BIBLIOTECA DA FMUFC

Os livros-texto indispensáveis à nossa graduação médica não cabiam no orçamento de uma parte dos alunos, então comprávamos os livros menos dispendiosos, e olhem lá. Foram exceções alguns títulos russos que, por algum tempo, apareceram à venda na Faculdade de Medicina. Traduzidos para o espanhol, podiam ser lidos pelos interessados (e não somente pelo Carlos Maurício, que fazia traduções do russo para o Instituto de Biologia Marinha). De tão baratos, comprei alguns deles para ler nas férias em Senador Pompeu.
Como os livros indicados por nossos mestres eram quase sempre muito volumosos, os apelidávamos de "tijolões" (os livros, bem entendido).
Quem não podia comprá-los, recorria à "carteira de empréstimos" da Biblioteca da FMUFC, à época dirigida pela saudosa Professora Cleide Ancilon de Alencar Pereira (falecida em 24/04/2018).

Entrada da Biblioteca da Faculdade de Medicina (1970). Acervo fotográfico do Memorial da UFC

Para os livros mais procurados, existia inclusive uma fila de espera. E, quando só restava um ou poucos exemplares de um determinado título nas prateleiras da Biblioteca, praticava-se então o "overnight". Explico: o aluno tomava aquele livro de empréstimo por uma noite, com o compromisso de devolvê-lo na manhã do dia seguinte.
E, por ocasião das matrículas, tínhamos que provar que estávamos quites com a Biblioteca. Sob pena de sofrermos multas pela negligência.
Da inesquecível Prof.ª Cleide Ancilon (que esteve à frente da Biblioteca da Faculdade de Medicina / Centro de Ciências da Saúde, de 1957 a 1983), aqui transcrevo o seu relato para a publicação de "70 anos da Biblioteca de Ciências da Saúde da UFC":
"O problema de atraso na devolução dos livros, sobretudo os livros-texto, os mais demandados, era constante e difícil de evitar. Foram feitas diversas tentativas, desde conscientizar os alunos de sua responsabilidade para com os colegas, até suspensão do empréstimo pelo dobro do atraso, medida antipática, prejudicial e também ineficaz, vez que os atrasados sempre conseguiam colegas que tiravam os livros em seus nomes. Sendo tudo em vão, tivemos que implantar a multa, cobrando certa importância por dia de atraso. Foi baixada uma Portaria pelo Diretor da Faculdade (Dr. Waldemar Alcântara) neste sentido, ficando outrossim determinado que o dinheiro proveniente da multa seria investido na compra de livros-texto, a serem sugeridos pelos próprios alunos, no ato de pagamento da multa. Foi a maneira encontrada para que a multa fosse aceita, como, de fato, foi e funcionou bem.
Os alunos sugeriam livros, e a Biblioteca comprava os mais solicitados. Um carimbo era posto na página de rosto do livro: “livro adquirido com dinheiro proveniente de multa”, com a data de compra, livraria e preço. Era feito um balanço todos os meses, sendo uma via afixada no flanelógrafo e outra via arquivada. Foi tudo muito bem, até que, um belo dia, após mudança na Administração Superior, fui convocada pelo novo Pró-Reitor de Planejamento sob ameaça de processo administrativo, porque todo o dinheiro arrecadado deveria ser recolhido aos cofres da Reitoria. Confesso que desconhecia a Lei, portanto a ilegalidade do meu procedimento fazia de mim uma ré confessa, com todas as provas contra mim; carimbo nos livros e balanço, tendo como defesa a Portaria do Diretor. Daí em diante, até hoje, o dinheiro da multa é recolhido aos cofres da UFC, o que é pena."
https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/57890/1/2019_liv_agmoreira.pdf

Salão de leitura da biblioteca da Faculdade de Medicina da UFC (1970). Acervo fotográfico do Memorial da UFC

Outro recurso largamente usado pelos alunos era o de copiar as aulas em borrões. Para dar mais agilidade ao ato de anotar, devo confessar que desenvolvi uma taquigrafia particular em que o "i" se restringia ao próprio ponto e os advérbios em "mente" eram escritos assim: "m—".
Quem possuía um gravador de voz, utilizava-se da ferramenta nas palestras mais importantes. E depois se reunia com o os colegas do grupo de estudos para que ouvissem as gravações realizadas. Por vezes, o dono do gravador datilografava as aulas e distribuía as cópias com os colegas.
Louvo aqui o Dr. Aluísio Pinheiro que, além das boas aulas de Psicologia que nos ministrava, disponibilizou as apostilas em que podíamos rever o assunto.

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