Benjamin Constant é um município da região do Alto Solimões, no Estado do Amazonas.
A sede deste município localiza-se na margem direita do rio Javari, que demarca a fronteira do Brasil com o Peru. Já Tabatinga, que foi distrito de Benjamin Constant, situa-se na margem esquerda do rio Solimões e faz fronteira com a colombiana cidade de Letícia. Benjamin Constant e Tabatinga, portanto, estão inseridas em uma região de tríplice fronteira.
Na década de 1970, na sede do município ficavam a Prefeitura, o Campus Avançado da PUCRS, o Hospital de Guarnição de Tabatinga (que tinha sido a Unidade Mista da FSESP), algum comércio. Nenhum veículo de quatro rodas trafegava por suas ruas. Apenas motocicletas se aventuravam a circular por Benjamin Constant em períodos de pouca lama. Assim que retornei a Manaus aproveitei para comprar uma Honda xucra que me daria algumas quedas.
O Hospital de Guarnição possuía duas lanchas que eram dirigidas pelo lacônico Chico Preto.
Nestas lanchas, descíamos o rio Javari, percorríamos um caudaloso paraná (canal que comunica dois rios) e subíamos o Solimões até o distrito de Tabatinga. À noite, essas viagens eram impensáveis. Na escuridão da selva havia o risco de o barco colidir com os troncos e galhos arrastados pela correnteza dos rios.
Lembro-me que, após a confluência do paraná com o Solimões, avistávamos um assentamento de casas sobre palafitas. Estava em território do Peru, e eu achava que ali era a Islândia peruana.
No então distrito de Tabatinga, ficavam o aeroporto, a agência do Banco do Brasil e o Comando de Fronteira do Solimões / 1.º Batalhão Especial de Fronteira. Havia asfalto em suas ruas e podia-se atravessar livremente a fronteira para ir à cidade de Letícia, capital do colombiano Departamento del Amazonas.
Constavam do organograma do Batalhão três companhias, sendo duas de fuzileiros e uma especial de fronteira. Desta última companhia, faziam parte quatro pelotões especiais de fronteira, assim distribuídos: Palmeiras e Estirão do Equador, às margens do Javari, Ipiranga às margens do Içá (Putumayo) e Vila Bittencourt às margens do Japurá.
Comando e Hospital de Guarnição se comunicavam por um sistema de fonia. Como diretor do hospital, certa vez fui convocado para uma reunião com o comandante TC Inf José Ferreira (foto). Ele haviaa construído umas enfermarias em Tabatinga e necessitava de dois médicos R2 para realizar o atendimento da colônia militar. No Hospital de Guarnição éramos dez médicos e, com pouco entusiasmo ao tomar a decisão (que faria a escala de plantões no hospital ficar mais apertada), indiquei dois nomes. Ainda bem que os colegas designados gostaram da ideia da movimentação.
O Comando, além de suas diversas instalações, administrava o Hotel de Trânsito de Oficiais onde raro me hospedei. Para meus fins de semana em Letícia, quase sempre eu optava pelo Hotel Anaconda, a fim de me sentir emambiente colombiano... Lendo a revista Cromos, tomando umas cervejas Costeña (la mejor de todas, pero de todas todas) ou bebericando uma piña colada, coquetel feito de rum e suco de abacaxi. No terraço do Anaconda tinha-se uma vista privilegiada do Solimões, o que me inspirou a escrever o conto O VENDEDOR DE ESTRELAS. À noite, procurava baixar num point animado onde pudesse jantar e ouvir cumbias.
Devo dizer que esse programa por vezes era cancelado em razões de tensões na fronteira. Dizia-se que elas tinham a ver com o tsar Mike Tsaliskis, o manda-chuva da cidade e também proprietário do Hotel Anaconda.
E o que mudou?
O Hospital de Guarnição de Tabatinga é hoje o Hospital Geral de Benjamin Constant Dr. Melvino de Jesus.
A estrada que ligaria Benjamin Constant à vizinha Atalaia do Norte está intransitável e aguarda a reconstrução.
Tabatinga foi desmembrada de Benjamin Constant, conta com quase o dobro da população do município-mãe e seu aeroporto é internacional.
O 1.º BEF atende pelo nome de 8.º BIS e as enfermarias do cearense TC Ferreira transformaram-se no atual Hospital de Guarnição de Tabatinga .
A "Islândia" não é a Islândia.
Em 1912, conforme relatou Los Mundos de Hachero, o tsar Mike Tsaliskis estava vivo e ainda fazia das suas.
Webgrafia
Breve história de dois hospitais, Linha do Tempo
www.8bis.eb.mil.br/sua-historia
Conheça seu Exército: CFSOL/8.ºBIS
Wikipédia/BC
Wikipédia/ Tab
Viaje a Colômbia: En la isla de los micos del narcotraficante Mike Tsaliskis, Los mundos de hachero
Rio Javari: O rio martirizante na bacia amazônica (e-book)
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