O BIZU DO SARJA

1.
Étienne Bézout (Nemours, 31 de março de 1730 — Avon, 27 de setembro de 1783) foi um matemático francês.
Em 1758 Bézout foi eleito adjunto em mecânica da Académie des Sciences. Dentre diversos outros trabalhos, escreveu "Théorie générale des équations algébriques", publicado em Paris, em 1779. Seu livro didático se tornou referência a ponto de os professores da época usarem a expressão "vou dar explicação como o Bézout". A expressão foi transformada, aos poucos, em "vou dar o Bézout". Especialmente em escolas militares, é comum usar-se o termo "bizu", que tem exatamente essa origem.
2.
Quando a Família Real veio para o Brasil, trouxe, em sua comitiva, diversos professores de Coimbra. Esses docentes foram colocados na Real Academia Militar.
As aulas de Matemática eram o terror dos alunos, até descobrirem que os mestres usavam, como base das aulas e provas, um livro de um autor francês chamado Etienne Bezout.
Assim, corria pelos alunos a informação de que ter o livro do Bezout era fundamental para ter sucesso na matéria.
Ter o Bezout era o diferencial e todos queriam o Bezout, que passava de mão em mão.
Essa é a origem do termo "bizu".
3.
Lembro-me do sargento Valdenor. "Bizu" e "bizurar" eram gírias que andavam na boca do saudoso colega. Na boca e... nos gestos. Pois, ao pronunciar essas palavras, ele fazia o gesto de juntar três polpas digitais da mão direita, esperando que o colega viesse de lá com o mesmo gesto. Trocados os "cumprimentos", ele explodia numa sonora gargalhada.
Francisco Valdenor Barbosa, nosso colega de turma na Faculdade de Medicina, a quem também chamávamos  de "Sarja", certamente foi o tipo mais popular de nossa turma. Por vezes, soltava umas bravatas, porém estas não incomodavam. Ao contrário, nos divertiam. 
A par de suas obrigações de sargento no Colégio Militar de Fortaleza (CMF), ele fez o curso de graduação conosco, tendo-o concluído em 1971.
Em 1972, fez também o Curso de Formação de Oficial Médico (CFOM) da Escola de Saúde do Exército no Rio de Janeiro. Estagiou no Hospital Miguel Couto, no serviço de ortopedia do Dr. Lídio Toledo, médico da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e que parecia gostar muito dele.
Dividimos, por alguns meses, um quitinete alugado no Edifício Corumbá, em Copacabana. Gostava de se olhar no espelho interno de um guarda-roupa do quitinete. Com ele, quase sempre de cuecas, túnica verde-oliva 4A e quépi. Nesses momentos, prometia em voz alta o enquadramento de um certo sargento do CMF quando voltasse a Fortaleza (mentira, nunca faria isso).
E terminava a narcísica sessão com uma caprichada continência. Que o espelho simultaneamente respondia.
Ao concluir o CFOM, recebeu a patente de 1.º Tenente Médico e seguiu para Brasília. Nossos contatos se tornaram raros a partir de então. 
Por essa foto que eu encontrei na internet, descobri que ele entrou para a Maçonaria.
Legenda:
  • Grão-Mestre Francisco Valdenor Barbosa
  • Grande Loja Maçônica do Distrito Federal
  • 20/08/1981 a 20/08/1984
Hoje o bom e velho "Sarja" deve estar trocando bizus no Céu.

CEARÁ, SAÍ FICANDO LÁ

Fernando Gurgel Filho
(para mim)
Em relação à publicação de: Canção do Exílio
Quando era diretor da Casa do Ceará em Brasília escrevi estes versos:
CEARÁ, SAÍ FICANDO LÁ
Quando vim do Ceará
Não trouxe nada de lá,
Só a saudade do mar,
Um coração que partia,
Futuro que não existia,
Vontade de voltar um dia.
Pessoas amadas se foram
Outras com amor vieram
E a ficar me obrigaram.
Muitas coisas esqueci,
Outras tantas eu perdi,
Mas de lá nunca saí.
Um amigo musicou: HINO DA CASA DO CEARÁ (2012)

PESAR POR ELENITA MARIA PINHEIRO DA FONSECA

Consto aqui, neste momento de saudade, o meu voto de pesar pela falecimento da Dra. ELENITA MARIA PINHEIRO DA FONSECA, cujo fato (16) se deu em consequência da Covid-19.
Médica formada pela Universidade Federal do Ceará, no ano de 1971 (na Turma Andreas Vesalius / Carlos Chagas, da qual faço parte), Elenita tinha como especialidade médica a Pneumologia.
Era anima e cuore do Coral da Unimed Fortaleza.
Em vídeo que foi postado pela Sobrames Ceará, o colega Dr. Elias Boutala Salomão dedicou-lhe as seguintes palavras:
"Bela, altiva e elegante. Bondosa como só ela sabia ser. De repente, resolveu usar suas asas para alçar um longo voo rumo ao Paraíso. Fico imaginando a festa que foi preparada para sua chegada.
Tu eras tão útil aqui na Terra, mas o Criador achou que precisava de uma ajudante do teu naipe. Ficamos órfãos de tua presença sempre marcante e festejada. Foste uma amiga ímpar, uma serva de gestos grandiosos.
Quantos, através de tua bondade e amor ao próximo, conseguiram o que desejavam com tanta ansiedade. Amiga, meiga e bondosa, filha exemplar, mãe batalhadora, médica sempre disponível, ajudando os necessitados em coisas quase impossíveis. Sofreste muito. Deus te tenha. Tu não serás esquecida. Deixaste a marca da bondade e do amor ao próximo."

Dra. Elenita e Dr. Elias

A GRATIDÃO DO CAJUEIRO

Rogaciano Leite
Mais de setenta anos marcam hoje a distância do dia em que uma garotinha humilde plantou com a sua "mão ingênua e mansa" uma exuberante castanha de caju nas areias cálidas de Aracati. Naquele gesto havia beleza e carinho, mas nunca, talvez, a esperança de que em futuro muito remoto aquela semente se transformasse em fronde acolhedora, com folhas cariciosas, gordos e saborosos frutos para premiar com a sua gratidão vegetal a mão frágil e pobrezinha que a plantara.
Diferente da ingrata amendoeira de Raul de Leoni, que "ergueu os ramos pelo muro em frente e foi frutificar na vizinhança", o cajueiro plantado pela então garotinha de Aracati, soube reservar todas as suas energias criadoras para fazer com que a hoje velhinha que o plantou recebesse do sr. Ministro da Agricultura um prêmio de dois mil e quinhentos cruzeiros pelo maior caju produzido naquela cidade, por ocasião da festa que o dinâmico deputado Ernesto Gurgel Valente organizou e dirigiu.
E a velhinha, que jamais em toda a sua vida houvesse pegado em tão "volumosa" importância, mandou, com esse dinheirinho, substituir por paredes mais sólidas e telhas de barro a palhoça que vinha ameaçando ruir sobre uma atormentada e esquecida existência de 70 anos.
E talvez a velhinha morra numa estação do ano em que o cajueiro agradecido possa cobrir de flores a mão que o plantou.
Quanta gente, neste mundo, precisaria ter a gratidão do cajueiro de Aracati.
Fonte: Gazeta de Notícias (CE), 11 de janeiro de 1957. Esta crônica foi lida e transcrita nos Anais da Assembléia Legislativa.
Via: http://www.facebook.com/centenariorogaciano.leite.1

MANIFESTO PELA CULTURA NORDESTINA

Por Prof. André Bastos Gurgel
Docente de Análise e Produção de Textos da Faculdade Rodolfo Teófilo
O brasileiro, principalmente o nordestino, é portador de uma doença grave, uma enfermidade que maltrata o intelecto. Trata-se do ‘complexo de vira-lata’! Embora não tenha sido catalogado como uma doença grave, o complexo de vira-lata é altamente contagioso, mas seu conceito e seus sintomas nunca foram descritos na literatura médica. Se o leitor quiser aprofundar-se no tema, deverá primeiramente consultar os escritos do célebre escritor Nelson Rodrigues, que assim o definiu:
“Por ‘complexo de vira-lata’ entendo eu a inferioridade em que o brasileirose coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.”
Agora que o leitor já está familiarizado com o conceito, deve ter percebido que todos nós sofremos desta enfermidade, e que Nelson Rodrigues, melhor que qualquer médico famoso, descreveu o mal de que padecemos. Afinal, será que valorizamos a nossa cultura nordestina? Qual foi a última vez que lemos uma obra de cordel? Será que somos familiarizados com a riquíssima tradição, com o folclore do nosso estado e dos nossos vizinhos? Será que podemos afirmar que valorizamos nossa cultura só pelo fato de nos vestirmos de ‘caipira’ durante as festas juninas e comermos comidas típicas?
Há países que valorizam suas culturas, pois tem ciência do legado de seu povo. A França divulga sua cultura pela Aliança Francesa; a Itália, pelos Institutos de Cultura Italiana (ICI); a Alemanha e a Espanha, pelo Instituto Goethe e Instituto Cervantes, respectivamente. Até mesmo aqui no Brasil temos os ‘Centros de Tradições Gaúchas’ (CTGs). Agora faço uma pergunta: por que não existe aqui um bem montado centro de tradições nordestinas aqui no Nordeste? A resposta está no nosso complexo de vira-lata!
Pensando nisso, a Faculdade Rodolfo Teófilo (FRT) decidiu criar o Espaço Ariano Suassuna para a preservação e disseminação da nossa cultura. O Espaço foi assim batizado porque não há escritor que tenha expressado melhor a alma do nordestino do que o autor das obras ‘Auto da Compadecida’, ‘Farsa da Boa Preguiça’ e ‘Santa e a Porca’. Ariano Suassuna foi um homem sem igual, que amava sua cultura. Embora respeitasse muito a cultura de outros países, dizia, citando suas próprias palavras, que não trocava seu oxente pelo okay de ninguém.
Dentre as atividades do Espaço Ariano Suassuna teremos:
Teatro: Serão estudadas várias peças de autores nordestinos. No semestre passado, os alunos interpretaram o ‘Auto da Compadecida’. O áudio produzido na ocasião será doado à Sociedade de Assistência aos Cegos.
Literatura de cordel: os alunos lerão obras-primas da literatura de cordel, como por exemplo ‘As Façanhas de João Grilo’.
Literatura e poesia: os participantes aprenderão mais sobre nossos grandes poetas.Além do próprio Rodolfo Teófilo, também vamos estudar Clarice Lispector, Castro Alves, Ariano Suassuna etc. Durante os encontros, os alunos terão oportunidade de aprimorar a arte de declamar e falar em público.
Música: Será estudada a tradição musical do nosso povo, com ênfase em cantores como Luiz Gonzaga e Dominguinhos. Os alunos serão incentivados a estudar a música popular e folclórica. Também estudaremos as tradições musicais de outros estados nordestinos, incluindo o frevo e o coco.
Pesquisa científica: O ‘Espaço Ariano Suassuna’ também oferecerá subsídios ao aluno que quiser escrever ensaios e desenvolver pesquisas relevantes sobre o Nordeste.
Escrita criativa: Atenção especial será dada ao desenvolvimento de contos, romances e resenhas criativas.
Para participar desse projeto pioneiro, só há um pré-requisito: vontade de livrar-se do complexo de vira-lata e de aprender mais sobre nossa cultura. As aulas serão abertas ao público, podendo participar pessoas de todas as idades, quer sejam alunos da FRT ou não.
As palestras introdutórias ocorrerão remotamente nos dias 10/09/20, às 17h, e 12/09/20, às 14h30. Serão enviados os links para os interessados.
e-mail: andrebgurgel@gmail.com
telefone/whatsapp 99924 7878
site: http://blogdomarcelogurgel.blogspot.com/2020/09/manifesto-pela-cultura-nordestina.html

ESTIRÃO DO EQUADOR

Havia a presença de um oficial médico em cada pelotão de fronteira no Solimões. Quando um destes pelotões (eram quatro), por qualquer razão, ficava sem o seu esculápio, cabia ao Hospital de Guarnição de Tabatinga (HGuT), sediado em Benjamin Constant, indicar o profissional substituto.
Tínhamos uma escala no hospital para atender essas necessidades. Em geral, designava-se um médico R2 para assistir o pelotão por um tempo mínimo de 15 dias.
Ao passar a direção do HGuT para o Dr. Cunha, um major médico transferido de Belém, daí em diante fui incluído na escala. Em pouco tempo, lá estava eu em Estirão do Equador.
Situado à margem direita do Javari, num trecho em que o rio é um retão, o pelotão não tinha sequer um aldeamento civil ao redor. Eram as instalações militares, a selva, o rio e, do outro lado, o Peru. Comandava o efetivo militar local um primeiro-tenente de infantaria.
Ao sermos apresentados, ele e eu sabíamos das nossas posições na hierarquia militar. No confronto, eu era mais antigo, e antiguidade é posto, como se diz na caserna. Não era à toa que existia o Almanaque do Exército para dirimir eventuais impasses.
Após me informar sobre a hora da formatura matinal, o comandante do pelotão me indagou se eu pretendia comparecer. Respondi que não. Ficasse ele dispensado de apresentar-me a tropa em forma nas alvoradas. Eu  sairia do café diretamente do alojamento para a enfermaria do pelotão, onde estaria à disposição dos militares que alegassem doenças.
A enfermaria, o refeitório e o alojamento constituíram o meu espaço em Estirão do Equador naqueles 15 dias. Felizmente, todas as portas e janelas das citadas instalações eram teladas, além disso eu passava o Repelex no corpo. O que aprendi ser necessário, pois os insetos hematófagos não davam trégua. Naquelas bandas, o pium (de hábitos diurnos) passava o serviço para o carapanã (de costumes noturnos). (1)
O rancho, meu Deus, era à base de enlatados. O que acontecia com menor frequência em Benjamin Constant, onde aparecia um tambaqui fresco no almoço e, à noite, podíamos ir comer um churrasco no restaurante do Magalhães. Isso para não falar como as cozinheiras do hospital sabiam disfarçar a origem industrial de um fiambre.
Aproveitei o período no Estirão para realizar uma arrumação completa dos medicamentos nas prateleiras da enfermaria. A fim de facilitar a dispensação a quem me procurasse no consultório, o que quase não aconteceu.
Chumbo miúdo
De volta a Benjamin Constant, tive uma reunião difícil com o diretor do hospital. Ele tomara 
conhecimento da existência de um grande estoque de "Pulmocilin" na farmácia hospitalar. E sugeria que eu, na qualidade de médico pneumologista, não só prescrevesse o produto como também encorajasse o corpo clínico a fazer o mesmo. Fiz ponderações a respeito.
No ano anterior, o grande (na cordialidade e no tamanho) Dr. Antônio Marques, meu chefe no Pavilhão de Isolamento do Hospital Central do Exército, casualmente elogiou as propriedades desse produto farmacêutico, chamando-o carinhosamente de "chumbo miúdo".
O que me levava a não aceitar o tal "Pulmocilin"? Sua composição e dosagens. Uma injeção continha duas penicilinas (G potássica + G procaína); estreptomicina; antígenos bacterianos polivalentes etc. etc. etc. De fato, fazia jus ao apelido.
Tempos depois, em 1996, "Pulmocilin" (2) teve o registro suspenso. Constou do parecer em seu desfavor: "As especialidades farmacêuticas para uso oral e parenteral de efeito sistêmico contendo associações numa só formulação de antimicrobianos entre si e/ou outras substâncias medicamentosas são cientificamente injustificáveis, devendo ser retiradas do comércio e proibida sua fabricação."
Ressalte-se que, à época em que isso aconteceu, "Pulmocilin" até vinha apresentando uma composição mais enxuta.

DOMINGAS ARÃO, TRONCO DOS AMARAL GURGEL

Como anteriormente mencionado, para a maioria, os que tivessem continuado a seguir ocultamente o judaísmo seriam denominados marranos enquanto que os que de fato tenham, ao longo das gerações, se tornado cristãos, devem ser chamados de cristãos-novos. Wolff (1991) emite a seguinte opinião sobre essa última categoria:
"Cristão-novo é uma expressão mais ampla abarcando os judaizantes e a grande massa de católicos praticantes, descendentes de israelitas".
O grande estudioso judeu e sua esposa Frieda Wolff, cercam-se de muito cuidado ao citar em seus livros aqueles elementos de origem judaica, preferindo sempre arrolar como cristão-novo apenas os que conseguem documentalmente registrar como judaizantes.
Instado a falar sobre genealogia judaica, proferiu palestra no Colégio Brasileiro de Genealogia em 20 de março de 1989, discutindo a origem judaica de algumas famílias do Rio de Janeiro. Dentre as pessoas ali apontadas, referiu-se a Domingas de Arão, tronco da família Gurgel do Amaral. Transcreveremos o que diz o eminente escritor:
"Enquanto o nome Arão indica uma ascendência israelita, encontramos na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Anais do Congresso de História do Segundo Reinado, Comissão de Genealogia e Heráldica, pág., 107 e 108, o artigo de Celso Maria de Melo Pupo, "O Visconde Anfitrião de Suas Majestades", com informes importantes a respeito do patronímico. De Arão e Daram seriam corruptelas do apelido de Aram, nome de uma família que teria adquirido propriedade situada em vale espanhol, na fronteira da França, região que tem o nome Aram, aportuguesado depois d´Aran, Daran, de Arão."
✅Domingas de Arão (do Amaral) casou-se com o francês Toussaint Gurgel em princípios do século XVII no Rio de Janeiro, mas interessa a genealogia nordestina, pois um dos ramos da família, fundada pelos acima nomeados, estabeleceu-se no Aracati e a partir dai, para Caraúbas no Rio Grande do Norte, com larga descendência, como registra Aldysio Gurgel do Amaral.
Mais modernamente, Marcelo Meira Amaral Bogaciovas, na Edição comemorativa do cinquentenário do Instituto Genealógico Brasileiro, também teceu considerações críticas a respeito das origens familiares dos Amaral Gurgel, perguntando qual seria a origem dos sobrenomes Amaral, que surge na família, ligado ao que tudo indica, a Domingas. Também por esse ramo é bom lembrar a possibilidade da origem semita dos Amaral Gurgel, como se lê em Baião (1973):
"Alli Lopes, mercador mourisco convertendo-se chamou-se João Dias, dizem que casou em Vizeu com uma judia estalajadeira na Praça, a que chamavam Maria ou Mor Afonso. Deles descendem muitos cavaleiros da beira do apelido de Loureiro e de Amaral..."
Sobre um ramo paraibano dessa família D´arão ou Daran, informa José Romero Araújo Cardoso, geógrafo e estudioso do cangaço, que na sua família sempre se soube descenderam de cristão-novos, e que o tronco seria o cristão-novo João Ignácio Cardoso D´arão que, acusado de práticas judaizantes, refugiou-se em Pombal, na Paraíba. Foi casado com Catarina Seixas e tiveram oito filhos, um deles se
chamava Aarão e outro Abel Ignácio Cardoso D´Aarão.
Uma filha tinha por sobrenomes Cardoso de Alencar e segundo informa aquele estudioso, seriam também da mesma linhagem do romancista José de Alencar.
Com respeito a essa família Alencar, é interessante verificar o esforço de alguns de seus membros para entroncá-la nos Alanos, via corruptela de Alencar (Leão,1971), quando mais próximo da verdade seja considerá-los cristão-novos, pois ostentam os apelidos Pereira e Rego, normalmente infamados. De qualquer maneira, sigo com a opinião de que faltam ainda provas da origem semita dessa família cearense.
FILGUEIRA, M.A. Os judeus foram nossos avós. Fundação Vingt-Un Rosado, Coleção Mossoroense, Série "C". Vol. 2011, p.113-116.

PRAÇA DO FERREIRA

A memória cearense está repleta de histórias da nossa irreverência. O cearense acompanhou as peripécias do bode Ioiô, animal que ganhou fama na década de 1920 por frequentar lugares públicos, beber cachaça, além de ter sido "candidato a vereador de Fortaleza". Vaiou o Sol, quando ele apareceu, tímido entre as nuvens, depois de alguns dias de chuva. E promoveu festivais de mentiras do dia 1.º de abril, para premiar, sob o "Cajueiro da Mentira", na Praça do Ferreira, o maior contador de lorotas do Ceará.
Uma "diversão" da rapaziada ociosa na Praça do Ferreira era ver a saia das moças levantada pelo vento que soprava na "Esquina do Pecado" (o cruzamento da rua Major Facundo com a Guilherme Rocha). O que também incitou o poeta e humorista Quintino Cunha a escrever:
"Você esbraveja o vento / por levantar sua saia.
Pior é o meu pensamento / que é doido que ela caia!"
A propósito desse vento danisco, o baiano Gordurinha (autor de "Súplica Cearense") compôs com Nelinho uma canção sobre o "ventinho bom lá da Praça do Ferreira". Lançada originalmento em setembro de 1961, pela Continental, no 78 rpm 17993-A, essa canção está em vídeo (com registros fotográficos da Praça do Ferreira em várias épocas).
Curiosidade
Numa nota publicada pelo jornal "O Povo", em 5 de setembro de 1956, o jornal faz um apelo à polícia para que coloque um freio na rapaziada que se diverte com o vento "removendo as vestimentas femininas".
Silaque (do inglês slack), um tipo de blusão que se assemelhava ao de safári.
Poderá também gostar de ver:
LEÃO DO SUL
A PRAÇA E O VENTO (slideshow)

MEMÓRIA. VIAGENS E PASSEIOS PELO SUL DO BRASIL

► PARANÁ
Curitiba e Paranaguá.
Verão de 1970
Excursão da Turma Andreas Vesalius da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará.
http://
Curitiba
19 a 22/05/1999
Curso: "Leitura Radiológica das Pneumoconioses"
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2014/05/curso-leitura-radiologica-das.html
Foz do Iguaçu, Ciudad del EstePuerto Iguazú (Tríplice Fronteira)
23 a 27/02/2014, c/ Elba
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2014/03/brasilia-e-foz-de-iguacu.html
Curitiba e São José dos Pinhais
9 a 10 e 15/06/2025, c/ Elba
http://
► SANTA CATARINA
Florianópolis
22 a 24/05/1999, após a conclusão do Curso em Curitiba.
Florianópolis e Balneário Camboriú (Vale do Itajaí)
09 a 12/05/2014, c/ Elba, Natália e família Soares
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2014/05/florianopolis-e-balneario-camboriu.html
Lages e São Joaquim (Serra Catarinense)
11 a 12/06/2025, c/ Elba
http://
Blumenau e Pomerode (Vale do Itajaí)
13 a 14/06/2025, c/ Elba
http://
► RIO GRANDE DO SUL
Porto Alegre
Verão de 1970
Excursão da Turma Andreas Vesalius da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará.
http://
Gramado, Canela e Nova Petrópolis (Serra Gaúcha)
13 a 15/05/2014, c/ Elba
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2014/05/serra-gaucha.html

MAPEAMENTO GENÉTICO DO POVO CEARENSE

Se você pudesse apostar na origem do povo cearense, para qual região do mundo apontaria? Muitas pessoas diriam, sem dúvidas, que os principais ancestrais são indígenas - afinal, o próprio escritor José de Alencar descreveu o mito de fundação da identidade brasileira em "Iracema". Contudo, uma pesquisa inédita de mapeamento genético revelou que os ameríndios têm a segunda maior predominância na origem do cearense. Em primeiro, estão os genes dos nórdicos que habitaram o norte gelado da Europa.
Raízes nórdicas
A pesquisa "GPS-DNA Origins Ceará" analisou as amostras de saliva de 160 cearenses, de todas as regiões do Estado e de várias etnias, a fim de mapear os povos que formaram essa população. Um dos objetivos era responder à pergunta-chave dos estudos de Parsifal Barroso no livro "O Cearense", lançado em 1969. À época, o autor se valeu de documentos e outros registros para construir sua teoria, mas, 50 anos depois, a tecnologia permitiu uma análise mais profunda das hipóteses.
Luís Sérgio Santos, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador da pesquisa, explica que o resultado foi obtido a partir da metodologia GPS-DNA, criada pelo geneticista israelense-americano Eran Elhaik, consultor no estudo cearense. As amostras de saliva foram cruzadas com um banco de dados em laboratório, nos Estados Unidos, e permitiram a identificação de 28 grandes agrupamentos genéticos, chamados de "bolsões".
"A colonização do Brasil veio da Península Ibérica, mas a pesquisa, de certo modo, desconstrói essa tese. Ela mapeia até o ano 400, então é um tempo muito anterior à fundação de Portugal. Os resultados mostram que o branco europeu que colonizou o Brasil era escandinavo, viking, visigodo, e antes disso, alemão", explica o pesquisador, reforçando: "Por serem predadores, destruidores e impassíveis, (sic) eles deram um banho genético na Europa".
As regiões que tiveram mais força na identidade cearense foram o sul da França e a chamada Fenoscândia - que abrange Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca. Na segunda posição do ranking da maior influência genética, fica o ameríndio, que provém da Sibéria e entra no novo continente por meio do Estreito de Bering, ponte natural entre a Rússia e os Estados Unidos.
Raízes indígenas
Mas se o Ceará tem predominância de ancestrais europeus, por que não há tantos cabelos loiros e olhos mais claros? A resposta, conforme Luís Sérgio Santos, está na dominância de genes. "O nosso índio tem uma genética muito forte (sic). Ele 'dilui' o branco e cria o pardo. Esse gene ameríndio está em todos nós, em maior ou menor quantidade", garante.
O pesquisador acrescenta que os dados genéticos "só se sustentam" se tiverem amparo em levantamentos históricos para explicar os fluxos migratórios ao longo dos séculos. Por exemplo: o estudo mostra que, apesar da contribuição histórica na formação do brasileiro, o negro não teve tanta força no Ceará. As maiores influências são de bantos do Congo, na África subsaariana, e de outro povo que habitava a ilha de Madagascar. "Ele faz um fluxo interno no continente africano e acaba chegando por meio da escravidão".
Uma hipótese para a baixa influência do negro no Estado está na própria leitura de Parsifal Barroso. "O Ceará demorou muito a ser colonizado e é envolto por serras, o que o autor acha que retardou o processo de colonização. Além disso, nossa mão de obra era mais indígena. Quem cuidava da pecuária eram os índios, e praticamente não tinha agricultura por causa da seca", conta Luís Sérgio.
Extraído de: Origem do cearense: nórdicos superam índios e negros na genética, escrito por Nícolas Paulino e Alessandro Torres. "Diário do Nordeste". Publicado em 27/07/2020. Acessado em 27/07/2020

CANOA QUEBRADA

A composição musical entrou definitivamente na vida de Eugênio Leandro quando o poeta Rogaciano Leite Filho o convidou para musicar um poema dele para o Festival Universitário de 1979, na Faculdade de Direito.
Com a canção que resultou da parceria, "Canoa Quebrada" (pseudo vídeo), a dupla se classificou em quarto lugar.
Durante o Festival, Eugênio conheceu Stélio Valle, Caio Graco, Bernardo Neto, Ferreirinha,
César Barreto, Luis Sergio (Pato Rouco) e Cassundé.
http://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/19469/1/2015_dis_aqsoares.pdf
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O MOFO DEU
O médico psiquiatra e escritor Airton Monte e o jornalista Rogaciano Leite Filho foram grandes amigos.
Certa vez, Airton perguntou ao amigo sobre o andamento de "Manteiga Rançosa", um livro que Rogaciano estaria a escrever. O Estoril fez silêncio para ouvir a resposta.
"Roga" sorriu. É que se tratava de uma referência brincalhona a um livro anterior dele, cujo título tinha sido "Pão Mofado".
(Nota apropriada a estes tempos em que o cloroquínico PR anda a queixar-se de "pulmão mofado".)

REMÉDIOS DA MAMÃE

O mais inesquecível dos remédios da farmacopeia de minha mãe tinha o nome FIAT. Umas gotas amargas que ela pingava em um copo com água antes de ministrar. Dizia que era para combater o linfatismo, esse "estado mórbido de natureza constitucional que se manifesta na infância e regride na puberdade".
O "linfatismo", assim como a "enfermidade gris", são entidades de existência duvidosa. Considero-as desse modo, com o lastro de quase meio século no exercício da medicina. Suspeitando inclusive de que o amargo medicamento tenha sido o responsável pelos periódicos formigamentos que, à época, costumava sentir na região lombar.
E, se ele continha mesmo iodo (o "I" de FIAT), então fica confirmado.
Havia também os vermífugos que Dona Elda anualmente administrava à filharada. Não recordo os nomes (dos vermífugos, bem entendido), mas certamente não estava entre eles o "Tetracloroetileno" do laboratório Lafi. Ah, este seria por mim facilmente lembrado, tal a enorme quantidade de "pérolas" que o opilado tinha que ingerir.
Numa certa época, alguns de nós fomos acometidos de umas pequeninas e pruriginosas lesões de pele. Mamãe reservou uma pia do banheiro só para realizar o tratamento coletivo. Encheu-a de água, e no líquido acumulado despejou um pozinho misterioso. Então, fizemos abluções com aquela solução azulada até ficarmos curados.
Hoje obsoleta, era a "Água de Alibour", uma solução canforada de sulfatos de zinco e cobre (II), então usada no combate de micoses da pele. As impingens, por vezes, ficavam sob a responsabilidade do portador. Aprendi que elas podiam ser exterminadas com tinta de caneta, contanto que eu fosse perseverante com as escarificações.
No início da década de 1960, com o surgimento da Aliança para o Progresso, um programa de ajuda do governo dos EUA para conter o avanço do comunismo na América Latina (dado início com a Revolução Cubana em 1959), toneladas de leite em pó foram doadas ao Brasil. 
Umas caixas dessa doação deram entrada no lar dos Gurgel Carlos, onde fomos compelidos a beber daquele desagradável leite. Felizmente, mamãe tornou-o algo palatável ao transformá-lo em doce.
O leite do FISI não perdia em desagrado para umas cápsulas de conteúdo oleoso que tínhamos também de engolir. Imagino que as cápsulas continham as vitaminas lipossolúveis que faltavam ao leite.
Em uso próprio, mamãe utilizava-se muito do Atroveran, um antiespasmódico à base da papaverina e que ainda hoje frequenta as prateleiras das farmácias. E de extratos hepáticos, a que se atribuíam múltiplas propriedades terapêuticas.
Mas, saibam vocês, qual era a opinião do Dr. Paula Pessoa. O eminente gastroenterologista restringia a prescrição do extrato hepático ao tratamento das diarreias do diabético. Em contraste com o uso "off label" do extrato por parte de mamãe.
P.S.
Fez-me falta a consultoria de Elsie Studart, autora de "No tempo da Panvermina", para que eu pudesse me alongar nestas recordações.

SEMENTE





Carlos Augusto Viana
jornalista e escritor
membro da Academia Cearense de Letras





À beira da noite caminhavas
caminhavas
como quem simplesmente
entrega o corpo ao vento.

Nesta cidade
as ruas têm o tecido dos rios
onde caravelas voam
como também voavam os teus cabelos.

E não importava conhecer
os segredos das horas fugidias;
e não importava recolher
as flébeis fibras do tempo;
- apenas importava
conservar o momento
em que nuvem
eras a paisagem e passageira.

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MINHA HISTÓRIA
Agora, Carlos Augusto Viana, o editor do "DN - Cultura", me liga a cobrar (epa!) uma maior regularidade nas colaborações. E pede que eu saia do meu habitual estilo condensado, uma vez que me garante um bom espaço gráfico, coisa de mão-cheia. Sei não. Se, por um lado, prestigiando-me o autor de "Primavera Empalhada" me deixa em estado de graça, por outro, me põe um peso enorme sobre os ombros. O peso do empreendimento difícil. É que a vaca sagrada, donde tiro o leite (condensado) do humor, tem lá suas imprevisibilidades. Às vezes, estou no melhor da ordenha e a danada recolhe as tetas. E isto para não falar do pior. Quando ela escoceia o balde, derramando tudo.
O CADERNO DN - CULTURA
No período de 1987 a 89, fui colaborador do DN - CULTURA, o caderno de cultura do Diário do Nordeste. Foram dois anos em que, aos domingos (em semanas alternadas), eu tive a satisfação de ver meus contos, crônicas, poemas e "picles" serem publicados nesse meio de comunicação.
Graças à atenção que o jornalista Carlos Augusto Viana dispensava a meus escritos.
Após revisados, eles serão aqui postados (no Preblog). Aos poucos, né?!

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CARTA A CARLOS AUGUSTO VIANA
Fortaleza, 5 de julho de 1991
Inicialmente, felicito-o pela nova ocupação jornalística no "DN", redator interino da coluna "É...". A garantia para o leitorado de que dias risíveis virão. Sempre que chegarmos à última página do "Caderno 3" e... olhem lá, olhem lá. Você, intimorato a brandir, na língua que Gabeira chorou e crepusculou no exílio, a coceguenta pena da galhofa. E essa pena, ao que se diz por aí arrancada de uma avestruz (que tem aversão à realidade), como faz um bem danado. Transcende a Sunab, o ombudsman, o Muro das Lamentações, o divã do psicanalista e até o confessionário do Senhor Bispo.
Em frente, pois. Que atrás vem poeira e zoeira vem.
Viana, como amigo é pr'essas coisas e loisas, tomei a liberdade de lhe enviar uma matéria de ajuda. São 10 pensamentos inéditos intitulados: 10 pensamentos inéditos. Que sonham em cair de preto na alvura de seu jornal. E há outros que depois seguirão...
Um abraço com validade infinita, ou quase. Do:::
Paulo Gurgel

PESAR PELO FALECIMENTO DE ZAÍRA MACEDO

Faleceu na manhã do domingo (12), aos 93 anos, de causas naturais, a Sr.ª ZAÍRA MACEDO PINTO, matriarca da família Macedo Soares no Ceará.
Nascida Zaíra Teixeira de Macêdo em 21 de abril de 1927, em Aurora-CE, era filha de Antonio Landim de Macêdo e Rosa Teixeira Leite. Em 6 de março de 1948, contraiu matrimônio com o Sr. Moacir Soares Pinto, [1] também natural de Aurora-CE, filho de Antonio Pinto e Josefa Soares.
Residiu por muitos anos com a filha Rosy Mary (Meirinha), em Fortaleza, de onde orientava os rumos de sua família enquanto a saúde o permitiu.
Com o agravamento de uma enfermidade, foi internada no Hospital São Carlos, local em que permaneceu até o último alento.
Do consórcio com Moacir, gerou uma descendência de 7 filhos (Antonio, Lúcia, Rosy Mary, Moacir Filho, Elba, Márcia e Denise), com 14 netos e 13 bisnetos. [2]
Seus restos mortais repousam no Jardim Metropolitano.
Foto: ▶️ Minha sogra Zaíra com a filha Elba e os netos Érico e Natália. Recordação de uma de nossas viagens por serras nordestinas.
Meu profundo pesar pela partida desta mulher admirável. Ao longo de sua vida, minha sogra Zaíra soube ser uma esposa dedicada, mãe prudencial e avó amorosa.
Deixa eternas saudades a todos nós.
[1] A BIOGRAFIA DE MOACIR SOARES PINTO
[2] A DESCENDÊNCIA DE MOACIR SOARES PINTO E ZAÍRA TEIXEIRA DE MACEDO
Mensagens:
Nossos pêsames, de Angelita e meus, ao Paulo e Elba e aos membros da Família Macedo pelo falecimento de D. Zaíra. Que Deus a acolha em Seus braços misericordiosos. ~ Marcelo Gurgel, por e-mail
Enquanto viveu você foi um exemplo de pessoa, deu amor, protegeu e construiu uma família linda. Agora que não está mais entre nós, toda a família sentirá muito sua falta, porém o que nos conforta é sabermos que você estará em paz ao lado de Deus e de nosso avô. Sentirei saudades eternas, querida vovó. ~ Érico Gurgel, no Face c/ + 11 comentários
Acrescentadas a esta seção de comentários + 7 mensagens de condolências enviadas a Elba pelo WhatsApp.

NETO EM TEMPOS DE PANDEMIA

20/05/2020 8:00
Nasce na Maternidade Saúde da Criança, em Belém-PA, Renan Macedo Soares, filho do casal Natália–Rodrigo e segundo neto deste avô escriba. O bebê pesou 3,4 kg, mediu 51 cm e pontuou 10 na contagem de Apgar.
22/05/2020
Natália recebe alta hospitalar e retorna para casa com Renan. Ela está bem, mas terá de enfrentar alguns dias de cuidados especiais (por ter se submetido a uma operação cesariana).
Nos últimos dois meses, tínhamos enfrentado uma série de dificuldades para estarmos em Belém, no período de nascimento do neto. A começar pelos voos que foram cancelados "para realizar ajustes na malha aérea" (nos termos do comunicado da Gol). Depois, pelos ônibus interestaduais que deixaram de rodar. Cogitamos então em fazer essa viagem no carro dos consogros Henrique e Eveline. Seria uma viagem de 1.500 quilômetros, com previsão de pernoites em Caxias-MA e Capanema-PA, e igual quilometragem para voltar. Mas encontraríamos pousadas e restaurantes abertos ao longo do percurso? E oficina mecânica para o caso de alguma avaria no veículo?
Além disso, havia o risco aumentado de sofrermos assaltos naquelas rodovias com pouca circulação de carros. E de sermos impedidos de prosseguirmos no itinerário pelas barreiras sanitárias nas cidades e divisas de Estados. Mas o golpe final em nossos planos de viagens por terra veio mesmo dos lockdowns decretados em Fortaleza e Belém.
Felizmente, o empresário Francisco Moacir Pinto Filho, irmão de Elba, nos franqueou o seu jato executivo para que pudéssemos ir conhecer o neto paraense.
Chegamos às onze. E fomos a Umarizal para abraçar Natália e conhecer Renan (em um quarto amorosamente arrumado). Conversamos, almoçamos, tiramos fotos e só regressamos depois que a habitual chuva de Belém à tarde havia passado.
Elba ficou na capital paraense com a nobre missão de ajudar nos cuidados com Natália e Renan.
Nenhuma descrição disponível.
20/06/2020
Natália e Rodrigo decoram o apartamento para comemorar à petit comité o 1.º mês de existência do Renan.
22/06/2020
Elba retorna a Fortaleza. Sua estada em Belém, que estava prevista prolongar-se até 2 de julho (o dia em que seriam reiniciados os voos diretos entre as duas cidades), teve de ser abreviada. Devido a um agravamento no estado de saúde de sua mãe, Dona Zaíra, que precisou ser internada no Hospital São Carlos, em Fortaleza. Para voltar de Belém, ela teve de voar a São Paulo, onde (após um layover de duas horas em Guarulhos) embarcou em outro avião para Fortaleza.. A viagem toda durou cerca de dez horas (em vez das duas horas de duração de um voos direto entre Belém e Fortaleza).
O esforço foi necessário. Afinal, com a situação em Belém sob controle, a sua presença se tornou indispensável em Fortaleza.

WILSON DA SILVA BÓIA, O POLÍMATA

Wilson da Silva Bóia nasceu no bairro da Glória, no Rio de Ja­neiro, então Distrito Federal, em 15 de junho de 1927. Após o curso primário em várias escolas, cursou o ginasial no Ex­ternato São José e o científico no Colégio Vera Cruz. Formou-se em Medicina em dezembro de 1950. Como orador da tur­ma, pronunciou na solenidade de formatura a oração "Ciência e Arte" em Medicina, mais tarde publicada em livro.
Durante o período acadêmico trabalhou como copy-writer de "A Exposição", escrevendo um programa diário para a Rádio Jornal do Brasil. Frequentou o Curso de Teatro da Prefeitura do Distrito Federal sob a direção de Renato Viana, par­ticipando como galã do elenco de teatro das rádios Tupi e Tamoio, da cadeia Emissoras Associadas. Publicou seu livro de estreia, "A Lira Selvagem", diplomando-se em seguida em Química Orgânica e Higiene Industrial. Como médico, ingressou nos quadros da Po­lícia Militar e, depois, já como oficial-médico do Exército, (1) exerceu as funções de chefe do Pavilhão de Clínica Médica do Hospital Central do Exército, subdiretor da Policlínica Central do Exército e diretor do Hospital Geral de Fortaleza.(2) No Ceará, escreveu para os jornais locais, fez conferências na Academia Cearense de Letras, na Casa de Juvenal Galeno e no Instituto Histórico. Lançou também três livros: "Antonio Sales e sua época", "Ao redor de Juvenal Galeno" e "Associações Literárias de Fortaleza". Em 1987, mudou-se para Curitiba. Logo ao chegar, viu-se premiado com o 1.º lugar no concurso Gralha Azul de Literatura, com "David, o Gigante". Em sequência, outros trabalhos seus foram contemplados pela Secretaria de Cultura, como "Rodrigo Júnior, o Poeta", "Alceu Chichorro, o Chargista", "Newton Sampaio, o Escritor" e "Plácido e Silva".
Pesquisador incansável, foi membro do Centro de Letras do Paraná, do Círculo de Es­tudos Bandeirantes, da Academia Brasileira de Médicos Escritores e do Instituto de História da Medicina do Paraná.
Escreveu ainda as crônicas que compõem o volume "Do Fundo do Baú", editado postu­mamente. Permanecem inéditos os perfis biográficos de Raul Gomes, Percival Charquetti, "Padre Cícero, ingênuo ou mistificador?", "Maupassant, um gênio atormentado", "Dicio­nário de Pseudônimos", "Cadilhe" e a "História da Academia Paranaense de Letras", na qual foi recebido pelo acadêmico Túlio Vargas, em sessão solene, no dia 16 de maio de 1994, para ser o primeiro ocupante da cadeira de n.º 26. (3)
Faleceu em Curitiba, em 11 de junho de 2005. (3)
Texto: Academia Paranaense de Letras. Cadeira 26 - 1.º Ocupante
http://academiaparanaensedeletras.com.br/cadeira-26/cadeira-26-1o-ocupante
Foto: Hospital Geral de Fortaleza (HGeF). Galeria de Ex-Diretores. http://www.hgef.eb.mil.br/
N. do E.
(1) Como oficial do Exército, Wilson serviu em Guaíra em 1955, passando depois por Ponta Grossa e Marialva, onde conheceu sua esposa Ana, e a eles nasceriam dois filhos: Wilson Roberto e Ana Lúcia. Esteve ainda em Juiz de Fora, Santos Dumont, Rio de Janeiro e, finalmente, a partir de 1977, em Fortaleza.
(2) Na capital cearense, chefiou o Serviço de Saúde da 10.ª Região Militar e, no período de 01/02/1978 a 06/01/1983, dirigiu o Hospital Geral de Fortaleza (HGeF).
(3) Curitiba o homenageou postumamente em Ganchinho, onde é nome de uma das ruas do bairro.

ANTÔNIO SALES, O PRIMEIRO "FORNEIRO" DA PADARIA ESPIRITUAL

"Na porta de uma livraria de Tebas lia-se: Remédios para a alma." 
Diodorus Siculus - do livro "Vivências" - Ed. Vozes
Em 30 de maio de 1892, 30 anos antes da Semana de Arte Moderna, um grupo de intelectuais cearenses criou a Padaria Espiritual.
Mais do que uma agremiação literária, a Padaria Espiritual foi um breve, mas produtivo, movimento cultural que destacava o nacionalismo, a irreverência e a criatividade de uma parcela de intelectuais que, através do humor e da crítica social, produziu "um movimento literário modernista que antecedeu em muitos anos a Semana de Arte Moderna. Fariam história."
Na Padaria Espiritual, a única coisa que não se via era algo parecido com antropofagia, pois na capitania de Siará Grande não se admitia essas coisas entre os curumins. Estes buscavam a convivência lúdica, saudável e civilizada das cunhãs e cunhatãs, nos lugares apropriados, ou seja, nas alcovas, praças, cinemas, praias, pé de serra, caatinga, ribeirões, açudes e Cine São Luiz.
Em suma, em qualquer lugar onde havia uma cabrita saltitando de paixão, quase implorando para ser o prato principal das canetas antropófagas dos curupiras transformados em Padeiros.
Os Padeiros da Padaria Espiritual eram modernistas muito tempo antes de 1922 e os modernistas de 1922 foram Padeiros de um pão meio dormido, mas a fornada de seus pães foi muito mais abrangente e cosmopolita.
Sem ufanismos tolos, o Ceará é pioneiro em tanta coisa que um dia, algum historiador mais sério vai acabar provando que o Brasil somente foi descoberto quando os invasores portugueses avistaram os "verdes mares bravios onde canta a jandaia na fronde do carnaubal", ainda que existam registros históricos sobre os tais invasores aportarem - mesmo sem ter porto - em Porto Seguro e Cabrália.
Maiores informações sobre a Padaria Espiritual podem ser obtidas no livro BREVE HISTÓRIA DA PADARIA ESPIRITUAL, do escritor Sânzio de Azevedo, professor da Universidade Federal do Ceará e membro da Academia Cearense de Letras – ACL. Este livro pode ser obtido na Editora da Universidade Federal do Ceará.
Comentário do colaborador Fernando Gurgel Filho a ANTÔNIO SALES E SUA ÉPOCA, a nota que antecedeu esta em "Linha do Tempo".

ANTÔNIO SALES E SUA ÉPOCA

Em 1973, quando eu atendia no Pavilhão de Isolamento do Hospital Central do Exército, em uma roda de conversação (dessas que se formam no local de trabalho), ouvi um colega se referir ao Coronel Bóia. Com um certo ar de mofa, o que percebi na continuidade da conversa. Quando ficou explícito que o oficial citado, além de dedicar-se à carreira de médico militar, tinha interesses em outras áreas como a literatura, a música, o jornalismo, o teatro e a radiofonia.
Wilson da Silva Bóia - o seu nome completo. Mas só vim a conhecê-lo alguns anos depois quando eu tinha voltado a morar em Fortaleza.
Na função de capitão médico do Hospital Geral de Fortaleza, e também respondendo pela Chefia do Serviço de Saúde da 10.ª RM, um dia fui comunicado que o Coronel Bóia encontrava-se em trânsito por ter sido designado para a função que eu estava interinamente exercendo.
No tempo aprazado, o coronel apresenta-se pronto para o serviço no Quartel General da 10.ª RM. Em nosso primeiro encontro, passei-lhe a situação do Serviço de Saúde Regional e terminamos conversando sobre amenidades.
Bóia, um aficionado pela música brasileira, quis conhecer os músicos da terra. Numa noite, levei-o ao Nick Bar, na Praia de Iracema. A cantora e proprietária da casa, Iara, identificou-o imediatamente como sendo alguém que tinha visto na televisão. Coronel Bóia, de fato, se tornara conhecido em todo o Brasil por sua participação no programa do Paulo Gracindo (o "8 ou 800?", que esteve no ar entre 1976 e 1977), respondendo sobre a vida e a obra de Oswaldo Cruz.
No Nick Bar, além de Iara, Bóia conheceu os violonistas Joãozinho, Luciano, Neném "Macaco", Pedro Ventura (7 cordas) e o Macaúba do Bandolim.
Adiante, e sem necessidade de minha intermediação, ele fez amizades com integrantes de um grupo de choro liderado por um militar da Aeronáutica (Troglio?), exímio flautista e amigo do Altamiro Carrilho. O que pude confirmar na noite em que Altamiro, apresentando-se no Theatro José de Alencar, fez questão de que o militar flautista subisse ao palco para tocar com ele.
Numa de nossas conversas, Bóia me disse que, em sua temporada no Ceará, iria dar prosseguimento a umas pesquisas que iniciara no Rio de Janeiro sobre Antonio Sales. Ao estudar a vida do higienista Oswaldo Cruz, foi que ele chegara a Antônio Sales, cujas trovas satíricas no Correio da Manhã, ajudaram a afastar Nuno de Andrade da chefia da Saúde Pública e a beneficiar, indiretamente, aquele que erradicaria a febre amarela do Rio de Janeiro, no começo do século XX.
E, sendo Wilson Bóia, como foi dito, médico e militar, fez questão de frisar sua grande admiração pelo autor de "Aves de Arribação", que escreveu estes versos:
"Vi um médico fardado;
Que completo matador.'
Quem escapar do soldado
Não escapa do doutor. "
Trazendo consigo anotações de episódios pitorescos , poemas, conferências, artigos, em suma, textos onde se documenta a estada de Antônio Sales no Rio, Wilson Bóia se lançou à tarefa de, com esses subsídios e mais o que iria colher nos arquivos cearenses, traçar o perfil biográfico desse que é um dos maiores nomes da cultura de nossa terra.
Lançado em 1984, "Antônio Sales e sua época" foi elaborado para ficar. Prefaciando a obra, escreveu Claudio Martins (então presidente da Academia Cearense de Letras): "Até aqui o mestre de "Aves de Arribação" era um nome nacional reconhecido e consagrado por avaliações esparsas, às vezes de difícil acesso. Conhecia-se o prosador, admirava-se o poeta e compositor, festejava-se o jornalista intimorato. Todavia, só agora, graças a esta paciente lucubração nos domínios da pesquisa acurada, tem-se um retrato de corpo inteiro do polígrafo cearense, que conquistou lugar de excepcional relevo no cenário cultural da Nação."
BÓIA, WS. Antônio Sales e sua época. Fortaleza, BNB, 1984. 684p.
AZEVEDO, Sânzio. Lembrando Wilson Bóia. Academia Cearense de Letras, 2005. Disponível em: http://www.academiacearensedeletras.org.br/revista/revistas/2005/ACL_2005_006_Lembrando_Wilson_Boia_-_Sanzio_de_Azevedo.pdf. Acesso em: 1º jun. 2020.
MILLARCH, Aramis. Wilson Bóia, o amor pela MPB e história. Tabloide Digital, 1990. Disponível em: http://www.millarch.org/artigo/wilson-boia-o-amor-pela-mpb-historia. Acesso em: 1º jun. 2020.
PINTO, José Alcides. Wilson Bóia, Antônio Sales e sua época. Fortaleza, Banco do Nordeste do Brasil, 1984. Rev de letras, 7 (1/2) - jan./dez. 1984. Disponível em: http://docplayer.com.br/56458910-Boia-wilson-antonio-sales-e-sua-epoca-fortaleza-banco-do-nordeste-do-brasil-jose-alcides-pinto.html. Acesso em: 1º jun. 2020.

PINGA EM MIM

Nonato Albuquerque (*)
Pinga, birita, bicada. Não importa a marca, tudo é uma mesma bebida: cachaça. Lapada, caninha, catiripapo ou branquinha. Na hora de encerrar a conta o que se vê é gente tomando uma, melando o bico, queimando o dente com uma boa dose da mais popular de nossas bebidas. A cachaça é a preferência nacional não apenas do João Canabrava (personagem do humorista Tom Cavalcante, na Escolinha) e de outros papudinhos, como são aqueles que a elegeram aos pés do balcão das bodegas e mercearias, mas também por um público mais requintado. Pois é, com a exportação de algumas marcas como a Ypioca, ela ganhou o mundo e o paladar de gente acostumada a outro tipo de bebida. Bastou isso para que as agências dessem um melhor tratamento às peças anunciando esse tipo de bebida. Afinal, aqui mesmo no Brasil, muita gente boa não almoça ou janta sem antes "tomar uma" para abrir o apetite.
Na praça da Gentilândia há uma verdadeira confraria da cachaça. São os diaristas do "seu Chagas" e do bar do Luiz, pontos de encontro de prefeitos do interior, de funcionários públicos e gente que adotou a pinga como "desculpa" para um encontro. Ao lado da Secretaria de Segurança, o comerciante Zeca Araújo não dá conta atendendo a juízes, advogados, velhos políticos e jornalistas que sempre circulam ali para "umas e outras", em torno de um bom papo. A cachaça tem essa vantagem: quebra o gelo do silêncio, dá um tiro na timidez, aproxima pessoas de níveis diferentes sem criar nenhuma medida restritiva. Na Praia de Iracema, o bar do Getúlio é a confirmação disso. Até hoje é o ponto de encontro de gente bem, "tudo de paletó e gravata", que corta o caminho do trabalho para casa para uma lapada. No Batecaverna, situado na Pinto Madeira, quase início da Torres Câmara, médicos o elegeram como seu espaço para virar um copo. E todos só bebem cachaça.
Há verdadeiros santuários dos pinguços em Fortaleza. Os intelectuais, como Luciano Maia e Gervásio de Paula, preferem o encontro na Padaria Espiritual, na rua 25 de Março com Pero Coelho, um dos locais mais antigos na tradição dos que bebem uma cachacinha. Mas um dos bares mais antigos ainda em atividade é o Pirajá, situado na Guilherme Rocha. Ali, o ar das pessoas e dos móveis rescende a cana.
Havia um local no centro de Fortaleza, que era cana pura, o Bar Frixtil, localizado na Pedro Pereira. Pinguços famosos da vida cultural desta cidade firmaram muitos encontros, sempre ao lado de umas boas doses em dias de chuva.
Em dias coloniais como os desse cinzento fevereiro, aumenta a rotatividade nos bares e bodegas onde a cachaça reina, indiferente à invasão de outras bebidas mais nobres, como a vodca que chegou a ganhar a admiração da intelligentzia cearense nas duas últimas décadas. Ela tem ido à luta, sofisticando-se na caipirinha e ganhando novos consumidores, além de uma preocupação com o ítem qualidade a fim de quebrar um pouco o velho preconceito que a acompanha vida afora, o que a levou ser desprezada pela maioria dos brasileiros.
Hoje em dia, a coisa mudou. Há várias marcas da cachaça nacional, inclusive fabricadas aqui mesmo no Ceará, que detêm premiações internacionais como o da Associazone di Controllo de Qualitá, concedido à Chave de Ouro e entregue pelo príncipe Rainier de Mônaco. Nada mais chique, embora o preconceito para se assumir como um admirador da pinga ainda seja muito alto.Muita gente boa se negou a dar testemunho dizendo ser um bebedor de cana. Puro preconceito.
Na verdade, a origem de tudo isso é fácil de ser identificada. Por ter surgido entre os escravos que trabalhavam nas casas de moagem, a cachaça sempre foi olhada de banda pela chamada granfinagem brasileira. Isso não quer dizer que rico nunca tenha provado da bebida no Brasil colonial, muito pelo contrário. Carraspanas de senhores de engenho sempre foram escandalosas e acabaram mal para os cativos. Para compensar todo o banzo, os escravos iam à desforra com a cana. Ela, a exemplo do que ainda hoje acontece em relação às dores de esquina (sic) dos amantes, funcionava como uma ótima fuga para os escravos. E não era apenas fuga no sentido subjetivo da palavra, não. Literalmente, a coisa funcionava.
Historiadores costumam situar em torno de 1540 o início do cultivo da cana-de-açúcar no Brasil. O aparecimento da cachaça é contemporâneo a essa cultura. Em 1664, quem diria, a cachaça subia à cabeça dos escravos e fazia o sonho da libertação se tornar realidade para muitos. Aqueles escravos que não tinham coragem de engrossar as filas de fujões, tomavam umas "calibrinas" e o "santo" baixava lhes dando ânimo para enfrentar a arriscada aventura. Muita gente assinou carta de alforria por conta própria, depois de um porre homérico antecipando o que a História nunca irá reconhecer: a pinga brasileira foi a Lei Áurea de muito negro. Verdade, depois de uma rodada de aguardente e a fuga, muitos senhores de escravos é que ficaram na maior ressaca.
Por conta desse "auê calibrino", os donos do mundo escravocrata de Santos e de São Vicente resolveram abrir os olhos. Vetaram por decreto o consumo da cachaça "como sendo altamente prejudicial à capitania". Isso foi no ano de 1664, iniciando o regime de clandestinidade da bebida nas tendas da colônia. O mais curioso é de que esse decreto nunca foi revogado, o que leva alguns ensaistas famosos a a garantirem - veja só - que a cachaça continua no Brasil em regime de semiclandestinidade, sem estatuto legalizado.
(*) Nonato Albuquerque é jornalista, blogueiro e apresentador de TV. Publicou esta matéria no Jornal O Povo, edição de 23 de fevereiro de 1992, com ilustração de Klevisson. Eu, Paulo Gurgel, digitei-a para publicação em meio eletrônico.

VISITADORAS DE ALIMENTAÇÃO

Quem ensina a comer ensina a viver. Llotzky
Uma pesquisa sobre a constituição do campo do saber em alimentação e nutrição, com enfoque no espaço formativo e nas práticas curriculares intervencionistas das Visitadoras de Alimentação no cenário político e institucional do SAPS-CE, no período de 1944 a 1966, foi a tese apresentada em 2010 por Marlene Lopes Cidrack ao Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará, como exigência para a obtenção do Título de Doutor. Para a análise da formação dessas profissionais, a pesquisadora estudou a experiência da Escola de Visitadoras de Alimentação Agnes Junes Leith - EVA, que funcionou no Estado do Ceará neste período, com foco nas vivências cotidianas e práticas curriculares do curso, centrando a investigação nas ações de educação alimentar junto à classe trabalhadora, escolares e população em geral. 
Destaco nesta tese de Doutorado as referências à saudosa Francica Carlos da Silva (Tia Fransquinha), bem como à disciplina que ela lecionava na Escola.
No período em que funcionou a Escola, de 1944 a 1966, eles (os professores) se sucederam ministrando as diversas disciplinas como está posto a seguir:
(...) Corte e Costura - professora Francisca Carlos da Silva. (...) p.80-81
Na disciplina Corte e Costura, as alunas aprendiam como confeccionar roupas para adultos e crianças e, também, a fazer pequenos consertos - bainhas, pregar botões e fecho eclair. O contato com trabalhos manuais proporcionava às alunas segurança para conversar com as donas de casa, porque, ao falarem a mesma linguagem, a linguagem da trabalhadora do lar, as alunas mais se aproximavam das pessoas visitadas. p.96
A tese da Doutora Marlene Lopes Cidrack traz também, na página 78, a reprodução de uma fotografia de uma "aula de Corte e Costura" em 1950.
Fontes
http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/3641
http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/3641/1/2010_TESE_MLCIDRACK.pdf
http://www.editora.ufc.br/catalogo/63-nutricao/508-visitadoras-de-alimentacao-legado-da-escola-agnes-june-leith (Visitadoras de alimentação: legado da escola Agnes June Leith)

PADARIA ESPIRITUAL

Fernando Gurgel Filho
Em 30 de maio de 1892, 30 anos antes da Semana de Arte Moderna, um grupo de intelectuais cearenses criou a Padaria Espiritual.
Mais do que uma agremiação literária, a Padaria Espiritual foi um breve, mas produtivo, movimento cultural que destacava o nacionalismo, a irreverência e a criatividade de uma parcela de intelectuais que, através do humor e da crítica social, produziu "um movimento literário modernista que antecedeu em muitos anos a Semana de Arte Moderna. Fariam história." (In: "Breve História da Padaria Intelectual")
Na Padaria Espiritual, não se via algo parecido com a antropofagia, pois na capitania de Siará Grande não se admitia essas coisas entre os curumins. Estes buscavam a convivência lúdica, saudável e civilizada das cunhãs e cunhatãs, nos lugares apropriados, ou seja, nas alcovas, praças, cinemas, praias, pé de serra, caatinga, ribeirões, açudes e Cine São Luiz (sic).
Em suma, em qualquer lugar onde havia uma cabrita saltitando de paixão, quase implorando para ser o prato principal das canetas antropófagas dos curupiras transformados em Padeiros.
Os Padeiros da Padaria Espiritual eram modernistas muito tempo antes de 1922 e os modernistas de 1922 foram Padeiros de um pão meio dormido, mas a fornada de seus pães foi muito mais abrangente e cosmopolita.
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Interregno: O PÃO
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Sem ufanismos tolos, o Ceará é pioneiro em tanta coisa que, um dia, algum historiador mais sério vai acabar provando que o Brasil somente foi descoberto quando os invasores portugueses avistaram os "verdes mares bravios onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba", ainda que existam registros históricos sobre os tais invasores aportarem - mesmo sem ter porto - em Porto Seguro e Cabrália.
Maiores informações sobre a Padaria Espiritual podem ser obtidas no livro "Breve História da Padaria Espiritual", do escritor Sânzio de Azevedo, professor da Universidade Federal do Ceará e membro da Academia Cearense de Letras – ACL. Este livro foi publicado pela Editora da Universidade Federal do Ceará. FGF
(blog EM, 02/06/2012)

A CIDADANIA AFETIVA DO PARQUE ARAXÁ

Diogo Fontenelle
À beira dos dez anos, vivo no bairro Meireles à Beira Mar. Mas de fato, eu sobrevivo no bairro Parque Araxá a sonhar fardado do Ginásio Agapito dos Santos e do Colégio Julia Jorge a reluzirem o meu olhar-menino aprendiz de pequeno poeta.
Obviamente sou grato aos quase dez anos de Meireles-Beira Mar, seria injusto e antipoético não me comover todos os dias com o azul-sereno do céu do Meireles a beijar o azul-revolto do mar. Contudo, é o Parque Araxá que doura de poesia maior o meu caminho-caminhar.
O Parque Araxá tinha três outros nomes a escolher feito mudança de estação, ou seja: Octávio Bonfim, São Gerardo e Parquelândia que foi o batismo mais recente dos quatro nomes. Eu escolhi como nome o Parque Araxá por me lembrar os casarios ajardinados com biqueira em forma de jacaré a jorrar chuva tão desejada. Realmente, o Parque Araxá era mesmo assim com casarios ajardinados e poços da melhor água de Fortaleza, todos queriam beber água do Parque Araxá. Lá, só faltava a Dona Beja, a Feiticeira do Araxá das Minas Gerais.
Assim, rolaram as águas do Meu Parque Araxá entre as divisas das avenidas Bezerra de Menezes e Jovita Feitosa. Foram tantos carnavais, festas juninas, desfiles de Sete de Setembro e Quermesses das Igrejas Senhora das dores e São Gerardo. Tudo era folia familiar, tudo era alegria em sinfonia!
Com a avassaladora partida da minha mãezinha Carmelita Fontenelle para o Azul Mais Alto tão longe de mim, eu voltei de vez para o Parque Araxá adoçado por lembrares azuis vividos e revividos em sonhares. Uma vez, a médica perguntou a mãezinha já meio desmemoriada: Onde a senhora mora? E a mãezinha olhando para o mar do Meireles disse: Mas a senhora não vê da janela que eu moro no Parque Araxá? A médica sorriu encantada, mãezinha via com o coração o Parque Araxá amado e não o Meireles.
Com licença do Meireles, é com a minha cidadania afetiva Parque Araxaense a transbordar que eu digo o mesmo da janela no Meireles-Beira Mar: Eu moro no Parque Araxá que não saiu de mim a empinar arraias de sonho no meu olhar de sempre-menino aprendiz de poeta.

BOAS-VINDAS A RENAN


"Um bebê nasce com a necessidade de ser amado - e nunca supera isso." - Frank A. Clark
20/05/2020 8:00
Nasceu hoje na Maternidade Saúde da Criança, em Belém-PA, Renan Macedo Soares, filho do casal Natália–Rodrigo e nosso 2.º neto.
Mensagem dos avós maternos:
Este pequenino junta-se a vocês dois, e o que era ótimo será melhor. Estamos em júbilo pela chegada do Renan.
– Elba e Paulo Gurgel, de Fortaleza
22/05/2020 - O voo dos avoengos
O acesso à aeronave que nos levou a Belém se deu pelo Terminal de Táxi Aéreo (o Pinto Martins antigo), na Praça do Vaqueiro. Esta é uma das fotos de quando estávamos prestes a embarcar no Embraer Phenom 300, do empresário Francisco Moacir Pinto Filho, a quem agradecemos por nos ter franqueado este jatinho de sua propriedade.
Elba, Paulo, Eveline e Henrique
Pilotada pelos prestimosos José Marcelo e Rafael, a aeronave aterrissou no Val-de-Cãs uma hora e quarenta minutos depois. No aeroporto de Belém, Rodrigo já esperava para nos levar ao apartamento do casal, no bairro Umarizal.
Outros registros desta viagem de curta permanência na cidade de destino:
 O quarto do bebê ficou muito bem mobiliado e decorado, traduzindo o bom-gosto de Natália.
Circulou um retrato de quando Rodrigo era recém-nascido. Renan, de fato, puxou ao pai.
 Natália amamenta o filho com as dificuldades inerentes a quem, apenas dois dias atrás, submeteu-se a uma operação cesariana.
 Almoçamos no próprio apartamento. Comida boa solicitada por aplicativo.
 Acertamos o voo de volta para "depois da chuva das quinze horas".
 Elba ficou na capital paraense com a nobre missão de ajudar nos cuidados com Natália e Renan.

GUIA DE BOAS MANEIRAS

Recordo-me de que, na década de 1960, havia um exemplar do "Guia de Boas Maneiras" na casa em que minhas tias Francisca, Eugênia, Maria e Rita moravam em Jacarecanga. Talvez aquele livro pertencesse a tia Fransquinha, que lecionava Corte e Costura na Escola Agnes Junes Leith.
Muitas vezes, por mera curiosidade, percorri as páginas daquele exemplar que me trazia informações de um mundo distante. Obtida na internet, eis uma reprodução da imagem da 1.ª capa do livro (ao lado).
Antônio Marcelino de Carvalho (São Paulo, 1905 – 1978), o autor do livro (e de outros do gênero), foi jornalista, escritor, cronista e um mestre de etiqueta na década de 1950, tendo seus livros permanecido clássicos nas décadas seguintes.
Era filho de Antonio Marcelino de Carvalho e Brasília Machado de Carvalho. Criador da crônica social no Brasil. Apresentava na TV Record, à época emissora de sua família, o programa "Domingo com Marcelino". Residiu no emblemático Edifício Esther, na Praça da República, zona central da capital de São Paulo, em um apartamento de cobertura, e chegou a morar na Avenida Paulista. Foi sepultado no Cemitério da Consolação, em São Paulo.
Seu "Guia de boas maneiras" aborda "as boas e corretas normas de conduta na vida em sociedade". Dividido em capítulos que se subdividem em apresentação, saudação, convites, recepções e tudo o que se refere à mesa (etiqueta, maneira de convidar, arrumação da mesa, entre outros), passando pelo casamento, nascimento, primeira comunhão, presentes e conversas.
A Escola Agnes Junes Leith, também designada de Escola de Visitação Alimentar do Ceará e que funcionou em Fortaleza entre 1944 e 1966, formava visitadoras de alimentação, profissionais cujo trabalho era voltado à educação alimentar de trabalhadores, escolares e da população em geral.
Webgrafia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marcelino_de_Carvalho
http://www.editora.ufc.br/catalogo/63-nutricao/508-visitadoras-de-alimentacao-legado-da-escola-agnes-june-leith

CAATINGA: BIOMA QUE SÓ EXISTE NO NORDESTE

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a caatinga ocupa uma área de cerca de 844.453 quilômetros quadrados, cerca de 11% do território nacional. Os estados Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais fazem parte do bioma.
A caatinga é lar de 178 espécies de mamíferos, 591 de aves, 177 de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 de peixes e 221 de abelhas.
"Ao longo do tempo, a ocupação humana começou a degradar a vegetação da caatinga, ou seja, as pessoas usavam a madeira para fazer cercados, para ter energia em seu fogão caseiro. E isso foi destruindo a vegetação que estava adaptada para a região. Como ela não tem uma capacidade de reprodução e espalhamento muito grande, a velocidade com que o homem foi utilizando esse material e, principalmente, o crescimento do rebanho de caprinos, das cabras, promoveu a destruição das folhagens novas", afirma o engenheiro ambiental e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) David Zeeprofessor, ao site Sputnik Brasil.
O processo de desertificação, acrescenta o professor da UERJ, pode representar uma "quebra no ciclo natural" do bioma e causar o desaparecimento de espécies. "A preservação é extremamente importante para a viabilidade não só ambiental da região, mas principalmente social".

Ler também:
AS CAATINGAS por Nilo Bernardes

PINDORAMA

Assim os índios chamavam essas terras quando Cabral chegou. Segundo Theodoro Sampaio, autor dos livros "História da Fundação da Cidade da Bahia" e o "Tupy na Geografia Nacional", obras que, ainda hoje, são referências bibliográficas importantes em ciências humanas, o termo "Pindorama" é da língua tupi, podendo ser traduzido como o país das palmeiras. Essa denominação continuou sendo usada pelos nativos, por muito tempo. Provavelmente, designava apenas parte do litoral do Nordeste.
"Pindorama",  de Belchior
Antônio Carlos Belchior (26/10/1946 - 30/04/2017) entrou para a Faculdade de Medicina da UFC em 1968. Conheci-o pessoalmente, não na Faculdade de Medicina, mas na casa de um amigo em comum, o engenheiro Francisco Osterne Brandão. Depois disso, nos encontramos em outras oportunidades: no Bar do Anísio, em minha casa no bairro Otávio Bonfim, (por ocasião de meu aniversário de 21 anos), de onde saímos para esticar a noite no "Pombo Cheio", levando conosco o Claudio (do Violão) e o Miguel (da Flauta).
Em 1972, quando morava no Rio de Janeiro, deparei-me com uma placa na fachada de um teatro em Botafogo com o nome BELCHIOR, em letras garrafais. À noite, fui rever o amigo que começava a fazer sucesso no Sul Maravilha. O teatro era pequeno, tinha poucos espectadores. Dentre as canções apresentadas, Belchior cantou uma de fossa (que não era dele). Ao terminá-la, alguém deu uma forte descarga em um vaso sanitário dos bastidores. Era tudo combinado para que o público risse.
Entabulamos uma conversa inicialmente de camarim. Depois, atravessando o Aterro do Botafogo, fomos prossegui-la na Praia do Botafogo, sob um luar com jeito de Paquetá. Belchior, eu e uma terceira pessoa (salvo equívoco, o compositor Pretextato Melo).
Nos anos seguintes, assisti a shows do Belchior no Ceará. A última vez que nos vimos foi num restaurante que ficava próximo à Praça Portugal. Eu tinha chegado muito cedo, entornado algumas cervejas, e já me encontrava de retirada. Quando alguém me detém na calçada, abraçando-me. Era Belchior. Mudei de ideia e recomecei a beber. Passei da conta, dormi no carro e acordei com o sol me batendo no rosto. Simplesmente me esqueci de ir para casa depois de entrar no veículo.
Agora descubro um vídeo do "Domingo Espetacular" com a cantora cearense Lúcia Menezes, que foi amiga de Belchior, em que ela  apresenta trechos de canções do começo da carreira de Belchior: "Paralelas" (com seu início original), "Espacial" e "Rosa dos ventos", recuperada parcialmente em "Depois das seis" (Quando a fábrica apitou / E o trabalho terminou / Todo mudo se mandou / Sem desejos de voltar), as quais não são inéditas; além de "Cateretê", o frevo "Caravelle", uma canção sem título (Sou candidato a médico e doutor / Mas o que eu sei de fato / É samba, meu senhor) e "Pindorama" (Pindorama / Que panorama é o teu?), que são inéditas, acho.

Neste vídeo, também dão seus depoimentos o médico patologista e professor emérito da UFC, Dalgimar Beserra de Menezes, irmão de Lúcia, e o cantor e compositor piauiense Jorge Mello, parceiro de Belchior em diversas canções.
http://www.cljornal.com.br/cultura/amiga-de-belchior-lucia-menezes-apresenta-ineditas-do-cantor/
http://www.itarget.com.br/clients/raimundofagner.com.br/festival_do_ceara1968.htm
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/verso/da-pizza-preferida-de-belchior-a-atuacao-como-produtor-musical-veja-lembrancas-de-lucinha-menezes-1.3079457 (30/04/2021)
"Pindorama Brasil", de Toquinho
Originalmente lançado em 2005, o CD Mosaico revela a parceria entre Toquinho e o compositor Paulo Cesar Pinheiro. Parceria que fora ensaiada em várias situações, mas que só frutificou em função de um texto de Millôr Fernandes para o teatro, baseado nos quinhentos anos do descobrimento do Brasil. A peça chamava-se "Outros Quinhentos" e foi encenada em 2000, em São Paulo. Além das oito músicas que integraram a trilha da peça teatral, Toquinho e Paulo Cesar Pinheiro criaram mais quatro canções que completam as doze componentes do CD Mosaico, lançado em novembro de 2005. Sete anos depois, a Biscoito Fino resgata essa jóia rara da MPB.
http://youtu.be/92DHCdH_J6k

PORTEIRAS E CURRAIS. GRAN FINALE

CORRESPONDÊNCIA
7 de março de 2020 19:25
Caro Paulo
Boa noite.
Sou da familia Ramalho de Alarcon e Santiago, de Russas. Procurando informações sobre o livro "Porteiras e Currais" encontrei seu nome num artigo do "Linha do Tempo". Sabe de algum site que tenha o livro em PDF?
Sem mais para o momento,
Atenciosamente

Mauricio Jorge Ramalho
mjramalho600@gmail.com
mjramalho010@hotmail.com
8 de março de 2020 9:20
Olá, Maurício.
Tive alguns percalços com o "Porteiras e Currais", de Miguel Santiago Gurgel do Amaral.
Siga o fio:
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2011/01/porteiras-e-currais.html
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2011/05/uma-biblioteca-sem-porteiras.html
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2016/07/miguel-santiago-gurgel-do-amaral.html
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2017/12/a-busca-de-andre-garcia-por-livros-de.html
Gran finale: Porteiras e Currais (livro) - digitado. PDF (por André Garcia)
Um abraço.
Paulo Gurgel
8 de março de 2020 10:48
Caro Paulo,
Obrigado pela ajuda. Baixei o arquivo PDF.
Maurício Ramalho

TRÍPLICES FRONTEIRAS

Uma tríplice fronteira ou tripla fronteira é o lugar comum que une os limites territoriais e políticos de três países diferentes. Entre os 195 países do mundo geralmente reconhecidos, 134 têm pelo menos uma tripla fronteira. Os outros são países insulares (como o Japão), ou fazem fronteira com apenas um país (como Portugal), ou fazem fronteira com dois que não são adjacentes (como os Estados Unidos).
O Brasil, este país continental que divide as fronteiras com dez países, possui nove tríplices fronteiras:
🔼Brasil-Uruguai-Argentina
A Ilha Brasileira é uma pequena ilha fluvial localizada na foz do rio Quaraí (que desemboca no rio Uruguai), entre os municípios de Barra do Quaraí, no Brasil, Monte Caseros, na Argentina, e Bella Unión, no Uruguai.
Situada em região de tríplice fronteira, a ilha tem, aproximadamente, 2 quilômetros de extensão por 0,5 quilômetro de largura. Em 2009, foi atingida por um incêndio que consumiu quase metade de sua vegetação.
Entre 1964 e 2011, a Ilha Brasileira tinha apenas uma casa (que não foi atingida pelo incêndio) e um morador, um fazendeiro brasileiro chamado José Jorge Daniel, que faleceu em 2011. Pouco tempo antes de sua morte, o mesmo abandonou o local devido a seu estado de saúde, indo para a casa de uma filha em Uruguaiana - RS.
"Seu Zeca - o guardião da Ilha Brasileira", como era conhecido por todo o Estado do Rio Grande do Sul, foi o último habitante da ilha.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_Brasileira
http://blogdopg.blogspot.com/2020/01/ilha-brasileira.html
🔼Brasil-Argentina-Paraguai
O ponto de encontro destas três nações acontece entre os Rios Iguaçu e Paraná. Do lado argentino, Puerto Iguazu, que, segundo o Instituto Nacional de Estadística y Censos, contava com 82.227 habitantes em 2110. Do lado paraguaio, Ciudad del Este, Presidente Franco, Hernandárias e Minga Guazu, que formam uma região metropolitana com 563.851 habitantes. Do lado brasileiro, Foz do Iguaçu, que conta com 256.088 habitantes. Ao todo, a Tríplice Fronteira é habitada por mais de 902 mil pessoas. Mais de 82 mil pessoas circulam pela Ponte da Amizade (Brasil-Paraguai) e mais de 19 mil pessoas circulam pela Ponte Tancredo Neves (Argentina-Brasil), totalizando mais de 102 mil nos dois sentidos, diariamente. A maior parte destas pessoas trafegam nos mais de 39 mil veículos que cruzam as três fronteiras todos os dias. WIKI
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2014/03/brasilia-e-foz-de-iguacu.html
http://blogdopg.blogspot.com/2014/03/da-passagem-de-santos-dumont-por-foz-de.html
🔼Brasil-Paraguai-Bolívia
🔼Brasil-Bolívia-Peru
🔼Brasil-Peru-Colômbia
(Tabatinga-Isla Santa Rosa-Letícia)
Tabatinga-AM, que teve sua emancipação política de Benjamin Constant-AM, em 1981. Isla Santa Rosa, uma ilha aluvial com assentamento humano, que pertence ao departamento de Loreto-Peru. Letícia, a capital do departamento de Amazonas- Colômbia.
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2019/09/benjamin-constant-tabatinga-e-leticia.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tabatinga_(Amazonas)
http://es.wikipedia.org/wiki/Isla_Santa_Rosa_(Loreto)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Leticia_(Col%C3%B4mbia)
🔼Brasil-Colômbia-Venezuela
🔼Brasil-Venezuela-Guiana
http://pt.wikipedia.org/wiki/Monte_Roraima
🔼Brasil-Guiana-Suriname
🔼Brasil-Suriname-Guiana Francesa
http://www.irregular.com.br/cronicas/serie-triplice-fronteiras-o-brasil-encontra-a-franca-230

MULHER RENDEIRA

Mulher Rendeira é um xaxado (com origem do termo em "xaxar" ou arranhar). Um gênero de música e dança que traduz o ruído peculiar das alpercatas (alpargatas) no chão seco e pedregoso do sertão nordestino.
Em 1927, ao som desta cantiga, o bando de Virgulino Lampião atacou a cidade de Mossoró (RN). Mas sem vencer a resistência da polícia e do povo que reagiram juntos.
Apresento o tema em duas versões:
A mais conhecida, de 1953, interpretada por Alfredo Ricardo do Nascimento, o Zé do Norte, esta é a versão que faz parte da trilha sonora do filme "O Cangaceiro", de Lima Barreto.
Olê, mulher rendeira
Olê, mulher rendá
Tu me ensina a fazer renda
Eu te ensino a namorar. (refrão)
http://youtu.be/GvcnD_QA5vY (arr. de Alfredo Ricardo Nascimento, o Zé do Norte)
Na trilha do filme "O cangaceiro", uma produção Vera Cruz de 1953, essa música (de origem folclórica, mas que dizem ser do próprio Lampião) é interpretada pelos Demônios da Garoa. Eles, por sinal, a gravaram na mesma época, junto com o cantor Homero Marques. "Mulher rendeira" teve inúmeras gravações e divulgação internacional por conta do filme. Entretanto, quem mais se beneficiou com o sucesso mundial da película foi sua distribuidora, a multinacional Columbia Pictures, e a Vera Cruz acabou falindo. (Fonte: musicólogo Samuel Machado Filho)
É provável que Lampião tenha-se inspirado em sua avó materna, a sra. Maria Jacosa Vieira Lopes, a Tia Jacosa, que era dedicada a fazer rendas.

Quanto à segunda versão, a "autêntica", no dizer de Volta Seca, que foi cangaceiro do bando de Lampião, sabe-se que, em 1957, Volta Seca gravou um LP com oito músicas: "As cantigas de Lampião", com instrumentação do maestro Guio de Moraes. Em 2000, a InterCD relançou em CD o disco "As cantigas de Lampião", com narração do locutor Paulo Roberto. As composições levam a assinatura de Volta Seca, mesmo as clássicas "Mulher rendeira" e "Maria Bonita" (ler A poesia em estado puro), tidas como de domínio público.
Olê, mulher rendeira
Olê, mulher rendá
A pequena vai no bolso
A maior vai no emborná
Se chorar por mim não fica
Só se eu não puder levar.
O fuzil de Lampião
Tem cinco laços de fita
No lugar que ele habita
Não falta mulher bonita.
http://youtu.be/yxjWPUJmVvA (versão do Volta Seca)
Há também uma versão peruana de "Mulher Rendeira": "Mujer Hilandera", que muitos no Peru julgam erroneamente se tratar de uma canção local. Gravada por Juaneco y su Combo, no álbum Leyenda Amazónica, a música tem uma levada diferente (que lembra uma cumbia) e a seguinte letra:
Ole, mujer hilandera... ole, ole, ole
Ole, mujer hilandera... ole, ole, ole
Tú me enseñas a hacer hilo
Yo te enseño a enamorar.
O internauta Luís Alberto Espinoza Bazán tem a explicação para "Mulher Rendeira" haver ressurgido como "Mujer Hilandera" no Peru:
"La primera versión que conocimos de este tema, la trajeron los Indios Tabajaras del Brasil que visitaron Lima en 1954, y actuaron en Radio El Sol en Amplitud Modulada, presentados por los grandes locutores Gaston Guido, y Alberto Sorogastua Leiva. Los Tabajaras eran además de buenos cantantes, extraordinarios guitarristas, y hablaban muy bien el español e inglés. En 1955, el sello Rca Victor de New York los contrata y desde entonces se vuelven famosisimos."
Leitura complementar: A RENDA DE BILROS

GENEALOGIA CEARENSE; CATÁLOGO DE FONTES

Na Sessão Solene de 4 de março do Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico), em que foi comemorado o 133.º aniversário de fundação da entidade, aconteceu também o lançamento do livro "Genealogia Cearense: catálogo de fontes", de autoria do sócio Geová Lemos Cavalcante, uma obra minuciosa e de grande valia aos que se interessam pelos estudos genealógicos em nosso meio.
Meu irmão Marcelo, sócio efetivo do Instituto do Ceará e fonte desta notícia, passou-me a informação de que há duas entradas no catálogo relacionadas com a família Gurgel no Ceará.
SILVA, Marcelo Gurgel Carlos da (org.). ADEODATO, Márcia Gurgel Carlos. Dos canaviais aos tribunais: a vida de Luiz Carlos da Silva. Fortaleza: Edições UECE / Expressão, 2008. 192p. ISBN: 978-85-7826-003-3
SILVA, Marcelo Gurgel Carlos da. Refazendo o caminho: passado e presente de uma família. Fortaleza: Edição do Autor, 2012. 144p. ISBN: 978-85-901655-8-3
http://blogdomarcelogurgel.blogspot.com/2020/03/comemoracao-dos-133-anos-do-instituto.html
http://gurgel-carlos.blogspot.com/2018/04/livros-inclusive-ficcionais-que-fazem.html

PESAR PELO FALECIMENTO DE HERMES ROBERTO RADTKE

Faleceu na Otoclínica, hospital privado de Fortaleza, o médico radiologista Hermes Roberto Radtke, de 43 anos.
O médico (foto) encontrava-se internado desde a última segunda-feira, acometido de encefalite pelo novo coronavírus. Seu quadro clínico agravou-se muito rapidamente e, na tarde desta quinta-feira (02/04), ele veio a falecer.
Divulgou-se que ele não tinha comorbidades.
Dr. Hermes Roberto Radtke integrava o corpo clínico da Omnimagem RioMar Fortaleza (onde me atendeu com polidez e eficiência em novembro passado) e da Clínica Trajano Almeida.
Expressamos condolências e solidariedade a todos que o estimaram e partilham a dor de sua perda.