals, o certificado de conclusão do curso. Com louvor inclusive, por haver sido a mais aplicada aluna da turma.
Nestes últimos 30 anos, Elda já produziu cerca de 120 peças que, nos muitos lares e instituições em que se encontram, estão a esbanjar graça e beleza. Algumas delas são reproduções em tapeçarias dos quadros de Mucha, um ilustrador tcheco de sua especial predileção. Outras representam idílicas cenas européias (Dona Elda se define como uma romântica). E ainda há aquelas que são de inspiração religiosa.
Em meu acervo existem duas de suas obras, as quais exibem belos desenhos geométricos. Duas outras, que decoraram um chalé que foi de minha propriedade em Porto das Dunas, atualmente, doadas para meu filho Érico, estão em seu apartamento. A fim de que o neto Matheus se familiarize com o Carlitos (numa cena do filme “O Garoto”) e com o Gordo e o Magro.
(E ainda possuo um grande quadro de tapeçaria, que representa a imagem de uma porta em meio a alguns "arabescos"; mas sendo este da lavra de minha falecida irmã Marta, a qual precedeu a nossa mãe nessa modalidade de arte.)
Toda essa produção artística de Elda é feita sem objetivo pecuniário. A mãe tapeceira tem o arraigado costume de presentear com o que faz as pessoas de sua estima. E de se considerar bem paga, apenas por ter o seu trabalho reconhecido. Não admite, porém, saber que o favorecido deu um destino inadequado a qualquer de suas obras. Cada quadro é uma espécie de filho a receber suas atenções para sempre.
Laerte José, um dos genros da matriarca, já organizou um álbum fotográfico em que todas as suas obras foram catalogadas. E, mais recentemente, produziu um DVD sobre esta arte materna. Constando de uma parte inicial, em que ela é entrevistada (pelo próprio Laerte, no melhor estilo Fernando Faro), e de uma parte subseqüente em que há uma grande mostra de suas tapeçarias.
Elda tem um grande amor à arte que pratica. Quem a visita certamente vai encontrá-la na varanda de seu apartamento, com tela, agulha e linha à mão. A preparar uma de suas novas peças. Isto com a tarimba de quem, na arte secular da tapeçaria, conhece 74 tipos de pontos e sabe, com exatidão, onde e como aplicá-los.
MORADAS E VIZINHOS
Um caso peculiar o nome desse bairro, assim chamado por causa da estação Otávio Bonfim, da Rede Viação Cearense. A primeira parada do trem que, partindo da estação João Felipe, no centro de Fortaleza, fazia a linha para o Crato. Um dia, as autoridades municipais trocaram a designação do bairro para Farias Brito. E, com isso, subestimaram a inércia mnemônica da população, pois esse nome – oficial – simplesmente não “pegou”. É como Otávio Bonfim que, até hoje, o fortalezense identifica o bairro (e é como aqui o chamarei).
Era um bairro de natureza residencial, quase central. Muito procurado, nos anos 40 e décadas subseqüentes, pelas pessoas da classe média de Fortaleza com o objetivo de fixar residência. Instado a relacionar quais seriam, naquela época, as principais referências do bairro eu apontaria: a Estação Ferroviária Otávio Bonfim (é claro); a Igreja de Nossa Senhora das Dores e o Cine Familiar (administrado pelos frades franciscanos); a Usina Ceará (fábrica Siqueira Gurgel); o Mercado São Sebastião; e, em seu trecho inicial, a Avenida Bezerra de Menezes.
Foi nesse bairro que, em 1946, o jovem Luiz Carlos da Silva, então solteiro e estudante de Direito, alugou um imóvel de propriedade da Sra. Celeste Gurgel. Uma casa simples, com a fachada voltada para o poente, situada na Rua Justiniano de Serpa, nº. 53. A casa também ficava na Praça Almirante Tamandaré (Farias Brito, atualmente), a praça principal do bairro Otávio Bonfim, por corresponder a citada rua, em seu primeiro quarteirão, a um dos lados desse logradouro.
Inicialmente, alugou Luiz a casa para instalar uma escola. O Instituto Padre Anchieta, que viria a prestar relevantes serviços educacionais às famílias do Otávio Bonfim e bairros adjacentes. Nos primeiros tempos, a instituição contou com a colaboração de Elda Gurgel Coelho. A futura esposa de Luiz era ainda uma estudante do Colégio Santa Isabel, quando passou a integrar o quadro de professores do Instituto Padre Anchieta. E foi, nessa situação de aluna e professora, que iniciou uma relação de namoro com ele.
Em 25 de agosto de 1947, Luiz e Elda se casaram. E o casal foi morar no imóvel em que já funcionava a escola, adaptado em sua parte dos fundos para se tornar o lar da família Gurgel Carlos. Onde fomos aportando: eu (citando-me em primeiro lugar por ser o primogênito), Lúcia (falecida no segundo ano de vida), Marta, Márcia, Marcelo, Sérgio, Meuris e os gêmeos Germano e Luciano.
Era uma casa estreita, porém comprida, com quintal e água puxada por cata-vento. Nossos vizinhos, em casas de paredes-meias com a que morávamos, eram: à direita, Solon Acioli (vendedor da Siqueira Gurgel) com a esposa Nilda; à esquerda, Raul (gerente do Cine Diogo) com a esposa Anita. Em outras casas do quarteirão, residiam as famílias de Dr. Júlio Macedo (dentista), Dr. Luiz Macedo (também dentista e que mantinha consultório no mesmo endereço), Aglaís (funcionária dos Correios), Fernando Gurgel (vendedor da Siqueira Gurgel e futuro proprietário da Mecesa), Tia Dulce (com os filhos Flávio e Fernanda, irmãos do já citado Fernando Gurgel), Vital Félix (líder sindical) e Júlio Brígido, dentre outras.
Em 1958, o Instituto Padre Anchieta já havia cerrado as portas, mas, para abrigar uma família cada vez mais numerosa, a casa da Rua Justiniano de Serpa vinha-se mostrando pequena. Por conta disso, algum tempo antes, Luiz havia adquirido um terreno na Rua Domingos Olímpio, nº. 2.309, onde começara a construir uma casa. Em 6 de janeiro daquele ano, estando concluída a obra, mudamo-nos para lá. Ficava a uns três quarteirões do endereço anterior.
A nova casa apresentava um maior número de cômodos, com estes mais espaçosos; tinha jardim, áreas livres laterais e quintal. Afiançava a solidez do imóvel recém-construído as suas paredes externas dobradas. Contudo, a casa fora planejada e construída sem garagem. Talvez por considerar Luiz, naqueles tempos difíceis, ser uma hipótese remota a de possuir um carro. No entanto, logo pôde comprar o seu primeiro veículo, um jipe usado, o qual, por não ter como o guardar na nova residência, era conduzido à noite para “dormir” no Posto Liberdade, que ficava nas proximidades do endereço anterior. Adiante, esse problema foi resolvido com a construção de uma rampa da calçada até a varanda da casa.
Quanto ao imóvel alugado da Justiniano de Serpa, não foi logo devolvido à proprietária. Por algum tempo, Luiz, que era abstêmio, o utilizou como depósito de um negócio com aguardente. Lembro que adquiria o produto a granel de destilarias em Acarape, aonde costumava viajar por outro motivo, o de atender a sua clientela jurídica. Em Fortaleza, era a aguardente engarrafada e, com os nomes de “Uiscana” e “Esportiva”, comercializada nos bares e mercearias desta cidade. Alguma vez, até acompanhei Tio Edmar, que era sócio dele no empreendimento, em suas peripécias de vendedor de destilados.
Magna, José, Mirna e Luiz (que seria o caçula se não houvesse logo falecido) foram os seguintes rebentos da família Gurgel Carlos, com esta já residindo na casa da Domingos Olímpio. Outras informações relacionadas com a nova morada: era a penúltima casa do lado ímpar da rua; e defrontava-se com a residência destinada ao “chefe da estação”. Com a via férrea passando a poucos metros, da casa da Domingos Olímpio se podia ver a movimentação dos trens, apanhando e deixando passageiros na Estação Ferroviária Otávio Bonfim. E esse fato particularmente me aprazia quando, às 3 horas da manhã, eu precisava tomar o trem que me levaria de férias ao Sítio Catolé, no município de Senador Pompeu.
Dentre os clãs que residiam na vizinhança, mantínhamos uma relação mais estreita com: a família Teixeira, constituída pela matriarca Dona Chiquinha e suas filhas Isa, Celsa e Dona Zezinha, que moravam em casas diferentes, as duas primeiras com os respectivos esposos (o agrônomo Dr. Paulo e o advogado Dr. Iúna Soares Bulcão) e os filhos, e a Dona Zezinha (que era viúva) com os seus muitos filhos; a família Brasil; e a família Maciel. Na penúltima quadra da Rua Domingos Olímpio, ficava uma casa inesquecível para todos nós, a de nº. 2209, onde residiam a Vovó Almerinda e a Tia Elza. Nela, disputávamos a afeição e os carinhos de nossa avó materna e, nas esticadas que dávamos ao imenso quintal, os regalos e as sombras das suas árvores frutíferas.
Houve ainda um terceiro endereço, a partir de 1996, quando o casal Luiz e Elda mudou-se para o bairro Monte Castelo. Passando a viver na companhia das filhas Magna e Mirna, que já vinham lá residindo. Tratava-se de um apartamento situado no primeiro andar do Condomínio Edifício Cristal, na Rua José Marrocos, nº. 407. Luiz o adquirira sem se desfazer da casa da Domingos Olímpio, onde manteve por mais algum tempo o seu escritório de advogado. Foi nesse apartamento do Monte Castelo que o patriarca da família Gurgel Carlos, cercado pelos cuidados dos familiares, viveu os últimos dias de sua profícua existência.
Paulo Gurgel Carlos da Silva
O DÍNAMO LITERÁRIO MARCELO GURGEL
Trata-se do lançamento do livro “Medicina da UFC 1977 – 2007: 30 Anos de Formatura da Turma Prof. José Carlos Ribeiro”, do qual ele foi também o organizador. Contando com cerca de 40 textos, produzidos por 24 colegas, nos moldes de um memorial da saudade, esta obra representa uma alentada contribuição ao resgate da História da Medicina no Ceará nas últimas décadas.
Serviço
Dia: 31 de janeiro de 2008 (quinta-feira)
Hora: 19h30min
Local: Rua Maria Tomásia, 531. Fone: 3264 7038
Originalmente publicado no Blog do PG.
UM LIVRO PARA LUIZ CARLOS DA SILVA
Faz a sua apresentação o médico Marcelo Gurgel Carlos da Silva, um dos organizadores da obra e filho do homenageado.
Local: OAB – Seção Ceará, na Avenida Pontes Vieira, 2.666 – Dionísio Torres, em Fortaleza.
Originalmente publicado no Blog do PG.
"DOS CANAVIAIS AOS TRIBUNAIS"
“Em janeiro de 2007, em uma das costumeiras reuniões domingueiras de nosso ‘clã’ familiar, apresentei aos meus irmãos uma proposta de organizar um livro sobre o nosso pai, Luiz Carlos da Silva, a ser lançado em janeiro de 2008, por ocasião do seu nonagésimo natalício, se vivo ele fosse.”
Com estas palavras, o médico Marcelo Gurgel, meu irmão, inicia a apresentação do livro “Dos canaviais aos tribunais”, do qual foi o principal organizador, sobre a vida do professor e advogado Luiz Carlos da Silva, nosso pai. Na organização do livro, Marcelo contou também com a incansável colaboração da jornalista Márcia Gurgel, uma de nossas irmãs. E, na obtenção de muitos dos textos que compõem a obra, com os pendores memorialistas que iam se revelando em todos nós, filhos do biografado.
Alguns textos de autoria paterna, localizados após muita busca e pesquisa por Marcelo, foram oportunamente incorporados ao livro. Como também os depoimentos que foram feitos por colegas, amigos, clientes e alunos de Luiz Carlos a respeito de nosso genitor.
E a obra “Dos canaviais aos tribunais” ainda incluiu muitos registros fotográficos e ilustrações. Sendo a fonte para estas últimas as peças de tapeçaria criadas por Elda Gurgel e Silva, a mãe tecelã da qual admiramos a arte (e outros dons).
Completam as homenagens ao biografado a data e o local que estão escolhidos para o lançamento do livro: o dia 28 de janeiro (às 19h30), por ser a data em que ele nasceu, e a sede da OAB – Ceará (na avenida Pontes Vieira, nº. 2.666, em Fortaleza), uma entidade à qual Luiz Carlos tinha muito orgulho em ser filiado.
Originalmente publicado no Blog do PG.
LUIZ CARLOS DA SILVA, O HOMEM E O LIVRO
A convocação ganhou tanto a adesão da matriarca, D. Elda Gurgel, como dos irmãos, todos dispostos a contribuir com idéias e peças literárias para a feitura da obra, que teria, como co-organizadora, a jornalista Márcia, filha do homenageado.
No correr de 2007, os encontros dominicais passaram a ser entrecortados pela leitura de textos novos, produzidos pelos irmãos ou por convidados, todos focando situações que tinham, como personagem central da trama, o nosso progenitor.
Esse foi também um trabalho de pesquisa histórica e documental, que levou às seguintes fontes de consulta: Biblioteca Pública Menezes Pimentel, Instituto do Ceará (Nirez), Colégio Cearense Sagrado Coração, Faculdade de Direito-UFC, CRC-CE, OAB-CE, SENAC, Academia Cearense de Letras e Assembléia Legislativa do Ceará.
Em meio a essa busca por informações, sobre o nosso pai, a surpresa veio com achados preciosos, verdadeiros tesouros da produção literária paterna, à época de sua juventude. O trabalho de garimpagem só não rendeu mais, em razão de falta de conservação dos acervos públicos e privados, incluindo os das instituições e das famílias cearenses, a exemplo da nossa. Mesmo assim, o resultado foi muito positivo, pondo à mostra a exuberante capacidade de escrever do nosso pai.
No seu todo, a obra saiu alentada, mercê dos depoimentos de amigos, colegas, alunos, clientes, pessoas, enfim, que conviveram com Luiz Carlos da Silva, e de uma maneira agradecida, transpuseram para o papel, fatos marcantes que vão da sua infância, passada nos canaviais, lavrando e domando a terra, até seus derradeiros embates nos tribunais, em que se colocava sempre na defesa daqueles com sede de justiça.
Grande foi, pois, a satisfação advinda do contato com seus companheiros, em diferentes fases da sua vida, como aluno marista, estudante de Contabilidade, acadêmico de Direito, professor e advogado. Não faltaram os beneficiários de suas lides profissionais, para compor um arco de mais de sete décadas de uma história vivida com lances de epopéia, deixando em cada filho o gosto do privilégio de ter sido gerado por quem só soube se fazer respeitado, como homem e como cidadão.
Nas Tábuas da Lei, recebidas por Moisés, no Monte Sinai, está inscrito o mandamento: “honrar pai e mãe”. Pois bem: é isso o que os filhos de Luiz Carlos da Silva, procuraram fazer, convertendo em obra literária, as suas andanças na face da terra. A primeira das intenções foi resgatar o legado de quem, provido de grande sabedoria e de muita integridade, gerou e educou uma prole especial, à custa do sacrifício de suas próprias ações e aspirações.
O que se espera é que esta demonstração de amor filial, condensada em páginas que são também testemunhos de vida, enfeixados em publicação comemorativa dos 90 anos de Luiz Carlos da Silva, lançada em 28.01.2008, na OAB-CE, venha confirmar, não só a imagem que se desenha do nosso pai, ornada de valores humanos incontestáveis, mas, também, a vocação escrevinhadora da sua prole, ratificada pelo DNA, conseguindo despertar, em outras famílias, um interesse igual ou parecido de tornar pública a figura do patriarca, exemplo das gerações porvindouras.
Que Deus o tenha, meu pai!
DERMEVAL E MAGNA
A recepção foi à noite no Revoir Buffet, no bairro do Cocó.
E, nos cartões de agradecimento distribuídos aos convidados, lia-se Camões:
"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer."
Votos de uma vida em comum venturosa a Dermeval e a minha irmã Magna.
Original: Blog EM, 31/03/2007
DE IRMÃO PARA IRMÃO (MANO A MANO)
Um tempo cumprido com galhardia por Marcelo nos anfiteatros, laboratórios e enfermarias da Faculdade de Medicina. Nos primeiros anos de sua graduação, raro pude estar com ele. Tangido para outras freguesias pelos sopros de minha profissão. Ao retornar, deparei-me com o aluno exemplar. Sobraçando “tijolões” , varando plantões. Naqueles, para buscar conhecimentos teóricos; nestes, para ajustá-los à dimensão da dor humana.
Discípulo grato, em seu oratório entronizava os grandes mestes da Faculdade de Medicina. Lembro-me de quanto admirava (com reciprocidade, ao que tudo indica) os mestres Dr. Haroldo Juaçaba, Dr. José Carlos Ribeiro e Dr. Paulo Marcelo Martins Rodrigues... Dr. Ribeiro, este encaminhava-lhe os acadêmicos confusos sobre as escolhas de “créditos” para que Marcelo, alçado na condição de um especialista no assunto, mostrasse-lhes o norte magnético.
E lembro-me também de que gostava de espairecer-se da Medicina estudando... a História da Medicina.

Um dia saiu da História para entrar na Vida. Vida de médico formado. Mas, ao intuir que “médicos nunca se formam” , tornou a ser aluno. Em seguida, de aluno a professor, e vice-versa. Hoje, nesse movimento pendular, que é Marcelo no exato momento? Alguém que lê, escreve, leciona, pesquisa, revisa, planeja, aprende, publica, orienta... Em sua azáfama profissional e científica, é Marcelo daqueles que seguem à risca o preceito de que nada resiste ao trabalho. E o seu dia parece dispor de horas adicionais, que não badalam para os outros mortais.
Sem arroubos de minha parte, Marcelo é hoje uma legenda pulsante da Medicina cearense. Pelo conhecimento científico, cultura humanística, dedicação profissional, caráter impoluto, comportamento ético. E, fazendo juntada a esses predicados, o entusiasmo. O inesgotável entusiasmo com que se lança em todas as suas ações. Pondo-lhes os devidos remates em quaisquer circunstâncias.
(Orgulho-me de me apresentar como seu irmão. Aliás, não dispenso o gênico detalhe. Apesar de que ele cavilosamente já tentou me usurpar a primogenitura. Alegando que alguma vez eu a cedi por um prato de lentilhas. Nego peremptoriamente.)
Convocado por Elsie, integro-me aqui aos que rendem homenagens a Marcelo. Por suas virtudes emolduradas pelo ouro da simplicidade. Por seus defeitos desbastados pelo diamante da consciência. Por seus pensamentos, palavras & sobras. E, ainda assim, não estou a preitear as reverências bastantes ao irmão-colega. Daí, para completar a louvação, eu louvar-me também em Bertold Brecht:
“Há homens que lutam um dia, e são bons.
Há homens que lutam um ano, e são melhores.
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons.
Porém há os que lutam por toda a vida.
Estes são imprescindíveis.”
Um destes homens, com certeza, é o ser humano chamado Marcelo. O qual, na razão inversa de não se pretender perfeito, a quase tem chegado.
Paulo Gurgel Carlos da Silva
HONRA AO MÉRITO NA SOBRAMES CEARÁ

Nasceu em Fortaleza – Ceará, em 06/06/1948. Graduou-se médico pela Faculdade de Medicina da UFC em 1971, especializando-se a seguir em pneumologia. No período de 1972 a 1977, foi oficial médico do Ministério do Exército, havendo trabalhado em hospitais militares no Rio de Janeiro, Amazonas e Ceará. No Hospital de Messejana, onde atualmente é aluno do Curso de Extensão Saúde Baseada em Evidências (HSL/Anvisa), já exerceu os cargos de chefe do Arquivo Médico, chefe do Serviço de Pneumologia, diretor da Divisão Médica e presidente do Centro de Estudos Manuel de Abreu. Na Secretaria da Saúde do Ceará, em 1989, coordenou o Serviço de Pneumologia Sanitária e, no período de 1998 a 2007, foi assessor especial em Pneumopatias Ocupacionais. Também foi um dos fundadores da Seção Ceará da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, havendo participado como vogal de sua primeira diretoria. Em 1985, sucedendo a Dr. Emanuel de Carvalho Melo, assumiu a presidência da Sobrames Ceará para gerir os destinos desta entidade até 1987. Em sua gestão editou o livro Nomes e Expressões Vulgares da Medicina no Ceará (1985, IOCE), de Eurípedes Chaves Junior, e organizou, ilustrou e editou Criações (1986, Gráfica do CMC), uma coletânea reunindo textos literários de nove médicos filiados da Sobrames Ceará. Em 1987, após passar a presidência desta sociedade para o colega Geraldo Bezerra da Silva, assumiu a sua vice-presidência. Em 1990, na gestão do colega Luís Gonzaga de Moura Júnior, retornou à situação de vogal da Sobrames Ceará. Em 1992, coordenou o Módulo Médicos Escritores do VIII Outubro Médico, promovido pelo Centro Médico Cearense. Recebeu premiações em concursos literários patrocinados pelo BNB Clube de Fortaleza e pela Associação Médica Brasileira. Prefaciou o livro Em Busca de Poesia, de Dalgimar Beserra, e teve comentários inseridos nos livros A Cor do Fruto, de Fernando Novais, e Nossos Momentos, de Wellington Alves, e Otávio Bonfim, das Dores e dos Amores - Sob o Olhar de uma Família, de Marcelo Gurgel. Sua obra literária figura nas antologias Verdeversos (1981), Encontram-se (1983), MultiContos (1983), Temos um Pouco (1984), A Nova Literatura Brasileira (1984), Escritores Brasileiros (1985), Poetas do Brasil (1985), Criações (1986), Sobre Todas as Coisas (1987), Letra de Médico (1989), Efeitos Colaterais (1990), Meditações (1991), AMB – 40 anos (1991), Outras Criações (1992), Esmera(L)das (1993), Prescrições (1994), Antologia até Agora (1996), Médicos Escritores & Escritores Médicos da FMUFC (1998), Marcelo Gurgel: Verso e Anverso (2003), Dos Canaviais aos Tribunais - A Vida de Luiz Carlos da Silva (2008) e Achado Casual (2008).
MENSAGEM AO PAULO, MEU PRIMEIRO FILHO
De pronto, como um assustado neófito em paternidade, peguei um carro de aluguer e fui a Jacarecanga buscar a experiente parteira, D. Maria Juca, para acudir a minha jovem e graciosa esposa; após examinar a parturiente, sentenciou que o trabalho de parto fora iniciado, com a ruptura da bolsa das águas, mas seria demorado por ser nulípara, e que, a partir de então, deveria ser suspensa qualquer alimentação até o nascimento do menino. Em seguida, pediu-me para levá-la de volta à casa para arrumar seus apetrechos, com o fito de dar conta da longa vigília que teria a enfrentar.
Dona Maria Juca retornou um pouco antes do almoço, supostamente para enfrentar uma longa batalha, do seu ofício de ajudar a pôr no mundo mais uma criatura de Deus. Elda, na flor da idade, aos dezessete anos, demonstrou firmeza e suportou as contrações da mãe do corpo, com a bravura de uma mulher feita e calejada na arte de parir. Há um mês estamos na casa de minha dileta sogra, que gentilmente nos cedeu um quarto, para que a sua filha ficasse mais tranquila, para o momento de ser partejada. Ao anoitecer, à hora do ângelus, enquanto os sinos de nossa igreja repicavam anunciando a bênção das 18h, na residência da Rua Domingos Olímpio, 2.209, o choro forte do recém-nato ecoava na vizinhança, para publicizar a estreia de meu herdeiro de sangue.
O meu contentamento foi alargado quando a parteira notificou-me que era um belo garoto, o que preenchia a nossa predileção por começar uma prole com um menino, que, antecipadamente, Elda e eu, concordamos em denominá-lo de Paulo, prestando, desse modo, uma justa homenagem ao seu avô materno, que precocemente nos deixou, regressando ao Pai.
Somente depois do parto, ao cabo de um dia de jejum, Elda tomou um chá com torradas e na sequência, acariciou a nossa criaturinha, a quem ofereceu os seios, para nutri-lo com o manjar lácteo e o colo, para garantir a proteção e o aconchego maternos ao produto de nosso extremo amor; depois disso, agora extenuada, dorme calmamente, entregue inteiramente aos braços de Morfeu, enquanto a mim, cabe velar por seu sono e vigiar nosso filho, nessas suas primeiras horas de vida.
Já era quase dez horas da noite quando peguei uma caneta e papel de carta, para rabiscar algo, que relate esse momento singular de minha existência. Fito o meu frágil rebento, de pouco mais de 3kg, e percebo a delicadeza de seus traços, com finos cabelos loiros e olhos claros, compondo uma beleza tipicamente angelical. Por volta da meia-noite, ele acordou, como que clamando por ajuda, então notei que estava com o cueiro molhado, que foi logo por mim substituído e talvez estivesse com frio, pois, ao tomá-lo nos braços, o calor de meu corpo o aqueceu e ele, bem aninhado, aquietou-se e voltou a dormir, sem que sua mãe fosse acionada, parecendo até que ele desejava poupá-la, respeitando o desgaste físico por Elda sofrido, com a sua vinda.
Era 3h13, quando Elda naturalmente despertou e desejou amamentar nosso filho, não o fazendo porque ponderei que ele dormia silente e não deveria estar com fome ainda, sendo melhor que esperasse mais um pouco, para o momento em que o nosso lactente reclamasse, o que de fato aconteceu às 4h, e desta vez o choro indicava a exigência da alimentação, de imediato sanada com o providencial leite materno.
Nessas horas de vigília, muitas recordações sobrevêm, como se fossem uma recapitulação dos anos vividos, desde quando deixei a minha terra natal, a cidade redentora por seu pioneirismo na abolição dos escravos do Brasil, recordando os bons e saudosos tempos de aluno marista, o curso de perito-contador, o curso pré-jurídico e, finalmente, a minha formatura em Direito; porém, a mais intensa dessas lembranças se fixa no amor que o bom Deus privilegiou-me, brindando-me ao trazer Elda para os meus braços e de cuja união, concedeu-me um sucessor, uma prova inconteste de nossa mútua afeição.
Uma inquietação, todavia, me perturba: a feliz coincidência de inaugurar a paternidade no dia dedicado ao venerável Marcelino Champagnat, fundador da Ordem dos Irmãos Maristas, os principais responsáveis pela minha educação formal, e que igualmente plasmaram as minhas convicções católicas; talvez fosse esse um sinal de que deveria batizar o meu primogênito de Marcelino. Reflito e reconsidero que o nome Paulo, alusivo ao grande propagador do cristianismo, perpetuaria, entre os descendentes de Paulo Coelho, a memória de um exemplar pai de família, cujo passamento prematuro podara os sonhos de tantos filhos; quem sabe, se com o meu próximo filho, se menino for, terei a possibilidade de homenagear o grande educador e propulsor do marianismo no mundo ocidental.
Olho detidamente a jóia que Deus nos mandou e antevejo para ele um futuro promissor. A ela, darei o melhor de mim; receberá uma educação marista e será criado em um lar cristão, recebendo as atenções de primeiro neto de José e Valdevina Carlos da Silva e de minha sogra Almerinda Gurgel Coelho, ora marcada pelo sofrimento da viuvez; com tudo isso, será um vencedor, não importando a profissão que ele venha a escolher.
Agora são seis horas... os raios do sol alumiam as copas das frondosas árvores do quintal da casa de D. Almerinda... os passarinhos nos encantam com os seus cantos... um novo e venturoso dia desabrocha e uma criança recém-chegada felicita um novo casal. Elda está bem; acha que já está plenamente recuperada do cansaço de ontem e se vê ansiosa para cuidar de seu precioso bebê.
Que Deus te proteja, doce Paulinho!
Beijos afetuosos do teu pai.